Destruição causada por bombas e mísseis russos em MariupolALEXANDER NEMENOV / AFP
Publicado 08/05/2022 08:33
Os últimos combatentes entrincheirados em Mariupol temem um ataque final neste domingo (8), véspera da comemoração em Moscou da vitória contra a Alemanha nazista, enquanto os ataques russos se intensificam no leste da Ucrânia com sessenta pessoas desaparecidas no bombardeio de uma escola.

Essas pessoas se refugiavam na região de Lugansk, no leste da Ucrânia, informou o governador regional, Sergei Gaïdaï.

O vilarejo de "Bilogorivka sofreu um ataque aéreo. As bombas atingiram a escola e, infelizmente, foi completamente destruída", disse o governador em sua conta no Telegram.

"Havia um total de 90 pessoas. 27 foram salvas (...) Sessenta pessoas que estavam na escola provavelmente estão mortas", apontou.

"O inimigo não cessa as operações ofensivas na zona operacional do leste para estabelecer o controle total sobre o território das regiões de Donetsk, Lugansk e Kherson, e para manter o corredor terrestre entre esses territórios e a Crimeia ocupada" desde 2014, informou o Estado-Maior ucraniano esta manhã.

A mesma fonte afirmou que na região de Donetsk, as tropas russas continuam suas operações ofensivas em torno de Lyman, Popasnyansky, Severodonetsk e Avdiivka. E que a situação está "tensa" do lado da Moldávia.

Zelensky no G7 
Do lado russo, o ministério da Defesa reivindicou a destruição do "posto de comando de uma brigada mecanizada" na região de Kharkiv (leste), bem como "do centro de comunicação do aeródromo militar de Chervonoglinskoy, perto da aldeia de Artsyz".

Além disso, a defesa aérea destruiu "mais dois bombardeiros Su-24 ucranianos e um helicóptero Mi-24 da Força Aérea ucraniana sobre a Ilha da Cobra, e um veículo aéreo não tripulado Bayraktar-TB2 foi abatido perto da cidade de Odessa", segundo a mesma fonte.

As autoridades ucranianas vêm alertando há vários dias sobre uma possível intensificação dos ataques russos à medida que a comemoração de 9 de maio se aproxima.

Por sua vez, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, deve participar de uma reunião virtual dos líderes do G7 neste domingo. Esta terceira reunião desde o início do ano será dedicada à situação na Ucrânia.

O presidente dos EUA, Joe Biden, havia mencionado essa reunião alguns dias antes, bem como sobre possíveis sanções adicionais contra a Rússia.

"Estamos sempre abertos a sanções adicionais", disse ele na quarta-feira, acrescentando que discutirá com os membros do G7 "o que faremos e o que não faremos".

Civis retirados 
Em Mariupol, depois de muitos apelos e tentativas nas últimas semanas, "retiramos os civis de Azovstal", lançou o presidente Zelensky na noite de sábado, citando 300 pessoas exfiltradas.

"Estamos agora preparando a segunda fase (...): os feridos e o pessoal médico".

Moscou anunciou na quarta-feira um cessar-fogo unilateral de três dias a partir da quinta para permitir a saída de civis em Azovstal. Mas as autoridades ucranianas denunciaram que os russos continuaram atacando a siderúrgica durante este período.

"A ordem do presidente (ucraniano) foi cumprida: todas as mulheres, crianças e idosos foram retirados de Azovstal", anunciou a vice-primeira-ministra ucraniana, Iryna Vereshchuk, no sábado.

Segundo Kiev, essas operações permitiram que um total de quase 500 pessoas fugissem em uma semana, sob mediação da ONU e do Comitê Internacional da Cruz Vermelha.

E, "claro, também estamos trabalhando para evacuar nossos soldados. Todos os heróis que defendem Mariupol", continuou o presidente, sem dar um número. "É extremamente difícil. Mas é muito importante."

A Ucrânia pediu aos Médicos Sem Fronteiras (MSF) na noite de sábado para organizar uma missão para evacuar e tratar os soldados entrincheirados na siderúrgica.

"Até o fim" 
Segundo Yevgenia Tytarenko, enfermeira militar, cujo marido, médico e membro do regimento Azov, e seus colegas ainda ocupam a fábrica, "muitos soldados estão em estado grave. Estão feridos e não têm remédios".

"Vou lutar até o fim", escreveu seu marido Mykhaïlo, em um SMS que a AFP visualizou. Eles se casaram dois dias antes da invasão russa.

“Nossas unidades na área da usina de Azovstal continuam bloqueadas”, observou o Estado-Maior ucraniano, referindo-se às “operações de assalto russas” com “o apoio da artilharia e do fogo de tanques”.

Mariupol, uma cidade portuária no sudeste que tinha quase 500.000 habitantes antes da guerra, foi quase completamente apagada do mapa por dois meses de bombardeios russos.

O presidente russo, Vladimir Putin, garantiu neste domingo que "como em 1945, a vitória será nossa", multiplicando as comparações entre a Segunda Guerra Mundial e o conflito na Ucrânia.

Putin, que pensa que não pode "se permitir perder" na Ucrânia, está "convencido de que redobrar seus esforços lhe permitirá progredir", estimou no sábado Bill Burns, diretor da agência de inteligência americana CIA.

Não há, no entanto, "evidências concretas" de que a Rússia, que colocou suas forças de dissuasão em alerta máximo logo após o início de sua intervenção militar, "se prepara para um desdobramento ou mesmo uso potencial de armas nucleares táticas" neste conflito, destacou.

Contra-ofensiva
Os russos obtiveram entre sexta e sábado ganhos territoriais limitados em torno de Severodonetsk, uma das principais localidades do Donbass ainda nas mãos dos ucranianos, mas que não deve levar a um cerco completo, observou no sábado o Instituto Americano de Estudos de Guerra (ISW).

Até agora, a Rússia só conseguiu reivindicar o controle total de uma grande cidade, Kherson.

Em Kharkiv, a contra-ofensiva ucraniana para colocar a segunda maior cidade da Ucrânia fora do alcance da artilharia inimiga ganhou força, com a captura de várias posições russas, novamente de acordo com o ISW.

“As forças ucranianas estão recuperando terreno ao longo de um amplo arco em torno de Kharkiv e já não se concentram num impulso limitado, demonstrando uma capacidade de lançar operações ofensivas em maior escala”, explicou o instituto.

Tanto que o exército russo teve que explodir três pontes rodoviárias "para desacelerar a contra-ofensiva" nesta região, segundo o ministério da Defesa ucraniano.

A Marinha ucraniana, por sua vez, alegou ter destruído a cem quilômetros de Odessa, não muito longe da Ilha da Cobra, o navio de desembarque russo Serna usando um drone de combate desenvolvido na Turquia. Informação não confirmada pela Rússia, que declarou, por outro lado, ter afundado "o barco de assalto ucraniano 'Stanislav'".
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