Monumento para as vítimas do "Holodomor"Handout / UKRAINIAN PRESIDENTIAL PRESS SERVICE / AFP
Publicado 26/11/2022 13:51
A Ucrânia recebeu promessas de apoio neste sábado (26), no 90º aniversário do "Holodomor", a fome deliberadamente causada pelo regime stalinista na década de 1930 e que, desde a invasão russa, ganhou uma nova dimensão. O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, garantiu que seu povo resistirá aos ataques russos, que causam cortes maciços de eletricidade e água, justamente quando o frio do inverno está chegando.
"Os ucranianos viveram coisas realmente terríveis. E apesar disso, preservam a capacidade de não obedecer e seu amor pela liberdade. No passado, eles quiseram nos destruir com a fome, hoje com escuridão e frio", declarou o presidente em uma declaração de vídeo no Telegram. "Não podemos nos abalar", afirmou.
Em 1932 e 1933, cerca de 3,5 milhões de ucranianos morreram no "Holodomor", quando Stalin lançou uma campanha de "coletivização" forçada pela qual apreendeu colheitas de grãos e outros produtos alimentícios e deixou milhões de pessoas em estado de fome. A Ucrânia, que até sua independência em 1991 fazia parte da União Soviética, considera esses eventos como "genocídio". A Rússia, por sua vez, alega que a fome não foi uma política deliberada e que os ucranianos não foram suas únicas vítimas.
Vários líderes europeus estiveram presentes neste sábado na capital ucraniana, Kiev, para as cerimônias do "Holodomor".
Segundo a imprensa polonesa e lituana, os primeiros-ministros destes países próximos e aliados de Kiev, Mateusz Morawiecki e Ingrida Simonyte, estão na capital ucraniana e já se reuniram com o chanceler ucraniano Denis Chmygal. Os três líderes emitiram uma declaração conjunta após o encontro enfatizando o apoio contínuo à Ucrânia e denunciando as ações da Rússia.
O serviço de guarda de fronteira ucraniano confirmou que Morawiecki "visitou Kiev e honrou a memória das vítimas do Holodomor".
O primeiro-ministro belga, Alexander De Croo, também esteve em Kiev, sua primeira visita desde o início da invasão russa. Segundo a agência de notícias Belga, a Bélgica fornecerá apoio financeiro adicional de 37,4 milhões de euros (38,9 milhões de dólares) para a Ucrânia.
"Cheguei a Kiev. Após os pesados bombardeios dos últimos dias, estamos com o povo ucraniano. Mais do que nunca", escreveu no Twitter.
O chefe de governo alemão, Olaf Scholz, anunciou em um vídeo uma ajuda extra de 15 milhões de euros (10,4 milhões de dólares) para apoiar as exportações de grãos ucranianas atingidas pela guerra. Já o presidente francês, Emmanuel Macron, também prometeu 6 milhões de euros adicionais para essas exportações, vitais para o abastecimento de muitos países da África e da Ásia.
"Optamos por agir em solidariedade com os países mais vulneráveis. A Rússia, por sua vez, continua a explorar a fome como meio de pressão e os alimentos como arma de guerra", indicou em mensagem.
O Parlamento alemão decidiu na sexta-feira definir o "Holodomor" como "genocídio".
Homenagem as vítimas 
No centro memorial do Holodomor, em Kiev, uma dúzia de padres ortodoxos se reuniu neste sábado para uma cerimônia religiosa em homenagem às vítimas da fome.
"Foi uma fome genocida criada artificialmente (...) Agora que estamos vivendo esta guerra massiva lançada sem provocação pela Rússia contra a Ucrânia, vemos a história se repetir", comentou à AFP o papa Oleksandre Chmurgin, de 38 anos.
Entre os que se reuniram para homenagear as vítimas da fome, o advogado Andriï Savtchouk, 39, falou de uma perda "irreparável" para a Ucrânia.
"O sistema de Stalin e seu estado repressivo queriam destruir a Ucrânia como nação. Hoje vemos que os esforços de Stalin estão sendo continuados pelo (presidente Vladimir) Putin", denunciou.
Na frente de combate, as trocas de prisioneiros entre a Rússia e a Ucrânia continuaram hoje, com 12 pessoas libertadas para Kiev. Moscou, por sua vez, anunciou que recuperou nove de seus homens. Em Dnipro, no centro da Ucrânia, um bombardeio russo deixou pelo menos 13 feridos, segundo o governador regional Valentin Reznitchenko.
Na capital, onde parte da população passou os últimos três dias sem eletricidade após os bombardeios russos de quarta-feira, a prefeitura anunciou que restaurou 75% do fornecimento de energia e 90% do aquecimento.
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