Aos 85 anos, o Papa Francisco tem recebido infiltrações para aliviar as fortes dores no joelho direito AFP
Publicado 20/06/2022 12:50
Vaticano — O frágil estado de saúde do Papa Francisco, que adiou uma viagem à África, alimenta os boatos sobre uma possível renúncia. Analistas, no entanto, alertam que tal cenário não deve ser considerado algo concreto. Desde o início de maio, o pontífice, de 85 anos, debilitado por fortes dores no joelho direito, tem utilizado uma cadeira de rodas e uma bengala.
A visita à República Democrática do Congo e ao Sudão do Sul, prevista para o início de julho, foi cancelada por tempo indeterminado. Desde então, muitos se perguntam se o Papa Francisco conseguirá cumprir a agenda da viagem ao Canadá, agendada para o fim de junho, depois de ter sido observado com expressões de dor durante algumas aparições públicas.
O Vaticano afirma que a viagem ao Canadá está mantida "até novo aviso". Francisco recebe regularmente injeções e passa por sessões de fisioterapia. A Santa Sé mantém a discrição sobre a saúde do líder da Igreja Católica.
O tratamento "segue seu curso e está dando resultados", afirmou uma fonte do Vaticano. As mudanças de última hora na agenda, no entanto, reacenderam as preocupações sobre a capacidade de Jorge Bergoglio para liderar a Igreja Católica e despertaram boatos sobre uma possível renúncia.
"Esta teoria retorna de maneira cíclica", afirma o vaticanista italiano Marco Politi, autor do livro "Francisco, a peste e o Renascimento". "Os rumores são alimentados pelos adversários do papa, que desejam apenas ver a saída de Francisco", disse.
Em 2014, o pontífice ajudou a alimentar a hipótese, ao considerar que Bento XVI "abriu uma porta" ao renunciar ao cargo. Alguns analistas reduzem as chances de uma renúncia. "No entorno do Papa, a maioria não acredita muito na possibilidade de uma renúncia", disse uma fonte do Vaticano à AFP.
"A partir do momento que começam a falar que o papa está muito doente, podem passar muitos anos: a doença de João Paulo II começou em 1993 e terminou em 2005", recorda Alberto Melloni, historiador do cristianismo e secretário da Fundação de Ciências Religiosas. "São coisas em que há vontade de entender, de especular, mas há pouco a dizer", acrescentou, antes de lamentar um "frenesi excessivo da mídia a respeito do papa e da Igreja".
O estado de saúde de Francisco já havia alimentado especulações quando ele passou por uma cirurgia no cólon em julho de 2021. O pontífice sofre de uma dor ciática crônica e teve que remover parte de um pulmão em sua juventude.
"Com João Paulo II, o progresso da doença era muito visível, perguntas foram feitas durante anos e também havia notícias falsas", recorda o padre Federico Lombardi, ex-diretor de imprensa da Santa Sé.
"Com Bento XVI foi mais a fragilidade da idade que progrediu e o levou à renúncia, de forma gradual", acrescenta, em referência ao papa emérito, que tem 95 anos e vive em um mosteiro do Vaticano.
Em setembro de 2021, Francisco — que continua recebendo líderes políticos e religiosos a cada manhã — ironizou os boatos. "Ainda estou vivo, embora alguns desejem minha morte", disse.
Alguns eventos servem para aumentar os boatos. O primeiro deles é o consistório de 27 de agosto que designará novos cardeais, incluindo os futuros eleitores em caso de conclave, um momento muito incomum para esta reunião.
Em seguida, o papa reunirá os cardeais do mundo em Roma e visitará o túmulo de Celestino V, o primeiro pontífice a renunciar no século XIII, em L'Aquila. A conjunção de fatores sem precedentes intriga a imprensa italiana e internacional e alguns consideram uma oportunidade para o pontífice anunciar sua decisão.
"Mas no momento temos que ser realistas e não alarmistas", disse Marco Politi. Para ele, o encontro pode ser apenas um "momento de discussão geral sobre a reforma da Cúria", o governo do Vaticano, oficializada pela entrada em vigor de uma nova "Constituição" no início de junho.
Outro tema central para Francisco é o Sínodo Mundial de Bispos, uma amplia consulta sobre a organização da Igreja que terminará em 2023. Este evento "é quase um miniconcílio: então parece difícil imaginar que o papa queira deixar este grande projeto que ele mesmo decidiu pela metade", opina Politi, que também aponta a dificuldade de ter três papas no Vaticano.
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