Publicado 19/01/2023 12:52
A França enfrenta nesta quinta-feira, 19, a maior greve geral dos últimos 12 anos, convocada por centrais sindicais de diversas categorias em resposta à proposta de reforma da Previdência apresentada pelo governo de Emmanuel Macron, que pretende aumentar a idade mínima para aposentadoria de 62 para 64 anos. Cerca de 1 milhão de manifestantes são esperados nas ruas das principais cidades francesas até o fim do dia.
Líderes sindicais prometeram uma quinta-feira "infernal" para as autoridades, com a paralisação total ou parcial de uma série de serviços, incluindo alguns considerados essenciais. A expectativa é de que escolas, refinarias de petróleo, usinas de energia, aeroportos e estações de trem parem de funcionar ou sejam severamente interrompidas, enquanto mais de 200 atos foram convocados pelo país. Os primeiros já começaram, como em Toulouse, no sul, e Marselha, no sudeste. Paris também já registrou protestos pela manhã.
A última grande mobilização do tipo ocorreu em 2010, quando o governo do conservador Nicolas Sarkozy também propôs uma mudança previdenciária. Na época, Sarkozy conseguiu aumentar a idade mínima de aposentadoria de 60 para 62 anos. "Hoje será um grande dia de manifestação. Quando todos os sindicatos estão de acordo, algo pouco comum, é porque o problema é muito grave", disse o secretário-geral do sindicato CGT, Philippe Martinez, em entrevista à rede Pública Sénat.
Reformar o sistema de Previdência da França é um objetivo antigo do presidente Emmanuel Macron, que suspendeu a tramitação de uma reforma anterior no começo de 2020 por causa do avanço da pandemia da covid-19. Durante sua campanha de reeleição, no entanto, o novo sistema foi uma de suas principais propostas.
Mas depois de anos de crise, com os protestos sociais liderados pelos coletes amarelos, pandemia e inflação, o jornal Le Parisien aponta que a reforma representa um "teste decisivo" para Macron sobre seu mandato e sobre "a marca que deixará na história".
O plano atual, apresentado pela primeira-ministra Élisabeth Borne no último dia 10, prevê além do aumento da idade mínima de aposentadoria, o aumento do tempo de contribuição para aposentadoria integral (de 42 para 43 anos). Há dispositivos diferenciados para quem começou a trabalhar antes dos 20 anos e para aqueles que interromperam suas carreiras por motivo de saúde ou pessoais - como no caso de mulheres que ficaram períodos sem trabalhar para cuidar dos filhos.
De acordo com uma pesquisa da Ipsos publicada na quarta-feira, 18, embora 81% dos franceses considerem que algum tipo de reforma previdenciária seja necessária, 61% rejeitam o texto atual. Além disso, 58% dos entrevistados disseram apoiar o movimento grevista.
A rejeição ao projeto é tão grande que conseguiu reunir além das centrais sindicais - que poucas vezes concordam entre si -, colocou de um mesmo lado partidos da extrema esquerda e da extrema direita francesa.
Marine Le Pen, líder da extrema direita, compartilhou nas redes sociais um vídeo em que questiona a primeira-ministra Élisabeth Borne sobre o projeto. "Senhora primeira-ministra, [você] considera sinceramente que é bom para o país propor uma reforma das pensões com vista a alterar a idade da aposentadoria à qual se opõem 70% dos franceses, fazendo-os pagar pelos insucessos das suas políticas?", escreveu Le Pen.
"O governo já perdeu a primeira batalha", disse o político de extrema esquerda Jean-Luc Mélenchon nesta quinta-feira. "Ninguém acredita no mérito dos argumentos apresentados pelo governo".
O governo francês argumenta que além de revitalizar o sistema previdenciário do país, a idade mais alta para aposentadoria também permitiria aumentar o investimento público em áreas que atualmente são deficitárias. Os governistas citam dados da União Europeia para justificar a posição, afirmando que o país tem uma das idades mais baixas de aposentadoria entre os integrantes do bloco - na vizinha Alemanha, por exemplo, a idade atual é de 66 anos e deve aumentar em breve.
A França tem uma posição demográfica um pouco mais confortável que o resto do continente. Enquanto se estima que as pessoas com mais de 64 anos vão representar 36% da população no sul da Europa até 2050, a proporção deve chegar a apenas 28% na França naquele ano, de acordo com o Instituto Nacional Francês de Estudos Demográficos. (Com agências internacionais).
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