Publicado 21/12/2022 10:19 | Atualizado 21/12/2022 10:22
Guardas armados impediram a entrada de centenas de jovens mulheres nas universidades afegãs nesta quarta-feira (21), um dia depois do anúncio do governo Talibã que proibiu o acesso das mulheres ao Ensino Superior.
Apesar da promessa de um regime mais tolerante quando tomaram o poder em agosto de 2021, os fundamentalistas islâmicos multiplicaram as restrições contra as mulheres, afastando-as da vida pública.
Jornalistas da AFP observaram estudantes reunidas em frente às universidades da capital, Cabul, cujos portões estavam trancados e protegidos por seguranças armados. "Estamos condenadas. Perdemos tudo", disse uma delas, que pediu para não ser identificada. "Não temos palavras para expressar nossos sentimentos", explicou outra, Madina. "Eles tiraram nossa esperança. Enterraram nossos sonhos", completou a estudante.
Seus colegas do sexo masculino também expressaram choque. "Isso realmente mostra seu analfabetismo e baixo conhecimento do Islã e dos direitos humanos", disse um deles, sob condição de anonimato. "Se a situação continuar assim, o futuro será pior. Todos estão com medo", acrescentou.
A maioria das universidades públicas e privadas permanece fechada por algumas semanas no inverno, embora seus campi geralmente continuem abertos a estudantes e funcionários.
A decisão de banir as mulheres das universidades foi anunciada na noite de terça-feira pelo ministro do Ensino Superior, Neda Mohammad Nadeem.
A maioria das adolescentes do país já havia sido banida do Ensino Médio, limitando significativamente suas opções de acesso às universidades.
O veto, porém, ainda não havia sido aplicado ao Ensino Superior e milhares de mulheres fizeram as provas do vestibular há menos de três meses.
No entanto, os centros de ensino precisaram adaptar-se, aplicando a segregação por sexo e permitindo apenas que mulheres ou homens idosos dessem aulas às alunas.
O líder supremo do Talibã, Hibatullah Akhundzada, e seu círculo próximo defendem uma interpretação ultrarrigorosa do Islã contra a educação moderna, especialmente para mulheres.
A posição diverge da adotada por alguns líderes em Cabul, e até mesmo entre suas bases, que esperavam que o novo regime tolerasse a educação feminina. "Essa decisão vai ampliar as divergências", comentou à AFP um comandante talibã.
Em março, o Talibã impediu que as adolescentes voltassem às escolas de Ensino Médio na mesma manhã em que deveriam reabrir após mais de meio ano de fechamento.
Várias autoridades talibãs argumentaram que era uma suspensão temporária e ofereceram uma série de desculpas, da falta de recursos à necessidade de reformular o programa educacional.
Desde então, muitas adolescentes se casaram cedo, muitas vezes com homens mais velhos escolhidos pelos pais.
Muitas famílias questionadas pela AFP em novembro argumentaram que, com a difícil situação econômica e a proibição à educação, garantir o futuro das filhas por meio do casamento era melhor do que deixá-las ociosas em casa.
O Talibã também expulsou as mulheres de muitos empregos públicos, proibiu-as de viajar sem um parente do sexo masculino e as obrigou a usar burca ou hijab fora de casa.
Em novembro, as autoridades proibiram o acesso delas a parques, feiras, academias e banheiros públicos.
A comunidade internacional, por sua vez, considera o direito à educação das mulheres uma condição fundamental nas negociações para a prestação de ajuda humanitária ao país e reconhecimento das novas autoridades.
"O Talibã não pode esperar ser um membro legítimo da comunidade internacional se não respeitar totalmente os direitos de todos no Afeganistão. Esta decisão terá consequências", comentou o secretário de Estado americano, Antony Blinken.
A ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, disse que o Talibã "decidiu destruir o futuro de seu próprio país" e informou que o G7 abordará a questão.
Durante os 20 anos que se passaram entre os dois regimes talibãs, as meninas frequentaram as escolas e as mulheres procuraram empregos em todos os setores, apesar de o país continuar socialmente conservador.
Nas últimas semanas, as autoridades também reintroduziram os açoitamentos e execuções públicas em uma aplicação extrema da lei islâmica, a sharia.
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