Odessa foi uma das cidades atacadas neste domingo, 3, na UcrâniaBULENT KILIC/AFP
Publicado 23/04/2022 13:28 | Atualizado 23/04/2022 15:40
Ao menos cinco pessoas foram mortas e 18 ficaram feridas em um ataque russo, neste sábado (23), à cidade portuária de Odessa, no sul da Ucrânia, anunciou o chefe do gabinete da presidência ucraniana, Andrii Yermak.

"Odessa: cinco ucranianos mortos e 18 feridos. E não são mais, pois não conseguimos encontrar" até agora, indicou, no Telegram, o funcionário.

"É provável que o balanço seja maior", acrescentou, precisando que entre as vítimas mortais havia "um bebê de três meses".
Evacuação de civis 
A Ucrânia tentará fazer, neste sábado, 23, uma nova tentativa para retirar civis de Mariupol, cidade localizada no sudeste do país e, em grande parte, controlada pelo Exército russo, enquanto os pedidos de trégua por ocasião da Páscoa ortodoxa parecem terem sido ignorados.

"Hoje, voltamos a tentar retirar mulheres, crianças e idosos", informou a vice-primeira-ministra ucraniana, Iryna Verechtchouk, em sua conta no Facebook, acrescentando que os civis começaram a se reunir perto de um shopping da cidade.

Esta nova tentativa de esvaziar Mariupol se dá um dia depois de um oficial militar russo de alta patente ter anunciado que "a segunda fase da operação especial" - expressão usada por Moscou para classificar sua invasão da Ucrânia - está apenas começando.

A Rússia agora prioriza "estabelecer um controle total sobre o Donbass e o sul da Ucrânia", disse ontem o vice-comandante das Forças do Distrito Militar do centro da Rússia, Rustam Minnekayev.

Desta forma, acrescentou, será estabelecido "um corredor terrestre" entre os territórios separatistas pró-russos de Donetsk e Lugansk, na região oriental do Donbass, com a península da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014.

A conquista do sul da Ucrânia também permitirá ajudar os separatistas da região moldava da Transnístria, "onde também observamos casos de opressão da população de língua russa", completou o militar, cuja declaração levantou preocupações na Moldávia.

Nos últimos dias, a Ucrânia recebeu ajuda militar substancial de países ocidentais e mantém que pode repelir o avanço russo. Ao mesmo tempo, reivindica uma trégua durante a Páscoa ortodoxa, pedido rejeitado por Moscou, segundo o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.

Em seu discurso habitual de sexta-feira à noite, Zelensky disse que os comentários do general russo são uma articulação clara dos objetivos de Moscou.

"Isso apenas confirma o que eu já disse em várias ocasiões: a invasão russa da Ucrânia é apenas um começo", advertiu.

Corredores humanitários
O secretário-geral da ONU, António Guterres, e o papa Francisco pediram o cessar das hostilidades para a Páscoa ortodoxa, após quase dois meses de um conflito que deixou mais de cinco milhões de exilados e sete milhões de deslocados internos. É o maior êxodo na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.

Este pedido de trégua também foi feito pela Igreja Ortodoxa Ucraniana, que é subordinada ao patriarcado de Moscou, mas se distanciou dele pela guerra. Seu líder, o primaz Onufriy, ofereceu-se para "organizar uma procissão", de modo a "fornecer ajuda emergencial e retirar os civis".

Na mesma linha, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, solicitou na sexta-feira (22), em uma telefonema com o presidente russo, Vladimir Putin, corredores humanitários em Mariupol. A cidade está há quase dois meses sitiada.

O Kremlin responsabilizou Kiev, por não permitir a rendição dos últimos soldados ucranianos entrincheirados no complexo industrial Azovstal nesta cidade, ainda cercada por tropas russas.

"As vidas de todos os militares ucranianos, combatentes nacionalistas e mercenários estrangeiros serão preservadas se depuserem as armas (...) Mas o regime de Kiev não autoriza esta possibilidade", disse Putin, em um comunicado do Kremlin.

A Ucrânia afirma que centenas de seus soldados, assim como civis, estão entrincheirados na fábrica. Kiev já pediu, repetidamente, um cessar-fogo para permitir a retirada de mulheres, crianças e idosos.

O Ministério russo da Defesa anunciou que está disposto a fazer uma pausa humanitária, se as tropas de Kiev se renderem.

Para o governador da região de Donetsk, Pavlo Kirilenko, "o sucesso da ofensiva russa no sul depende do destino de Mariupol".

'Crimes de guerra'
Na sexta-feira, a empresa americana de imagens de satélite Maxar Technologies divulgou fotos que, segundo ela, mostram duas grandes fossas nas cidades de Manhush e Vynohradne.

Essas revelações ocorreram em um dia em que a ONU, cujo secretário-geral viajará para Moscou e Kiev na próxima semana, alertou sobre possíveis "crimes de guerra" russos na Ucrânia.

Na madrugada deste sábado, os canais de informação ucranianos não noticiaram a ativação de qualquer alerta de bombardeio em todo país, algo incomum neste conflito. Apesar disso, não observou uma queda considerável no número de ataques reivindicados pelo Exército russo. Em Kharkiv (leste), por exemplo, os habitantes relataram terem vivido mais uma noite de terror.

"Não conseguimos dormir. Passamos a noite inteira em um corredor", contou Yelena, uma mãe de família, à AFP.

Com ou sem trégua, o conflito se anuncia como longo. O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, considerou "realista" estimar que esta guerra vá durar até o fim de 2023. E os Estados Unidos convidaram 40 países para uma reunião na Alemanha, na próxima terça-feira (26), para discutir as necessidades de segurança de longo prazo da Ucrânia.
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