Protestos acontecem no Irã desde o dia 16 de setembroStefani Reynolds / AFP
Publicado 15/10/2022 21:04
Um incêndio começou na noite deste sábado (15) na prisão de Evin, em Teerã, capital do Irã, no final de um novo dia de manifestações contra o poder e um mês após o início do movimento de protesto desencadeado pela morte da jovem Mahsa Amini.
"Desordens e confrontos foram observados na noite deste sábado" na prisão, disse um alto funcionário da segurança, segundo a agência oficial Irna, acrescentando que "baderneiros" iniciaram um incêndio.
Mas "no momento, a situação está completamente sob controle e a calma voltou à prisão", afirmou.
Um bombeiro no local disse à Irna que "oito pessoas ficaram feridas" e que não houve mortes.
Pouco antes, a ONG Iran Human Rights (IHR), com sede em Oslo, havia compartilhado nas redes sociais imagens de um grande incêndio naquela prisão onde há prisioneiros de consciência.
Tiros e gritos de "morte ao ditador" podem ser ouvidos nas imagens, um slogan repetido em alusão ao líder supremo do Irã, Ali Khamenei, durante as manifestações pela morte de Mahsa Amini.
Esta mulher curda iraniana de 22 anos morreu em 16 de setembro, enquanto estava sob custódia da polícia da moral em Teerã por supostamente violar o rígido código de vestimenta para mulheres na República Islâmica, que prevê especificamente o uso obrigatório de véus.
A indignação causada por sua morte desencadeou a maior onda de manifestações e violência no Irã desde os protestos de 2019 contra o aumento dos preços da gasolina neste país petrolífero.
Os protestos se espalham apesar da interrupção do acesso às redes sociais mais populares e são liderados por mulheres jovens, que queimam seus véus e não hesitam em enfrentar a polícia.
"Os mulás devem ir embora!", gritou um grupo de alunas sem véu, neste sábado, na Escola técnica e profissional Shariati, de Teerã, segundo outro vídeo on-line.
Em Al Hamedan, ao oeste da capital, os manifestantes lançaram projéteis contra as forças de segurança perto de uma importante rotunda, conforme imagens verificadas pela AFP.
Também houve marchas em Ardabil, no noroeste do país, como pôde ser visto em vídeos postados no Twitter.
Comerciantes entraram em greve em Saqez, a cidade original de Amini, na província do Curdistão, e em Mahabad, também no noroeste, segundo a mídia social 1500tasvir, que cobre as manifestações.
"Estudantes da vila de Ney em Marivan, no oeste do país, atearam fogo na rua e gritaram cânticos antigovernamentais", informou o Hengaw, um grupo de defesa dos curdos iranianos com sede na Noruega.
Grupos de jovens também se manifestaram nas universidades de Teerã, Isfahan, no sul, e Kermanshah, no noroeste, segundo imagens compartilhadas na internet.
Os manifestantes responderam a uma convocação online sob o lema "O início do fim!" do regime.
Os ativistas pedem aos cidadãos que se manifestem em locais onde as forças de segurança não estejam presentes e cantem "Morte ao ditador".
Membros aposentados dos Guardiães da Revolução, o Exército ideológico da República Islâmica, também se reuniram hoje, informou o jornal reformista Shargh.
No encontro, um comandante dos Guardiães disse que três membros da milícia paramilitar Basij morreram, e 850 ficaram feridos, em Teerã, desde o início da "sedição", disse a agência de notícias oficial Irna.
Os protestos geraram manifestações de solidariedade em outros países.
Estados Unidos e União Europeia determinaram sanções contra funcionários iranianos envolvidos na repressão que deixou pelo menos 108 mortos, incluindo 23 menores com idades entre 11 e 17 anos, segundo a ONG Anistia Internacional.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse na sexta-feira que seu país está "com os cidadãos, com as bravas mulheres do Irã" e pediu às autoridades que "acabem com a violência contra seus próprios cidadãos".
O presidente iraniano, Ebrahim Raisi, acusou repetidamente os Estados Unidos, inimigo declarado de Teerã, de quererem desestabilizar seu país.
Antes que a UE imponha sanções a Teerã, o ministro iraniano das Relações Exteriores, Hossein Amir-Abdollahian, pediu ao bloco que adote uma "visão realista" das manifestações.
"Quem teria pensado que a morte de uma única menina significaria tanto para os ocidentais? O que eles fizeram com as centenas de milhares de mártires e mortes no Iraque, Afeganistão, Síria e Líbano?", questionou.
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