Centenas de pessoas se reuniram novamente nesta sexta-feira e durante o protesto invadiram as vias férreas em BordeauxAFP
Publicado 17/03/2023 18:18
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Paris - A batalha contra a reforma da Previdência na França se intensificou nesta sexta-feira, 17, após a polêmica adoção por decreto. Além do aumento na adesão dos protestos, duas moções de censura foram apresentadas contra a proposta do governo de Emmanuel Macron.

Com as estradas de Paris bloqueadas durante meia hora, escolas fechadas, dez mil toneladas de lixo acumuladas na capital e as vias férreas em Bordeaux e Toulon invadidas, o mal-estar dos franceses tomou múltiplas formas.

"Recebemos este anúncio como um insulto. Há semanas que não somos escutados. Isso gerou muita raiva", disse Philippe Melaine, professor de uma escola de Rennes , onde mais de duas mil pessoas foram às ruas nesta sexta-feira.

Na quinta, o presidente liberal Emmanuel Macron decidiu adotar sua reforma sem submetê-la ao voto dos deputados, temendo uma derrota no Parlamento, ao recorrer a um mecanismo legal, mas controverso: o artigo 49.3 da Constituição.

Seu objetivo é aumentar a idade de aposentadoria de 62 para 64 anos até 2030 e adiantar para 2027 a exigência de contribuição de 43 (e não 42 como agora) para solicitar uma aposentadoria integral. Dois a cada três franceses se opõem à proposta, segundo as pesquisas.

Para impedir a reforma, a oposição apresentou nesta sexta-feira duas moções de censura - uma do grupo independente LIOT e outra da extrema direita - que, em caso de adoção, derrubarão o governo da primeira-ministra Élizabeth Borne e a reforma.

Explosão social
O governo está sob pressão. Para os analistas, o uso do artigo 49.3 é um "fracasso" e simboliza a "fraqueza" de Macron, colocando em risco a capacidade do presidente de governar durante seu segundo mandato.

Macron poderia se salvar "anunciando que a lei será revogada após essa adoção antidemocrática. Mas não é típico dele ouvir os franceses", afirma o editorial do jornal esquerdista Libération.

No momento, a decisão impulsionou uma contestação nas ruas, que havia perdido força nos últimos dias após o maior protesto contra uma reforma social em três décadas, em 7 de março, que contou com entre 1,28 e 3,5 milhões de manifestantes, convocados pelos sindicatos.

No entanto, os sindicatos temem que o movimento social cresça e se radicalize, informou à AFP o presidente da CFTC, Cyril Chabnier, que lembrou que já alertou o governo para "riscos de uma explosão social" em caso de adoção do artigo 49.3.

Centenas de pessoas se reuniram novamente nesta sexta-feira à tarde na Praça da Concórdia de Paris. Na véspera, a polícia dispersou a multidão com o uso de canhões de água e bombas de gás lacrimogêneo. Os protestos, em várias cidades, resultaram em 310 prisões.

À espera da nova rodada de protestos massivos convocados pelos sindicatos para próxima quinta-feira (23), o líder esquerdista Jean-Luc Mélenchon pediu "manifestações espontâneas". O ministro do Interior, Gérald Darmanin, advertiu que não permitirá a "desordem".

O setor da energia, líder das greves prorrogáveis há dez dias, retomou sua intensidade. Os grevistas ameaçaram paralisar duas refinarias na segunda-feira (20).

- Moções de censura -
Após a ativação do artigo 49.3, a primeira-ministra parece muito fragilizada, depois de ter defendido durante meses o diálogo com a oposição para tentar aprovar uma reforma que buscava equilibrar as contas da Previdência. "Nossa vocação é continuar governando", destacou à Rádio France Inter o porta-voz do Executivo, Olivier Véran.

No início da próxima semana, o governo enfrentará duas moções de censura. A proposta apresentada pelo LIOT deve receber o maior apoio, porém, até agora, faltariam 30 votos para os 287 necessários para derrubar o governo e a reforma.

A frente de esquerda Nupes, o grupo de extrema direita de Marine Le Pen e os deputados do LIOT votarão a favor, enquanto o partido opositor de direita Os Republicanos (LR), que negociou a reforma com o governo, apesar da reprovação de vinte deputados dissidentes, não deverá apoiar a moção.

Macron, reeleito para um segundo mandato até 2027 e a quem a moção não afeta, ameaçou dissolver a Assembleia se a reforma for derrubada. Segundo as pesquisas, a extrema direita seria a mais beneficiada com um avanço eleitoral.
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