Publicado 17/11/2022 18:23 | Atualizado 17/11/2022 18:35
A Rússia lançou uma nova onda de ataques a várias cidades ucranianas nesta quinta-feira (17), incluindo a capital Kiev. As ofensivas coincidiram com a primeira nevasca no país, que sofre grandes interrupções de energia causadas pela ofensiva russa.
O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, denunciou "outro ataque terrorista russo".
"Dezenas de mísseis esta manhã. Os locais civis são o principal alvo. A Rússia está em guerra contra a eletricidade e calefação do povo, explodindo centrais elétricas e outras instalações energéticas", declarou Zelensky durante um fórum econômico.
A Rússia afirmou que o sofrimento dos civis na Ucrânia é "a consequência" da recusa de Kiev em negociar. A Ucrânia já foi atingida na terça-feira por uma série de ataques que deixaram cerca de 10 milhões de ucranianos sem eletricidade por várias horas, de acordo com as autoridades de Kiev.
Os ataques russos nesta quinta-feira deixaram pelo menos 14 feridos na cidade de Dnipro, no centro-leste, incluindo uma adolescente de 15 anos, informou o governador regional, Valentin Reznichenko, no Telegram. Na região de Kiev, a defesa ucraniana derrubou dois mísseis de cruzeiro, bem como drones russos kamikaze Shahed de fabricação iraniana, informou a administração militar da cidade.
Na região de Odessa (sul), os russos atacaram uma infraestrutura e três pessoas ficaram feridas, segundo a administração regional.
A Rússia também bombardeou a região de Kharkiv (nordeste), indicou o governador Oleg Synegubov, acrescentando que os ataques atingiram "infraestruturas críticas" e que pelo menos três pessoas ficaram feridas.
Os bombardeios dos últimos dias acontecem após as tropas russas se retirarem de Kherson devido a uma contraofensiva ucraniana. Dmytro Lubynets, responsável pelas questões de direitos humanos no Parlamento ucraniano, denunciou um nível "horrível" de tortura em Kherson durante os oito meses de ocupação russa.
"Dezenas de pessoas" sofreram "choques elétricos e golpes com tubos de metal. Os russos "quebraram os ossos" dos ucranianos e "registraram tudo", acusou Lubynets.
A operadora nacional de eletricidade, Ukrenergo, anunciou a extensão dos cortes de energia até quinta-feira devido ao "agravamento da situação". A empresa disse no Facebook que "uma onda de frio" causou aumento da demanda em regiões onde a energia havia sido restaurada recentemente.
Em Kiev, que experimentava sua primeira nevasca, muitos distritos ficaram sem eletricidade. Uma fina camada de neve cobria os carros estacionados nas ruas. O governador regional de Kiev, Oleksii Kuleba, alertou que a próxima semana será "difícil", com temperaturas que podem cair para "até -10°C".
Exportação de grãos
Na frente diplomática, o acordo que permite a exportação de grãos dos portos ucranianos foi prorrogado nesta quinta pelos quatro meses de inverno, diminuindo as preocupações sobre uma potencial crise alimentar global.
As negociações do acordo, que expiraria nesta sexta-feira à noite, se realizam com mediação da Turquia e da ONU. A Rússia se retirou brevemente do acordo no final de outubro, depois de denunciar o uso do corredor humanitário "para fins militares" pela Ucrânia.
A chamada Iniciativa dos Grãos do Mar Negro, que expiraria na noite de sexta-feira, permitiu que mais de 11 milhões de toneladas de grãos fossem retiradas dos portos ucranianos em quatro meses, após o bloqueio inicial dos portos ucranianos pelo Exército russo. Dois dias após a queda de um míssil na Polônia, perto da fronteira ucraniana, a polêmica continua.
Segundo a Polônia e a Otan, aquela explosão, que levantou temores de uma escalada no conflito, foi possivelmente causada por um míssil de defesa aérea ucraniano lançado para interceptar projéteis russos disparados contra infraestruturas civis.
"Não sabemos ao certo"
O presidente Zelensky declarou hoje "não saber o que aconteceu", depois de ter reiterado na véspera que o projétil era "russo".
"Não sabemos ao certo. O mundo não sabe. Mas tenho certeza de que foi um míssil russo, tenho certeza de que disparamos de sistemas de defesa aérea", declarou.
Um grupo de especialistas chegou à Polônia para participar de uma investigação sobre a origem do míssil, informou o chanceler ucraniano, Dmitro Kuleba.
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