Corpos retirados das sepulturas foram encontrados com cordas em volta do pescoço e nas mãosAFP
Publicado 16/09/2022 12:49 | Atualizado 16/09/2022 13:45
Izium - Após a reconquista da estratégica de Izium, o governo ucraniano confirmou nesta sexta-feira, 16, que a maioria das mais de 400 pessoas enterradas numa vala comum descoberta na floresta da cidade é civil, e não militares envolvidos na guerra contra contra a Rússia. Os corpos, na sua maioria, estavam com o pescoço envolto em cordas e as mãos amarradas. No último domingo, o conflito completou 200 dias. A invasão russa ao território ucraniano, iniciado em fevereiro, deixou um rastro de destruição em diversas cidades e vilarejos e milhares de mortos. As negociações pelo cessar-fogo ou fim da guerra não avançaram.

Nesta quinta-feira, a vala foi descoberta durante o processo de reconquista da cidade que fica ao leste do país. Policiais, militares e desativadores de minas ucranianos participaram do mutirão para operação tentará identificar as vítimas. Na estrada principal de Izium a Kharkiv, no nordeste da Ucrânia, uma pequena trilha de terra leva a uma floresta de pinheiros com solo arenoso.
À direita da trilha, 100 metros dentro da floresta, dois homens de túnica branca cavam delicadamente a areia no fundo de uma sepultura com uma cruz e a inscrição: "exército ucraniano 17 pessoas. Izium, do necrotério ", segundo jornalistas da AFP.
Depois, encontram um primeiro cadáver que exumam e colocam em um saco plástico branco. Outros corpos aparecem depois, espalhando um forte cheiro de putrefação. Ao redor da sepultura, há centenas de sepulturas com cruzes enumeradas, algumas delas com nomes e datas.
As datas, sem dúvida da morte das pessoas enterradas, vão desde o início de março, quando a cidade ainda estava sob controle ucraniano, até o início de setembro. A maioria das cruzes sem nome é feita de madeira bruta, e aquelas com nomes são feitas de madeira envernizada ou pintada, às vezes adornada com flores. Numa delas, foi colocado um pequeno copo em homenagem ao falecido, provavelmente identificado pela família.
Segundo Oleg Kotenko, funcionário do governo responsável pela busca de desaparecidos, "há uma família enterrada lá, com uma criança. Eles foram mortos, há testemunhas no mesmo prédio, viram o que aconteceu e enterraram as pessoas aqui".
Pelo menos um corpo com as mãos amarradas com uma corda foi exumado esta sexta-feira, apurou um jornalista da AFP. No momento não foi possível apurar se é um civil ou um militar, porque o corpo está muito deteriorado, segundo o jornalista. Segundo Kotenko, "os túmulos sem nome são de pessoas (encontradas) na rua".
No total, segundo ele, a floresta abriga mais de 440 sepulturas, cavadas durante os combates na tomada da cidade pelas forças russas em março e durante a ocupação russa, que terminou na madrugada de sábado para domingo passado.
Ao redor das sepulturas, várias equipes de desminagem buscam, por meio de detectores de metais portáteis, eventuais minas ou artefatos explosivos, não muito longe do cemitério mais antigo.
Também são visíveis trincheiras e posições para os tanques, cavados na areia da floresta, que sem dúvida deve ter sido ocupada por soldados de ambos os lados durante os combates.
É no fundo de uma dessas posições destinadas aos tanques, um buraco de quatro metros por sete, onde estão a vala comum e seus soldados enterrados.
"Achamos que há 16 ou 17 corpos. Vamos exumar agora para uma autópsia em Kharkiv, onde serão feitos testes de DNA", diz Kolenko.
Segundo ele, esta descoberta foi feita graças a um vídeo publicado nas redes sociais e que a AFP teve acesso. Um homem, carregando uma bandeira russa, diz no vídeo: "Devemos levar os corpos dos soldados ucranianos para o necrotério e enterrá-los, já que a Ucrânia não os quer".
"As negociações com as autoridades ucranianas não funcionaram, elas se recusaram a levar os corpos, por isso os enterramos no cemitério da cidade", acrescenta o homem no vídeo.
Outro vídeo mostra corpos de soldados, embrulhados em sacos de cadáveres e levados do necrotério.
 
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