Publicado 24/11/2022 19:57
Alguns nunca quiseram apoiá-lo, mas agora, até mesmo quem era leal se tornou detrator: nos Estados Unidos, uma parte crescente do Partido Republicano mostra abertamente sua aversão a Donald Trump, visto como responsável por seguidas derrotas eleitorais.
Os republicanos que inicialmente apoiaram Trump faziam vista grossa para seus excessos sempre que ele reduzia impostos, nomeava juízes conservadores e, o mais importante, ganhava eleições.
Contudo, com o desempenho abaixo das expectativas do "Grand Old Party" (GOP, nome oficial do Partido Republicano) nas eleições de meio de mandato - conhecidas como "midterms" - em 8 de novembro, os políticos republicanos que colocam a culpa em Trump são cada vez mais numerosos.
Os republicanos anti-Trump já se chamaram de "Trumpistas nunca" (Never Trumpers). Agora, o grupo mais novo e mais amplo adotou o nome "Trumpistas nunca mais" (Never Again Trumpers), e crescem as chances de que tenham uma influência considerável nos rumos do partido.
"Estou orgulhoso das conquistas: da reforma tributária, da desregulamentação e da reforma da Justiça", disse à emissora ABC Paul Ryan, o último presidente republicano da Câmara dos Representantes (2015-2019) e que deu nome ao novo movimento.
"Estou bastante entusiasmado com os juízes que temos não só na Suprema Corte, mas em todo o Poder Judiciário. Mas estou entre os que dizem 'Trump nunca mais'. Por quê? Porque quero ganhar e com Trump perdemos. Ficou bastante claro para nós em 2018, em 2020 e, agora, em 2022."
Os conservadores anti-Trump tiveram papel importante nas vitórias democratas nas eleições de meio de mandato de 2018 e, especialmente, em 2020, com a chegada de Joe Biden à Casa Branca.
Mas eles exerciam pouca influência dentro de suas próprias fileiras republicanas, onde eram considerados infiéis pela liderança, que havia abraçado a veia tempestuosa e populista de Trump.
Republicanos e críticas a Trump
Os novos críticos do trumpismo não são simples militantes, há muitas vozes influentes, capazes de dar forma ao futuro do GOP.
Entre elas há um punhado de governadores, vários ex-integrantes do gabinete de Trump, legisladores em exercício e também nomes com projeção de liderança nacional.
A estrela republicana em ascensão Ron DeSantis, reeleito governador da Flórida em 8 de novembro e visto como seu adversário mais forte para as primárias de 2024, mostrou-se particularmente discreto com Trump na medida em que sua popularidade crescia nas pesquisas.
Um levantamento da Harvard CAPS-Harris coloca o ex-presidente como a principal vítima das midterms, exatamente o oposto do que acontece com o vitorioso DeSantis.
"Um mês após o outro, DeSantis vem subindo e agora está afetando Trump significativamente", disse Mark Penn, codiretor da pesquisa, ao veículo The Hill. "Se ambos forem candidatos, será uma grande disputa e Trump tem grandes chances de perder".
Agora, todos os olhos estão voltados para o estado da Geórgia, onde um candidato apoiado por Trump enfrentará, no dia 6 de dezembro, o democrata em exercício em um segundo turno por uma cadeira-chave no Senado.
Designados por Trump quando ele estava no poder, Mike Pompeo (ex-secretário de Estado) e Nikki Haley (representante na ONU) se distanciaram recentemente de seu ex-chefe.
Chris Christie, forte aliado de Trump nas eleições de 2016, queixou-se do fato de os republicanos "seguirem perdendo e perdendo e perdendo" graças ao egocentrismo de Trump.
E com a popularidade crescente de DeSantis, muitos temem que Trump crie um partido político independente em caso de derrota nas primárias republicanas de 2024, uma perspectiva aterradora para o campo conservador.
"A ameaça é simples: a menos que o restante do partido o acompanhe, ele colocará fogo em toda a casa tirando 'sua gente' do Partido Republicano", disse o ex-procurador-geral de Trump Bill Barr, ao tabloide New York Post.
Não obstante, nenhuma consideração sobre o futuro de Trump deve ignorar que os republicanos já o abandonaram antes, especialmente em dois processos de impeachment e em diversas investigações criminais, e ele sempre conseguiu ressurgir das cinzas, mais popular do que nunca. Mas agora, seu nome já não corresponde mais à promessa de uma vitória eleitoral.
"É basicamente a terceira eleição consecutiva em que Donald Trump prejudicou o nosso desempenho. E é como [no beisebol], com três 'strikes' você está fora", disse o republicano Larry Hogan, governador de Maryland, em declarações à CNN após as midterms.
"Isto é a definição da loucura: fazer a mesma coisa todas as vezes e esperar um resultado diferente", acrescentou. "Trump continuava dizendo: 'Vamos ganhar tanto que vamos cansar de ganhar'. Estou cansado de perder. Isso foi tudo o que ele fez."
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