Boluarte busca de uma saída pacífica para a crise política no país e pede calma à população em meio aos protestos no paísAFP
Publicado 09/12/2022 18:20
Lima - A nova presidente do Peru, Dina Boluarte, anunciou que vai formar um novo governo no sábado, 10, depois da destituição e prisão de Pedro Castillo, acusado de uma tentativa de golpe. O descontentamento da população tem crescido nas ruas e apoiadores do ex-presidente exigem sua libertação e a convocação de eleições.
Boluarte não descartou nesta sexta-feira, 9, convocar eleições antecipadas em busca de uma saída pacífica para a crise política e pediu calma à população em meio a protestos que exigem um novo Congresso.
"Se a sociedade e a situação exigirem, vamos antecipar as eleições em conversas com as forças democráticas do Congresso", disse Boluarte à imprensa, após assegurar que formará seu gabinete no sábado.
"Faço um apelo às irmãs e aos irmãos que estão saindo em protesto para pedir que nos acalmemos", afirmou a presidente, após confrontos violentos entre manifestantes pró-Castillo e a polícia na quinta-feira à noite em Lima.
Dois dias após sua fracassada tentativa de golpe, Castillo está no mesmo centro de detenção que o ex-presidente Alberto Fujimori, na base das forças especiais da polícia, localizada ao leste de Lima.
O Ministério Público acusa-o de rebelião e conspiração, e um tribunal superior ordenou que fique sete dias em prisão preventiva.
Enquanto isso, nas ruas, manifestações em várias cidades alimentam a incerteza sobre a viabilidade de Boluarte conseguir concluir seu mandato em 2026, como ela mesma anunciou ao tomar posse na quarta-feira, 7.
Pelo segundo dia seguido, dezenas de manifestantes bloqueavam diferentes trechos da rodovia Pan-Americana nesta sexta, com pedras, troncos e pneus em chamas, exigindo eleições gerais e o fechamento do Congresso.
Bloqueios e protestos também foram convocados em Lima para esta tarde. Na quinta, 8, cerca de mil manifestantes enfrentaram violentamente a polícia perto do Parlamento e foram dispersos com bombas de gás lacrimogêneo. Ao menos três deles foram detidos, segundo a AFP.
Manifestações nas ruas também foram registradas em outras regiões do interior do país, como Chota (Cajamarca, de onde Castillo é originário), Trujillo, Puno, Ayacucho, Hancavelica e Moquegua.
A Defensoria do Povo fez um apelo "à tranquilidade e à responsabilidade a todos os cidadãos".
Boluarte participou de uma cerimônia do exército peruano nesta sexta-feira para o 198º aniversário da Batalha de Ayacucho, que selou o fim do domínio colonial da Espanha na América Latina.
"Deixemos para trás os capítulos do confronto, dos infelizes acontecimentos que quiseram quebrar a democracia e das aventuras que não geraram estabilidade. É agora ou nunca. O Peru não pode parar", disse Boluarte aos militares, que não apoiaram o golpe.
Castillo tentou dissolver o Legislativo e governar por decreto, mas suas ordens foram ignoradas pelo Congresso e pelas Forças Armadas.
Ontem, milhares de manifestantes exigiram a renúncia da nova presidente, a primeira mulher a liderar o Peru e a quem alguns esquerdistas chamam de "traidora" por assumir o cargo.
"Vivemos um golpe decretado pelo Congresso golpista. Não pode ser que um pequeno grupo de 100 pessoas tire um presidente eleito por milhões", questionou Ana Zevallos, uma apoiadora de Castillo que participou do protesto.
Castillo é acusado de rebelião. Se for considerado culpado, Castillo pode pegar entre dez e 20 anos de prisão. Depois de anunciar a dissolução dos poderes e declarar estado de exceção na quarta-feira, Castillo foi detido por sua própria escolta quando se dirigia à embaixada mexicana em Lima para pedir asilo político.
O governo do presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, seu ferrenho defensor, disse que está em consultas com o novo governo peruano para conceder-lhe asilo, informou o chanceler Marcelo Ebrard.
Um ex-chefe de gabinete e um advogado de Castillo afirmaram que o ex-presidente foi dopado antes de ler a mensagem em que anunciou sua fracassada tentativa de autogolpe.
"Eu perguntei: 'por que você fez a leitura?' (do decreto que dissolveu o Congresso). Ele me respondeu que não se lembrava", disse à imprensa o deputado Guido Bellido, depois de visitar Castillo na base policial em Lima onde o ex-presidente está detido.
"O estado psicológico de Castillo ao ler a mensagem à nação mostra que ele estava fora de si, o que sugere que ele poderia ter sido induzido (a ler a mensagem). Um exame toxicológico é urgente", pediu em um tuíte.
Guillermo Olivera, um dos advogados de Castillo, também cogitou esta teoria.
"O que eu sei é que quando o ex-presidente leu essa mensagem escrita por outros, minutos antes lhe deram uma bebida, supostamente água. E depois de beber a água, ele se sentiu tonto", afirmou Oliveira a jornalistas.
Publicidade
Leia mais