Com política de 'Covid Zero', China enfrenta novos protestos contra restriçõesReprodução
Publicado 30/11/2022 18:43
Manifestantes enfrentaram a polícia na cidade de Guangzhou, no sul da China, entre a noite de terça-feira (29) e a manhã desta quarta-feira (30), de acordo com testemunhas e vídeos divulgados nas redes sociais, em um momento de grandes protestos em todo país contra as restrições provocadas pela pandemia da covid-19.

As autoridades chinesas enfrentam o maior movimento de protestos no território desde as manifestações pró-democracia de 1989, que foram brutalmente reprimidas.
É neste contexto de tensão que Pequim receberá, nesta quarta-feira, a visita do presidente do Conselho Europeu, Charles Michel. Ele deve se reunir nesta quinta-feira (1), com o presidente chinês, Xi Jinping.

Entretanto, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, criticou a repressão que, segundo ele, não é "um sinal de força" mas sim de "fraqueza".

Nesta terça-feira, o principal órgão de segurança da China pediu a adoção de "medidas enérgicas", após vários dias de manifestações nas principais cidades do país contra quase três anos de confinamentos rígidos anticovid, em um contexto de frustração pública com o sistema político chinês. No último fim de semana, explodiram protestos em Pequim, e em outras cidades, como Xangai e Wuhan.
Confrontos

Embora as autoridades tenham apertado o cerco para impedir novas concentrações, houve, ontem à noite, confrontos entre manifestantes e a polícia em Guangzhou (Cantão), segundo testemunhas e vídeos publicados nas redes sociais e de autenticidade verificada pela AFP.

As imagens mostram policiais com trajes brancos de proteção integral e equipados com escudos, avançando em fileiras em uma rua do distrito de Haizhu, enquanto objetos de vidro eram jogados em sua direção.

Ouvem-se gritos dos manifestantes, enquanto barricadas azuis e laranjas são derrubadas. As imagens mostram, ainda, o momento da detenção de mais de dez homens, que foram levados algemados.

Um morador de Guangzhou de sobrenome Chen disse à AFP que viu quase 100 policiais no vilarejo de Houjiao, no distrito de Haizhu, onde pelo menos três homens foram detidos na terça-feira à noite.

Vários bairro de Guangzhou suspenderam, nesta quarta-feira à tarde, as restrições em algumas zonas confinadas, conforme anúncio das autoridades.

Estudantes universitários da cidade relataram que foram obrigados a deixar seus dormitórios ontem à noite, ou seriam postos em quarentena, segundo publicações nas redes sociais.

Após os protestos nos campos universitários no fim de semana passado, um número cada vez maior de universidades declarou o início antecipado das férias, forçando os estudantes a voltarem para casa.

Liberdade!

A onda de manifestações foi motivada pelo incêndio, na semana passada, em um prédio que estava em confinamento em Urumqi, na região de Xinjiang (noroeste do país). O incêndio deixou dez mortos e gerou uma onda de indignação contra os confinamentos impostos no país pela pandemia.

Nas redes sociais, várias pessoas disseram que o socorro demorou a chegar, devido às restrições sanitárias, o que foi negado pelas autoridades.

Os protestos também tomaram um rumo político, com alguns manifestantes pedindo a renúncia do presidente Xi Jinping.

Em Pequim e Xangai, a forte presença policial desestimulou qualquer tentativa de manifestação. Na segunda e na terça-feira, houve, no entanto, concentrações esporádicas.

Na universidade mais antiga do território semiautônomo do sul de Hong Kong, um pequeno grupo de pessoas liderava uma multidão aos gritos de "me dê liberdade, ou me dê a morte!".

"Não somos forças estrangeiras, somos cidadãos chineses. A China deve permitir que diferentes vozes sejam ouvidas", declarou um manifestante.

Vacinação problemática

Em Hangzhou, 170 quilômetros a sudoeste de Xangai, pequenas manifestações aconteceram na noite de segunda-feira, apesar da presença da polícia.

Uma testemunha disse que "cerca de 200" policiais e outros agentes da ordem cercaram os manifestantes, antes de colocá-los em uma van.

O rígido controle de informações por parte das autoridades e as restrições sanitárias às viagens dentro da China dificultam a avaliação do número total de manifestantes no país.

Embora Pequim ainda mantenha sua rígida política de saúde, houve, nos últimos dias, alguns sinais de relaxamento.

As autoridades também prometeram acelerar a vacinação dos idosos. A taxa insuficiente de vacinação na China, principalmente neste grupo, é um dos argumentos do governo para manter suas medidas.
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