Investigação liderada por Comitê do Congresso americano expôs indícios da tentativa de golpe de Trump nas eleições de 2020AFP
Publicado 28/06/2022 19:48
Washington - Donald Trump, ex-presidente do Estados Unidos, tentou assumir o controle do volante de uma limusine conduzida pelo Serviço Secreto para juntar-se aos apoiadores que marchavam rumo ao Congresso no dia do ataque de 6 de janeiro de 2021, segundo testemunho de uma ex-assessora da Casa Branca, nesta terça-feira, 28.
Cassidy Hutchinson, assistente-executiva do chefe de gabinete de Trump, Mark Meadows, revelou ao Comitê parlamentar que investiga a invasão do Capitólio que, no fatídico dia, Trump entrou no automóvel presidencial após discursar para seus apoiadores durante um comício perto da Casa Branca.
"Eu sou o maldito presidente, me leve até o Capitólio agora", ordenou Trump, segundo Hutchinson, que ficou sabendo da história por outro funcionário da Casa Branca. O advogado da Casa Branca, Pat Cipollone, havia expressado preocupações legais com a possibilidade de Trump marchar para o Capitólio junto com seus apoiadores, disse Hutchinson.
"Seremos acusados de todos os crimes imagináveis se deixarmos isso acontecer", teria dito Cipollone, segundo a ex-assistente-executiva.
Hutchinson, que tinha acesso privilegiado a Trump e ao funcionamento interno da Ala-Oeste da Casa Branca, testemunhou na sexta audiência de junho do comitê da Câmara dos Representantes que investiga o ataque de apoiadores do então presidente ao Capitólio, com o objetivo de impedir a certificação da vitória eleitoral de Joe Biden.
Em um dos depoimentos mais explosivos das audiências até agora, Hutchinson disse que Trump e alguns de seus principais tenentes estavam cientes da possibilidade de violência antes da tomada do Capitólio, contradizendo as alegações de que o ataque foi espontâneo e não teve nada a ver com a administração do magnata republicano.
Hutchinson disse que se lembrava de Meadows dizendo quatro dias antes da insurreição: "As coisas podem piorar muito em 6 de janeiro".
Ela acrescentou que conversou com Meadows após uma reunião na Casa Branca que contou com a participação do advogado pessoal de Trump, Rudy Giuliani. Hutchinson testemunhou que, depois dessa reunião, acompanhou Giuliani até o carro e o advogado perguntou se ela estava "animada" com o dia 6 de janeiro. Quando ela perguntou o que aconteceria naquele dia, Giuliani "falou: 'Vamos ao Capitólio'", afirmou.
Ela acrescentou que Giuliani garantiu: "'Vai ser ótimo. O presidente estará lá. Ele parecerá poderoso. Ele estará com os membros (do Congresso). Ele estará com os senadores. Fale com seu chefe sobre isso. Ele sabe disso".
Hutchinson afirmou que mais tarde contou a Meadows o que Giuliani havia dito. "(Meadows) não levantou os olhos do telefone e disse algo como 'Há muita coisa acontecendo, Cass, mas eu não sei. As coisas podem piorar muito em 6 de janeiro'", segundo testemunhou Hutchinson na audiência.
"Quando ouvi a opinião de Rudy em 6 de janeiro e depois a resposta de Mark, esse foi o primeiro momento em que me lembro de sentir medo e nervosismo sobre o que poderia acontecer", acrescentou.
Hutchinson disse ao comitê que ouviu os nomes dos grupos de extrema direita "Oath Keepers" e "Proud Boys" mencionados na Casa Branca naqueles dias. Meadows e Trump estavam cientes da possibilidade de violência e que os apoiadores do presidente estavam armados quando se reuniram no The Ellipse, a área perto da Casa Branca onde ocorreu o comício de Trump antes do golpe, disse Hutchinson.
Quando Meadows foi informado da violência no Capitólio, "quase não teve reação", segundo Hutchinson. A vice-presidente do comitê de investigação, a republicana Liz Cheney, disse que o painel obteve relatórios da polícia de que pessoas no comício de Trump tinham facas, Tasers, spray de pimenta e objetos contundentes que poderiam ser usados como armas.
Vídeos policiais reproduzidos na audiência mostraram que outras pessoas foram ao comício com armas de fogo, incluindo rifles semiautomáticos AR-15. Hutchinson esteve em contato com funcionários no estado da Geórgia, onde Trump fez pressão para que "fossem encontrados" votos suficientes para superar a margem de vitória de Joe Biden em uma conversa telefônica que é atualmente objeto de investigação criminal.
Segundo a emissora CNN, foi Hutchinson quem disse à comissão de inquérito que Trump manifestou aprovação aos cânticos de "enforquem Mike Pence" entoados pelos amotinados do Capitólio, entre outras afirmações surpreendentes que vieram à tona na audiência de abertura em 9 de junho.
O próprio Meadows se recusou a testemunhar perante o comitê desde que entregou milhares de mensagens de texto e outros documentos nos estágios iniciais da investigação. A Câmara dos Representantes acusou Meadows de desacato em dezembro, mas o Departamento de Justiça decidiu não apresentar queixa contra ele.
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