Durante a ditadura argentina houve evidência de um plano de apropriação de bebês e do desaparecimento de centenas de jornalistas Reprodução/Sindicato de Prensa de Buenos Aires
Publicado 24/03/2023 15:44
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Buenos Aires - Milhares de argentinos foram às ruas, nesta sexta-feira, 24, rumo à histórica Praça de Maio, em Buenos Aires, e aos parques da Argentina no 47º aniversário do golpe de Estado de 1976, instituído como Dia da Memória, da Verdade e da Justiça.
Como ocorre a cada ano, multidões de argentinos rendem, nessa data, homenagens aos milhares de desaparecidos e vítimas da ditadura sob o já histórico lema "Nunca mais", que voltou a ficar em voga com o filme "Argentina, 1985", nomeado esse ano ao Oscar de Melhor Filme Internacional e que retrata o primeiro julgamento dos comandantes da ditadura com sentenças de prisão.
"Meu pai (Ángel Pisarello) foi sequestrado e assassinado por ser advogado de presos políticos", disse à rádio 750 na Praça de Maio seu filho, Gerardo Pisarello, ex-alto-funcionário da Prefeitura de Barcelona, cidade que escolheu para morar desde 2001.
Ao anoitecer, as entidades defensoras de direitos humanos vão ler um documento no ato final, porém as mobilizações se estenderão pelo dia todo nas ruas e avenidas de cidades e povoados do país de 45 milhões de habitantes.
"Faço uma reflexão positiva de como a Argentina pôde resolver um processo tão doloroso como foi o golpe, o genocídio e a tortura e esse exemplo é reconhecido mundialmente", disse à rádio Destape, a caminho da praça, o ministro do Interior Eduardo De Pedro, filho de dois militantes políticos sequestrados e assassinados por agentes da ditadura.
Desde que, em 2003, foram revogadas pelo Congresso leis de anistia adotadas durante o governo do direitista Carlos Menem (1985-1989), 1.115 ex-militares e ex-policiais foram condenados em quase 300 julgamentos, segundo estatísticas da Promotoria de Crimes Contra a Humanidade.
"É preciso manter a memória, senão a história se repete", disse à rádio 750 a presidente das Avós da Praça de Maio, Estela de Carlotto, cuja organização conseguiu até agora reconstituir a identidade de 132 pessoas, arrancadas ainda bebês dos braços de suas mães, presas e desaparecidas.
A evidência de um plano sistemático de apropriação de bebês, muitos deles nascidos em cativeiro, permitiu a condenação à prisão perpétua do ditador Jorge Videla, que havia sido indultado por Menem. Videla morreu em 2013 na prisão.
"Esse ano é especial, são 40 anos de democracia (em 10 de dezembro) e 20 anos da revogação das leis de anistia", disse o secretário de Direitos Humanos do governo, Horacio Pietragalla Corti, que foi roubado quando bebê e logo se tornou o "neto 75" recuperado pelas Avós da Praça de Maio. 
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