Publicado 11/01/2023 13:01
O Ministério Público do Peru começou a investigar nesta quarta-feira (11) por suposto "genocídio" a presidente Dina Boluarte, que impôs um toque de recolher na região de Puno, no sul do país, para frear os protestos que deixaram 40 mortos em um mês.
"O Ministério Público Federal determinou um investigação preliminar da presidente Dina Boluarte; do presidente do Conselho de Ministros, Alberto Otárola; do ministro do Interior, Víctor Rojas; do ministro da Defesa, Jorge Chávez", disse a Promotoria, no Twitter.
O anúncio foi feito no mesmo dia em que o gabinete do governo, liderado por Alberto Otárola, pediu um voto de confiança ao Congresso.
"O voto de confiança foi aprovado", declarou o presidente do Parlamento, José Williams, após a votação que rendeu 73 votos a favor, 43 contra e seis abstenções. Em caso de rejeição, o gabinete deveria renunciar.
Na terça-feira (10), o governo peruano impôs um toque de recolher de três dias na região de Puno.
"Foi aprovado no Conselho de Ministros um decreto supremo que declara imobilização social em Puno pelo prazo de três dias, das 20h às 4h da manhã", anunciou Otárola perante o Congresso.
O epicentro dos protestos é a região aimara de Puno (sul), na fronteira com a Bolívia, onde houve saques a comércios locais e ataques a veículos da polícia que deixaram 18 mortos entre a noite de segunda e a madrugada de terça.
As mortes aumentaram a indignação nas cidades de Puno e de Juliaca, a 1.300 km de Lima, onde os moradores fazem greve há uma semana e mantêm o comércio fechado.
A Superintendência de Transporte Terrestre de Pessoas, Cargas e Mercadorias registrou interrupção por piquetes em 53 trechos de rodovias em seis regiões: Puno, Cusco, Apurímac, Arequipa, Madre de Dios e Amazonas.
Em Cusco e Ayacucho, milhares foram às ruas pedir a renúncia de Boluarte, a realização de novas eleições e a convocação de uma Assembleia Constituinte - as principais reivindicações dos manifestantes.
Boluarte serviu como vice-presidente até 7 de dezembro, quando o Congresso removeu Castillo depois que ele tentou fechar o Parlamento, intervir no Poder Judiciário e governar por decreto.
Investigado por corrupção, Castillo cumpre 18 meses de prisão preventiva determinada por um juiz, por acusações de rebelião.
Na segunda-feira, 9, a repressão violenta das forças de ordem deixou 14 mortos durante tentativa de ocupação do aeroporto de Juliaca pelos manifestantes. Além disso, três pessoas faleceram no saque a um shopping center, segundo a Defensoria do Povo, que acrescentou que um policial também morreu queimado dentro de sua viatura.
"Quem vai nos defender? Quem vai ver estas crianças que estão traumatizadas, que estão ficando sem pai, sem mãe, órfãos?", disse uma manifestante à AFP.
O governo peruano alegou que a ação contundente da polícia e dos militares que guardam o terminal aéreo ocorreu em resposta a um tumulto orquestrado por milhares de manifestantes.
"Hoje, mais de 9.000 pessoas se aproximaram do aeroporto de Juliaca e aproximadamente 2.000 iniciaram um ataque contra a polícia e as instalações, usando armas improvisadas e com dupla carga de pólvora, gerando uma situação extrema", disse Otárola à imprensa na noite de segunda.
A Igreja Católica, religião da maioria dos peruanos, qualificou como "situação de guerra" o que está acontecendo no sul do país.
"A verdade é que estamos nas mãos da barbárie [...] O confronto entre irmãos e irmãs é muito mais doloroso, porque fazemos parte de uma única sociedade, uma família peruana", disse à rádio RPP o cardeal e arcebispo de Huancayo, Pedro Barreto.
Em Juliaca, vestidos de preto, dezenas de familiares das vítimas fizeram fila no necrotério para receber os corpos de seus parentes.
"Meu irmão morreu porque atiraram nele, os policiais o mataram", disse à rádio La Decana de Juliaca um familiar de Roger Rolando Cayo, de 22 anos.
"Na verdade, a violência está chegando a níveis impensáveis. A Defensoria destaca que esta crise e este conflito político não vão ser resolvidos com a participação das Forças Armadas, ou da polícia", declarou à AFP a defensora do povo, Eliana Revollar.
Nesse contexto, uma nova missão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) chega ao Peru, nesta quarta, para investigar a resposta policial às manifestações.
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