Publicado 07/02/2023 12:22
O terremoto na Turquia e na Síria aumenta a pressão sobre organizações humanitárias e países ocidentais para ajudar a população síria, especialmente na zona rebelde de Idlib, no norte do país.
Horas depois do tremor mortal de segunda-feira, 6, a comunidade internacional se mobilizou pela Turquia, enviando rapidamente ajuda de emergência. Países como França, Alemanha e Estados Unidos também prometeram ajudar as vítimas sírias, mas sem enviar ajuda imediata.
"A Síria continua sendo uma área sombria, do ponto de vista legal e diplomático", avalia Marc Schakal, chefe do programa de Médicos Sem Fronteiras (MSF) focado na Síria, pedindo que a ajuda seja enviada "o mais rápido possível".
Schakal teme que ONGs locais e internacionais se vejam sobrecarregadas em um país devastado por quase 12 anos de guerra civil que opõe uma multidão de lados — forças governamentais, rebeldes, jihadistas e curdos, entre outros — e na qual estão presentes tropas de vários países estrangeiros.
O governo de Bashar al-Assad, apoiado pelo Irã e pela Rússia, está isolado internacionalmente e sujeito a inúmeras sanções.
A ajuda é crucial porque "a situação da população já era dramática", insiste o professor Raphaël Pitti, responsável pela ONG francesa Mehad, que está especialmente preocupado com a província de Idlib.
Um dos principais problemas é o acesso a este último reduto controlado por rebeldes e jihadistas, onde vivem 4,8 milhões de pessoas, diz o especialista.
Quase toda a ajuda humanitária que chega a esta região da Turquia passa por Bab al Hawa, o único ponto de acesso, obtido por resolução da ONU.
Enviar ajuda através do território sírio controlado por Damasco seria diplomaticamente difícil. Significaria também que o governo oficial concorda em dar essa ajuda à população das áreas rebeldes e que os beligerantes concordam em sua distribuição.
A travessia de Bab al Hawa, que Damasco e Moscou denunciam como uma violação da soberania síria, permanece provisória e se reduz com o tempo. Sob pressão de Rússia e China, o número de pontos de acesso a percorrer passou de quatro para um.
Após a tragédia de segunda-feira, que já deixou mais de 1.500 mortos e cujo número continua a crescer, o governo de Damasco, sancionado pela comunidade internacional desde o início da guerra em 2011, pediu aos países que enviem ajuda.
O embaixador da Síria na ONU, Bassam Sabbagh, garantiu na segunda-feira que esta ajuda será "para todos os sírios em todo o território". Mas impôs uma condição: que essa ajuda fosse distribuída de dentro do país, sob controle do governo.
"Os acessos a partir da Síria existem, podem ser coordenados com o governo e estamos dispostos a fazê-lo", disse o diplomata, rejeitando a possibilidade de levar a ajuda através de acessos transfronteiriços. França e Alemanha não querem se comprometer.
"Trata-se de ajudar as pessoas em dificuldades após o terremoto e essa ajuda deve chegar às pessoas por todos os meios possíveis", disse uma fonte do governo alemão, acrescentando que Berlim usaria "os canais habituais" das ONGs.
A França pode estar menos presente do que "em outras crises", na medida em que é "incômodo" ir a um país que não reconhece a legitimidade, avalia Emmanuel Dupuy, presidente do Instituto de Prospecção e Segurança.
Para Raphaël Pitti, as áreas sob domínio de Damasco provavelmente receberão ajuda internacional. "Como sempre aconteceu há 10 anos", ressalta.
Mas o professor teme que a população de Idlib, na qual há "2,8 milhões de refugiados", fique para trás, especialmente porque as autoridades turcas já estão sobrecarregadas com suas próprias áreas devastadas pelo terremoto.
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