A União Européia já proibiu os vistos para determinados cidadãos vinculados ao governo russo, mas a emissão de vistos de turista não foi suspensaReprodução/AFP
Publicado 29/08/2022 08:39
Os ministros europeus das Relações Exteriores vão iniciar, nesta terça-feira, 30, uma discussão sobre o pedido apresentado pela Ucrânia para que a União Europeia proíba a entrada de turistas russos, uma iniciativa que gera fortes divisões. O debate será realizado em Praga, capital da República Tcheca.
Os países bálticos, Polônia e Finlândia defendem uma posição comum do bloco europeu sobre a proposta, que será o ponto central da agenda da reunião.
A medida não tem precedentes na União Europeia (UE), mas alguns países vizinhos da Rússia adotaram iniciativas unilaterais para limitar os vistos a cidadãos russos.
Como parte das sanções pela guerra na Ucrânia, a UE já proibiu os vistos para determinados cidadãos vinculados ao governo russo, mas a emissão de vistos de turista não foi suspensa.
A ideia foi apresentada pelo presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, que pediu aos países ocidentais o fechamento de suas fronteiras a todos os cidadãos russos, incluindo os turistas, alegando que deveriam "viver em seu próprio mundo até que mudem de filosofia".
O chanceler ucraniano, Dmytro Kuleba, disse que os russos "apoiam em grande maioria a guerra, aplaudem os ataques com mísseis em cidades ucranianas e (o) assassinato de ucranianos. Deixemos que os turistas russos aproveitem a Rússia então". O governo da Rússia reagiu com indignação e chamou a ideia de "irracional", além de prometer represálias.
A Finlândia, país que tem a maior fronteira da Europa com a Rússia, reduzirá a partir de quinta-feira (1) o número de pedidos de vistos de turista para cidadãos russos, com apenas 10% das mil solicitações diárias em média.
A lei finlandesa não permite uma proibição total da concessão de vistos com base na nacionalidade do solicitante. A medida decidida pela Finlândia, no entanto, terá um impacto: como as sanções da UE fecharam o espaço aéreo aos voos procedentes da Rússia, muitos cidadãos deste país utilizam rodovias através da Finlândia para chegar a outros países europeus.
Letônia, Lituânia e Polônia interromperam a emissão de novos vistos de turista para cidadãos russos quando as forças do Kremlin invadiram a Ucrânia, no fim de fevereiro. 
Os turistas russos utilizam os vistos para o espaço Schengen, normalmente válidos em 26 países da UE e em Estados associados como Suíça e Noruega. Estes vistos geralmente permitem estadias de até 90 dias em um período renovável de 180 dias.
Estes 26 países receberam quase três milhões de solicitações de visto para o espaço Schengen no ano passado. E os russos representaram o grupo mais numeroso, com 536.000 demandas.
As sanções da UE exigem a unanimidade dos 27 Estados membros, mas a Hungria, país que mantém laços amistosos com a Rússia, poderia vetar uma proibição de vistos em todo o bloco.
Além disso, alguns países da UE - como França, Alemanha e Portugal - insistem que é necessário continuar permitindo a entrada de jornalistas russos e outros civis que temem ser perseguidos.
O chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, já declarou que proibir a entrada de todos os russos na Europa "não é uma boa ideia".
A Lituânia sugeriu que, se uma proibição em toda a UE não for aprovada, seria possível buscar uma "solução regional", possivelmente incluindo Letônia, Estônia, Finlândia e Polônia, para vetar a presença de turistas russos. 
Marie Dumoulin, analista do grupo de especialistas do Conselho Europeu de Relações Exteriores, afirma que o pedido de proibição de russos na Europa constitui um perigoso erro de análise. "Menos de 30% dos russos têm passaporte. E seus principais destinos de viagens são Turquia, Egito e Emirados Árabes Unidos", disse.
De acordo com Dumoulin, uma proibição a tais vistos "terá exatamente o efeito contrário ao procurado: ao estigmatizar todos os russos, estamos alimentando a propaganda do Kremlin que há vários anos, e em particular desde o início da ofensiva na Ucrânia, denuncia a suposta russofobia dos ocidentais".
Cyrille Bret, do Instituto Jacques Delors, afirma que seria "uma contradição para a UE. Esta medida é contrária à liberdade de circulação e à política de sanções adotada até agora, que afirma que não é contra o povo russo, e sim contra o regime".
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