Publicado 11/06/2022 14:46
Bruxelas - A Comissão Europeia anunciará na próxima semana se considera viável a candidatura da Ucrânia à União Europeia (UE), afirmou neste sábado a presidente do Executivo do bloco durante uma visita surpresa a Kiev, em plena ofensiva militar russa no leste.
"As conversas que tivemos hoje nos permitirão ter nossa avaliação até o final da próxima semana", disse a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, em uma entrevista coletiva ao lado do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.
O governo da Ucrânia pressiona por um "compromisso jurídico" concreto da UE de examinar sua candidatura, como forma de reduzir a vulnerabilidade geopolítica do país, invadido em 24 de fevereiro pela Rússia. Existe a expectativa de que a candidatura da Ucrânia receba uma luz verde na próxima reunião de cúpula do bloco, em 23 e 24 de junho.
Vários altos funcionários e líderes dos 27 alertaram que, mesmo que a Ucrânia obtenha o status de país candidato, um processo de admissão pode levar anos ou até décadas.
Von der Leyen destacou que a ex-república soviética registrou "avanços no fortalecimento do Estado de Direito, mas ainda é necessário implementar reformas para lutar contra a corrupção, por exemplo". Zelensky respondeu que o destino da UE está em grande parte em jogo na Ucrânia.
"A Rússia quer destruir a unidade europeia, quer dividir a Europa e enfraquecê-la. Toda a Europa é um alvo da Rússia. A Ucrânia é apenas o primeiro passo desta agressão", declarou.
A visita de Von der Leyen - a segunda desde o início da guerra - coincide com a intensificação dos combates na região do Donbass (leste), já parcialmente controlada por separatistas pró-Rússia desde 2014.
O gabinete de Zelensky citou neste sábado bombardeios noturnos dos "ocupantes" na região de Kharkiv, assim como em Lugansk e Donetsk, que formam o Donbass. A tomada de Severodonetsk abriria caminho de Moscou para outra grande cidade, Kramatorsk, uma etapa importante para conquistar a totalidade da bacia.
De acordo com o Estado-Maior ucraniano, 14 ataques foram repelidos em Donetsk e Lugansk em 24 horas, mas as tropas russas conseguiram um "êxito parcial" perto da localidade de Orikhovo.
Em Lysychansk, os moradores enfrentam um dilema: ficar e suportar os bombardeios ou fugir e abandonar suas casas. "A Rússia quer devastar cada cidade do Donbass, cada uma delas, sem exagero", declarou Zelensky.
"As tropas ucranianas estão fazendo de tudo para frear a ofensiva dos ocupantes, com armas pesadas e a artilharia que a Ucrânia possui, com tudo o que pedimos e continuamos pedindo aos nossos aliados", acrescentou.
No sul do país, as autoridades locais entregaram neste sábado os primeiros passaportes russos a 23 moradores de Kherson, cidade ocupada pelas tropas de Moscou, em um "procedimento simplificado" baseado em um decreto assinado no fim de maio pelo presidente russo Vladimir Putin.
Estados Unidos e UE deram forte apoio à Ucrânia, fornecendo armas e apoiando sua economia, além da aplicação de duras sanções contra a Rússia. A Ucrânia pressiona para obter armas de longo alcance e um embargo às importações de combustíveis russos, dos quais muitos países europeus dependem atualmente.
A Ucrânia também viu a chegada de milhares de combatentes voluntários estrangeiros, que se uniram à guerra contra a Rússia. Três deles, dois britânicos e um marroquino, foram condenados à morte na quinta-feira pelas autoridades pró-Rússia no Donbass.
As consequências do conflito afetam o mundo, especialmente o mercado de alimentos devido ao papel importante de Ucrânia e Rússia como exportadores de trigo.
As saídas marítimas da Ucrânia estão bloqueadas de fato, o que impede a exportação de milhões de toneladas de trigo. Antes da invasão russa, a Ucrânia era o maior produtor mundial de óleo de girassol e um dos principais exportadores de trigo, mas agora milhões de toneladas de cereais estão bloqueadas.
Em um vídeo exibido no Diálogo de Shangri-La, um fórum de segurança que acontece em Singapura, Zelensky alertou que, se a Ucrânia não retomar as exportações, "o mundo enfrentará uma grave crise alimentar, incluindo fome", em vários países da Ásia e da África. A ONU e vários países tentam abrir um corredor marítimo para permitir as exportações.
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