Retirada das tropas russas de Kherson representa um sério revés para o KremlinAFP
Publicado 10/11/2022 18:15
A Ucrânia reivindicou nesta quinta-feira (10) a recuperação de várias cidades na região de Kherson, no sul do país, onde as tropas russas iniciaram uma retirada. Esta ação é considerada um novo revés para o presidente Vladimir Putin.
O comandante-chefe do exército ucraniano, Valery Zaluzhny, anunciou nesta quinta-feira ao meio-dia que suas tropas avançaram sete quilômetros no dia anterior e tomaram seis cidades na direção de Petropavlivka Novoraisk e outras seis localidades na direção de Pervomaiske-Kherson, o que representa um total de mais de 260 quilômetros quadrados.
Alguns minutos antes, o exército russo anunciou que começou a se deslocar na região de Kherson e moveu suas tropas da margem direita à esquerda do rio Dnieper. A retirada inclui a cidade de Kherson, a única capital regional tomada pela Rússia desde o início de sua ofensiva na Ucrânia no final de fevereiro.
Moscou pretende consolidar suas posições estabelecendo uma linha de defesa atrás do rio Dnieper, um obstáculo natural. A Ucrânia recebeu o anúncio de Moscou com ceticismo. O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, sugeriu que esta poderia ser uma manobra estratégica da Rússia.
"O inimigo não nos dá nenhum presente, não mostra nenhum 'gesto de boa vontade'", declarou Zelensky, afirmando que seu país reagirá com "extrema cautela".
"Não podemos confirmar nem desmentir a informação sobre uma suposta retirada das tropas russas de Kherson", disse à imprensa o general Oleksiy Gromov, representante do Estado-Maior ucraniano.
Desde setembro, as tropas russas enfrentam uma grande contraofensiva de Kiev na região. Kherson tem importância estratégica por fazer fronteira com a península da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014, e era até agora o maior troféu de campanha dos russos na ofensiva iniciada em 24 de fevereiro.
Em Mykolaiv, uma grande cidade do sul da Ucrânia, localizada cerca de 100 quilômetros ao noroeste de Kherson, os habitantes também expressam cautela.
"Não podemos confiar, ninguém vai nos devolver nada assim", disse Svitlana Kyrychenko, que trabalha como vendedora, à AFP.
"Por que eles se levantariam e marchariam agora, depois de terem defendido Kherson por oito meses com todas as suas forças?", perguntou Igor Kosorotov, um mecânico de 59 anos.
O Kremlin não comentou o assunto e cancelou a entrevista coletiva diária de seu porta-voz nesta quinta-feira.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, cujo envio de armas para a Ucrânia foi crucial, disse que a retirada da Rússia é prova de que Moscou tem "problemas reais" no campo de batalha. A retirada das forças russas de Kherson constitui "outra vitória" para a Ucrânia, concordou o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg. Se confirmada, a retirada seria um novo revés para Moscou, que já foi forçada a deixar a região de Kharkiv em setembro.
Se a Rússia perder Kherson, a Ucrânia recupera um importante ponto de acesso ao Mar de Azov e Vladimir Putin perde uma de suas maiores vitórias desde o início da ofensiva. A retirada também expõe o restante das tropas russas na região de Kherson e levanta questões sobre a capacidade de Moscou de controlar o território, que é uma das quatro áreas ucranianas que a Rússia anunciou ter anexado em setembro.
No Donbass, no leste da Ucrânia, a Rússia tenta há várias semanas conquistar Bakhmut, cidade que tinha 70 mil habitantes antes da invasão.
"Nos últimos três dias [a situação] se complicou", disse Vitaly, um soldado ucraniano de 26 anos, à AFP. "Os russos estão avançando cada vez mais, embora nossos homens permaneçam em suas posições", disse ele.
Na região vizinha de Lugansk, no entanto, as tropas de Kiev avançaram "até 2 quilômetros no último dia", disse o general Gromov, representante do Estado-Maior ucraniano.
Os êxitos de Kiev revivem as especulações sobre a retomada das negociações de paz. Alguns meios de comunicação até afirmam que o Ocidente está pressionando a Ucrânia para aceitá-los. Em um sinal de mudança de tom após uma visita a Kiev na sexta-feira pelo conselheiro presidencial americano Jake Sullivan, o presidente Zelensky listou na segunda-feira suas condições para retomar as negociações com Moscou, incluindo a retirada das tropas rusas do território ucraniano.
 
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