A paralisação de profissionais de saúde no Reino Unido inclui enfermeiros, paramédicos, motoristas de ambulâncias e telefonistas AFP
Publicado 06/02/2023 15:42
Londres - De enfermeiras a motoristas de ambulância, os profissionais da saúde pública inglesa fizeram, nesta segunda-feira, 6, a maior greve de sua história. A manifestação é mais um capítulo dos protestos que abalam o Reino Unido, em um contexto de disparada do custo de vida.
"Funcionários mais seguros salvam vidas" e "Aplausos não pagam as contas", diziam as faixas dos manifestantes do lado de fora do Hospital St. Thomas, no centro de Londres, em referência aos aplausos que profissionais de saúde recebiam semanalmente durante a pandemia da covid-19.
O sindicato Royal College of Nursing (RCN) diz que vários aumentos abaixo da inflação desde 2010 fizeram os salários dos profissionais da categoria registrar perdas de 20% em termos reais. Alguns já não conseguem pagar as contas de calefação, alimentação e aluguel, e um em cada quatro hospitais na Inglaterra abriu bancos de alimentos para seus funcionários.
Essa baixa remuneração contribui para que haja 47 mil cargos vagos de enfermagem, agravando a pressão e o estresse sobre os que permanecem no trabalho.
"Estamos disponíveis 24 horas por dia, sete dias por semana. Estamos nos matando, fazendo o trabalho de três pessoas", disse a jovem enfermeira Victoria Busk no Hospital Queen Elizabeth, em Birmingham, centro da Inglaterra.
"E só vai piorar, porque cada vez mais pessoas vão abandonar a profissão", acrescenta.
Em um Reino Unido onde a inflação supera os 10% há meses, a tensão social continua a crescer em todos os setores. Professores - do Ensino Fundamental ao Superior -, ferroviários e funcionários de vários ministérios fizeram, em 1º de fevereiro, a maior greve do país em mais de 11 anos.
Embora cada setor tenha suas reivindicações específicas, todos se unem na demanda por aumentos salariais.
Como "último recurso", o RCN convocou em dezembro a primeira paralisação nacional de dois dias em seus 106 anos de história.
As negociações com o governo conservador de Rishi Sunak foram, no entanto, malsucedidas. Seu único resultado foram mais dois dias de greve em janeiro, e outros dois, nesta segunda e terça-feiras, 6 e 7.
A paralisação de hoje coincide com uma ação na Inglaterra do pessoal de ambulâncias - incluindo motoristas, paramédicos e telefonistas -, resultando na maior greve desde a criação do Serviço Nacional de Saúde (NHS, na sigla em inglês), em 1948.
Saturados neste inverno por doenças sazonais, como a gripe, e ainda sobrecarregados pelas longas filas de espera acumuladas durante a pandemia, os hospitais britânicos estão sufocados há anos devido a um subfinanciamento.
A greve desta segunda-feira levou ao cancelamento de cerca de 80 mil consultas médicas e 11 mil intervenções, "então há um impacto sobre os pacientes", destacou o ministro da Saúde, Steve Barclay, que pediu o fim das greves durante uma visita a um hospital no sudoeste de Londres.
Apesar do caos provocado pelos protestos, 59% dos britânicos apoiam a greve do pessoal de Enfermagem; 43%, a dos professores; e 36%, a dos ferroviários, segundo uma pesquisa da Public First publicada pelo site Politico na última quarta-feira (1º).
O Executivo afirma que os escassos cofres públicos não permitem o financiamento de demandas salariais que seriam, além de tudo, "contraproducentes" em seu esforço para controlar a disparada inflacionária.
"O governador do Banco da Inglaterra advertiu que, se tentarmos combater a inflação com aumentos salariais elevados, a situação só vai piorar, e a população não ficará melhor", afirmou Barclay.
Em vez disso, o governo busca limitar o direito de greve com um projeto de lei que impõe serviços mínimos em setores-chave como saúde, transporte e educação. À medida que a aprovação do texto avança no Parlamento, cresce também a tensão com alguns sindicatos que não parecem dispostos a recuar em suas reivindicações.
"O apoio aos profissionais de enfermagem é forte. O governo não deve esperar que isto diminua. Nossos membros estão dispostos a renunciar a mais um dia de pagamento para conseguir que o governo faça o que é certo", disse a secretária-geral do RCN, Pat Cullen, à Times Radio.
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