Inverno traz mais miséria para aldeia devastada na Ucrânia

Vila foi bombardeada em março pelos russos que, após a invasão, apreenderam prédios e saquearam casas

As pessoas andam ao lado do Monumento à Pátria Genya SAVILOV / AFP
Publicado 26/11/2022 11:43
À medida que as temperaturas caem no leste da Ucrânia, Serguei Khmil diz que não tem escolha a não ser usar caixotes de munição deixados pelos russos em retirada como lenha para queimar neste inverno. Khmil reconhece, entre a destruição em seu vilarejo de Kamyanka, nos arredores de Izium, que sem essa madeira ele congelaria.
"O mais difícil é conseguir madeira cortada", explica. "Há uma fila enorme para receber madeira doada por voluntários".
Com sua casa em grande parte destruída pelos bombardeios, Khmil trabalha para converter sua cozinha ao ar livre em um abrigo de inverno, agora cheio de cobertores, caixotes de munição e uma caldeira feita de cápsulas de projéteis russos.
"Preciso cobrir as paredes com outra camada de isolamento", acrescenta Khmil, olhando o quarto onde espera se abrigar durante o inverno.
A vila foi bombardeada em março e atacada por helicópteros antes que a infantaria e os tanques russos avançassem para o sul de Izium no início da invasão. Depois de ocupar a área, os russos invadiram e apreenderam prédios, saquearam casas, roubaram bebidas alcoólicas e dirigiram bêbados, segundo moradores.
"Começaram a entrar nas casas para beber a noite toda", conta Volodimir Tsybulya, um vizinho de 53 anos, enquanto conserta o telhado da casa de sua irmã.
"Jogavam granadas só por diversão. Cheguei em casa e encontrei o banheiro destruído por uma granada", lembra.
Meses se passaram assim, até que uma ofensiva relâmpago das forças ucranianas forçou a retirada, em setembro, dos soldados russos no flanco nordeste, que se moveram mais para o leste. Após a retirada das tropas, as autoridades ucranianas assumiram o controle da área e descobriram valas comuns ao contabilizar os danos no território.
Consequências 
O vice-prefeito de Izium, Mikhailo Ishyuk, diz que a situação é difícil, com 30% a 40% dos telhados destruídos na cidade. A falta de materiais e equipamentos de construção e a escassez de mão de obra dificultam os reparos antes da chegada do frio de inverno.
As previsões indicam que a temperatura cairá abaixo de zero nos próximos dias. A situação em Kamyanka é ainda pior, admite o responsável. Quase todos os telhados das 550 casas e prédios da cidade foram danificados ou totalmente destruídos. Ele também adverte que os apagões estão aumentando após os ataques russos à infraestrutura de energia em toda a Ucrânia, que deixaram Izium e arredores com menos eletricidade e aquecimento.
Em Kamyanka, Lyubov Perepelytsya oscila entre relatar os horrores da ocupação russa e compartilhar seus medos sobre o inverno que se aproxima.
"Eles saquearam literalmente tudo", diz a senhora de 65 anos em meio às lágrimas, descrevendo a destruição de sua casa e o saque de sua propriedade.
A maioria dos 1.200 habitantes da vila deixou a área, mas Perepelytsya e seu marido doente, junto com algumas dezenas de outros, planejam ficar em Kamyanka durante o inverno, aconteça o que acontecer.
"Já chorei muito. Este é o nosso sexto abrigo. Parece que a guerra nos segue onde quer que vamos", lamenta.
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Inverno traz mais miséria para aldeia devastada na Ucrânia

Vila foi bombardeada em março pelos russos que, após a invasão, apreenderam prédios e saquearam casas

As pessoas andam ao lado do Monumento à Pátria Genya SAVILOV / AFP
Publicado 26/11/2022 11:43
À medida que as temperaturas caem no leste da Ucrânia, Serguei Khmil diz que não tem escolha a não ser usar caixotes de munição deixados pelos russos em retirada como lenha para queimar neste inverno. Khmil reconhece, entre a destruição em seu vilarejo de Kamyanka, nos arredores de Izium, que sem essa madeira ele congelaria.
"O mais difícil é conseguir madeira cortada", explica. "Há uma fila enorme para receber madeira doada por voluntários".
Com sua casa em grande parte destruída pelos bombardeios, Khmil trabalha para converter sua cozinha ao ar livre em um abrigo de inverno, agora cheio de cobertores, caixotes de munição e uma caldeira feita de cápsulas de projéteis russos.
"Preciso cobrir as paredes com outra camada de isolamento", acrescenta Khmil, olhando o quarto onde espera se abrigar durante o inverno.
A vila foi bombardeada em março e atacada por helicópteros antes que a infantaria e os tanques russos avançassem para o sul de Izium no início da invasão. Depois de ocupar a área, os russos invadiram e apreenderam prédios, saquearam casas, roubaram bebidas alcoólicas e dirigiram bêbados, segundo moradores.
"Começaram a entrar nas casas para beber a noite toda", conta Volodimir Tsybulya, um vizinho de 53 anos, enquanto conserta o telhado da casa de sua irmã.
"Jogavam granadas só por diversão. Cheguei em casa e encontrei o banheiro destruído por uma granada", lembra.
Meses se passaram assim, até que uma ofensiva relâmpago das forças ucranianas forçou a retirada, em setembro, dos soldados russos no flanco nordeste, que se moveram mais para o leste. Após a retirada das tropas, as autoridades ucranianas assumiram o controle da área e descobriram valas comuns ao contabilizar os danos no território.
Consequências 
O vice-prefeito de Izium, Mikhailo Ishyuk, diz que a situação é difícil, com 30% a 40% dos telhados destruídos na cidade. A falta de materiais e equipamentos de construção e a escassez de mão de obra dificultam os reparos antes da chegada do frio de inverno.
As previsões indicam que a temperatura cairá abaixo de zero nos próximos dias. A situação em Kamyanka é ainda pior, admite o responsável. Quase todos os telhados das 550 casas e prédios da cidade foram danificados ou totalmente destruídos. Ele também adverte que os apagões estão aumentando após os ataques russos à infraestrutura de energia em toda a Ucrânia, que deixaram Izium e arredores com menos eletricidade e aquecimento.
Em Kamyanka, Lyubov Perepelytsya oscila entre relatar os horrores da ocupação russa e compartilhar seus medos sobre o inverno que se aproxima.
"Eles saquearam literalmente tudo", diz a senhora de 65 anos em meio às lágrimas, descrevendo a destruição de sua casa e o saque de sua propriedade.
A maioria dos 1.200 habitantes da vila deixou a área, mas Perepelytsya e seu marido doente, junto com algumas dezenas de outros, planejam ficar em Kamyanka durante o inverno, aconteça o que acontecer.
"Já chorei muito. Este é o nosso sexto abrigo. Parece que a guerra nos segue onde quer que vamos", lamenta.
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