Publicado 06/11/2022 10:47 | Atualizado 06/11/2022 10:48
A conferência mundial do clima da ONU foi inaugurada, neste domingo (6), em Sharm El-Sheikh, no Egito, para tentar dar um novo fôlego à luta contra o aquecimento global e seus impactos, pelos quais os países emergentes e vulneráveis exigem compensação financeira, um assunto que estará na agenda de discussões.
"Vamos implementar (nossos compromissos) juntos, pela Humanidade e pelo nosso planeta", declarou o ministro das Relações Exteriores egípcio, Sameh Choukri, que preside a COP27, a delegados de todo o mundo.
"Devemos ser claros, por mais difícil que seja o momento atual. A inação equivale à miopia e não retarda a catástrofe climática", afirmou, por sua vez, o presidente da COP anterior em Glasgow, Alok Sharma.
Esta 27ª Conferência do Clima da ONU (COP27) reúne cerca de 200 países durante duas semanas num contexto de catástrofes climáticas: inundações históricas no Paquistão, ondas de calor na Europa, furacões, incêndios, secas... Desastres para os quais os países mais pobres, os mais afetados, reivindicam compensação financeira.
Esta delicada questão de "perdas e danos" foi oficialmente adicionada à agenda de discussões em Sharm El-Sheikh durante a cerimônia de abertura, enquanto até então era apenas objeto de um "diálogo", previsto para durar até 2024.
"Esta inclusão na agenda reflete um sentimento de solidariedade e empatia pelo sofrimento das vítimas de desastres induzidos pelo clima", ressaltou Sameh Choukri.
O chefe da ONU-Clima, Simon Stiell, considerou como "crucial" esta questão de perdas e danos.
Sucesso e Fracasso
"O sucesso ou o fracasso da COP27 será julgado de acordo com este mecanismo de financiamento de perdas e danos", alertou Munir Akram, embaixador do Paquistão na ONU e presidente do G77+China, que representa mais de 130 países emergentes e pobres.
A desconfiança dos países em desenvolvimento é forte, enquanto a promessa dos países ricos e desenvolvidos de aumentar para 100 bilhões de dólares por ano, a partir de 2020, sua ajuda aos países pobres para reduzir suas emissões e se preparar para os impactos ainda não é cumprida.
Acordo ou não sobre um mecanismo especial para financiar "perdas e danos" ou sobre um novo objetivo para os 100 bilhões a partir de 2025, as necessidades de financiamento são contabilizadas em "bilhões de bilhões", segundo Michai Robertson, negociador da Aliança de Pequenos Estados Insulares (Aosis).
Ele considera, porém, impossível sem o setor privado.
As negociações ocorrem num contexto de crise climática cada vez mais premente. A luta pelo clima é uma "questão de vida ou morte, pela nossa segurança hoje e pela nossa sobrevivência amanhã", insistiu perante a COP27 o chefe da ONU, António Guterres.
A conferência "deve estabelecer as bases para uma ação climática mais rápida e corajosa agora e nesta década que decidirá se a luta pelo clima será vencida ou perdida", alertou.
As emissões de gases de efeito estufa devem, de fato, cair 45% até 2030 para termos uma chance de limitar o aquecimento a 1,5°C em comparação com a era pré-industrial, o objetivo mais ambicioso do Acordo de Paris.
Mas os compromissos atuais dos Estados signatários, mesmo que fossem finalmente respeitados, levariam a um aumento de 5 a 10% nas emissões, colocando o mundo em uma trajetória aumento de pelo menos 2,4°C até o final do século.
Um resultado muito distante do objetivo principal do Acordo de Paris de menos de 2°C em relação à época em que os humanos começaram a queimar combustíveis fósseis (carvão, petróleo ou gás), os grandes responsáveis pelo aquecimento global em grande escala.
Com as políticas atuais, um catastrófico +2,8°C está se aproximando.
"Infelizmente não está à altura do desafio", criticou António Guterres, lamentando que o clima tenha sido relegado ao segundo plano pela pandemia de covid-19, a guerra na Ucrânia, as crises econômica, energética e alimentar.
Nesse contexto, apesar dos compromissos assumidos na COP26, menos de trinta países elevaram suas metas, e a ONU não vê "nenhuma maneira crível" de atingir a meta de 1,5°C.
Mais de 120 chefes de Estado e de Governo são esperados na segunda e terça-feira para uma cúpula que deve impulsionar essas duas semanas de negociações.
Sem o presidente chinês Xi Jinping ou o americano Joe Biden, que passará rapidamente pela COP em 11 de novembro. A cooperação entre os dois principais emissores de gases de efeito estufa do mundo, cujas relações são tensas, é, no entanto, crucial.
Xi e Biden podem, no entanto, se encontrar em Bali na semana seguinte à margem do G20.
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