Presidente do Peru, Dina BoluarteAFP
Publicado 12/12/2022 07:34
A presidente do Peru, Dina Boluarte, anunciou na madrugada desta segunda-feira (12) que apresentará um projeto de lei ao Parlamento para antecipar as eleições para abril de 2024 após as manifestações em várias cidades do país que deixaram dois mortos.
"Interpretando a vontade da cidadania (...) decidi tomar a iniciativa para alcançar um acordo com o Congresso da República para antecipar as eleições gerais para o mês de abril de 2024", disse Boluarte em uma mensagem à nação exibida na televisão nos primeiros minutos da segunda-feira.
A proposta implica reduzir seu mandato em dois anos e pretende aplacar a indignação da população, que exige a convocação imediata de eleições presidenciais e legislativas.
Boluarte, que assumiu o governo na quarta-feira passada, após uma tentativa frustrada de golpe de Estado do então presidente Pedro Castillo, anunciou um estado de emergência nas áreas do país que registram protestos violentos.
"Com o mesmo sentido patriótico, anuncio a declaração de estado de emergência nas zonas de alto conflito social para recuperar pacificamente o controle da ordem interna", afirmou.
A nova presidente lamentou a morte de dois manifestantes em Andahuaylas durante a repressão policial.
As manifestações aumentaram em várias cidades do norte e do sul andino em repúdio ao Congresso e também para pedir a libertação do ex-presidente esquerdista Pedro Castillo, destituído pelo Congresso e detido por ordem judicial por sete dias desde quarta-feira passada.
Na cidade andina de Andahuaylas, no sul, o Ministério do Interior informou que duas pessoas morreram e cinco ficaram feridas, incluindo um policial, após confrontos violentos em uma tentativa de manifestantes de invadir o aeroporto da cidade.
A tropa de choque da polícia foi enviada ao aeroporto para conter os milhares de manifestantes em Andahuaylas, que fica na região de Apurimac, de onde Boluarte é originária.
A delegacia de Huancabamba, uma localidade da região de Apurímac, foi incendiada, segundo a rádio RPP. No sábado, 10, confrontos em Andahuaylas terminaram com 16 civis e quatro policiais feridos.
Milhares de pessoas protestaram nas ruas de Cajamarca, Arequipa, Tacna, Andahuaylas, Huancayo, Cusco e Puno.
Enquanto isso, sindicatos rurais e organizações representativas dos povos indígenas convocaram uma "greve por tempo indeterminado" a partir de terça-feira em apoio a Castillo, que vem de uma família de camponeses.
Eles exigem a suspensão do Congresso, a realização de eleições antecipadas e uma nova Constituição, assim como a libertação imediata de Castillo, segundo um comunicado da Frente Agrária e Rural do Peru, que reúne cerca uma dúzia de organizações.
A Frente Rural afirma que Castillo "não praticou um golpe de Estado" na quarta-feira, quando ele anunciou a suspensão do Congresso e disse que governaria por decreto, o que levou a sua destituição pelo Parlamento e a posse da até então vice-presidente Boluarte.
Em Lima, a polícia dispersou com gás lacrimogêneo na tarde de domingo uma manifestação nas proximidades do Congresso em apoio a Castillo.
A capital do país sempre rejeitou Castillo, um professor rural e líder sindical que não tinha contato com as elites peruanas, enquanto as regiões andinas expressam apoio ao esquerdista desde as eleições de 2021.
O Congresso, dominado pela direita, suspendeu uma sessão na tarde de domingo para analisar a situação do país depois de uma briga entre dois deputados.
Castillo foi detido por sua própria equipe de segurança quando seguia para a embaixada do México para pedir asilo político. O Ministério Público o acusa de rebelião e conspiração. Ele já era investigado por corrupção.
Boluarte formou um governo no sábado de perfil independente e técnico, com o ex-procurador Pedro Angulo como primeiro-ministro.
Ao mesmo tempo, cresce a polêmica sobre a versão de um ex-chefe de gabinete e do advogado de Castillo de que o ex-presidente estava dopado ao ler a mensagem na qual anunciava sua tentativa fracassada de golpe.
Em uma carta que teria escrito na prisão, Castillo afirma que um médico e enfermeiras "camuflados" e um promotor "sem rosto" (encapuzado) o "forçaram" a fazer exames de sangue na sexta-feira e no sábado, mas ele recusou por receio a respeito de sua segurança.
O presidente do Instituto Médico Legal, Francisco Brizuela, afirmou que "a perícia (para saber se ele estava drogado) não pôde ser realizada".
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