Publicado 24/09/2022 21:05
Novos protestos pela morte de uma jovem detida pela polícia da moral eclodiram neste sábado (24) no Irã, apesar da repressão sangrenta das forças de segurança, que deixou 41 mortos, segundo dados oficiais.
O principal partido reformista do Irã pediu neste sábado (24) ao Estado que ponha fim à obrigação de as mulheres usarem véu em público. O uso do lenço islâmico foi o que levou à prisão da jovem Mahsa Amini, 22 anos.
Centenas de manifestantes foram presos, juntamente com ativistas reformistas e 17 jornalistas, segundo o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), entre eles Niloufar Hamedi, do jornal reformista "Shargh", que noticiou a morte de Mahsa.
A TV estatal anunciou que o número de mortos era de 41. Também exibiu imagens de manifestantes nas ruas do norte e oeste de Teerã, a capital do país, bem como em "algumas províncias", informando que os mesmos haviam incendiado propriedades públicas e privadas.
O grupo Iran Human Rights estimou o número de mortos em 54, excluindo funcionários da segurança, e afirmou que, em muitos casos, as autoridades condicionaram a devolução dos corpos dos mortos às suas famílias a concordarem com enterros secretos. A ONG, com sede em Oslo, indicou que a maioria das mortes ocorreu nas províncias de Guilan e Mazandaran.
O webmonitor NetBlocks informou que o Skype está restrito no país, como parte do apagão nas comunicações que afeta outras plataformas e redes sociais, como Instagram, WhatsApp e LinkedIn.
Bases de milícias atacadas
Autoridades reportaram ondas de prisões: o chefe de polícia da província de Guilan anunciou "a detenção de 739 manifestantes, incluindo 60 mulheres", somente naquela província.
Os protestos eclodiram novamente na noite deste sábado na capital da província, Rasht, bem como em várias partes de Teerã, segundo vídeos publicados nas redes sociais. A polícia de choque foi mobilizada em grande número no norte de Teerã após o anoitecer, informaram testemunhas à AFP.
Segundo a ONG curda de defesa dos direitos humanos Hengaw, com sede na Noruega, os manifestantes "tomaram o controle" de partes da cidade de Oshnavih, na província do Azerbaijão Ocidental.
O Poder Judiciário do Irã admitiu que os manifestantes haviam atacado três bases da Basij", milícia islâmica que trabalha sob ordens do Estado, em Oshnaviyeh, mas negou que as forças de segurança tenham perdido o controle da cidade.
O ultraconservador Ebrahim Raisi, presidente do Irã, afirmou que tinha que lidar "com decisão" com aqueles que estavam por trás da violência. O comentário foi feito pouco depois de a Anistia Internacional alertar para "o risco de um derramamento de sangue ainda maior", facilitado por um "apagão deliberado da internet" por parte das autoridades, em uma tentativa de dificultar as manifestações e evitar que as imagens da repressão cheguem ao exterior.
A ONG, com sede em Londres, afirmou que provas colhidas em 20 cidades do Irã apontam para "um padrão terrível das forças de segurança iranianas, que atiram deliberada e ilegalmente com munição real contra os manifestantes".
Na Europa, centenas de pessoas se manifestaram hoje em Paris, Atenas, Madri e outras cidades para denunciar as ações das autoridades iranianas contra os protestos.
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