Publicado 30/03/2023 11:20
O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, criticou o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, seu principal aliado internacional, ampliando a crise diplomática entre os dois países na esteira da reforma do Judiciário promovida por ele. Em comunicado, Netanyahu afirmou que Israel é um país soberano que não toma decisões com base em pressões do exterior. A reforma é apontada por especialistas como uma ameaça à democracia em Israel.
"Conheço o presidente Biden há mais de 40 anos e agradeço seu compromisso de longa data com Israel", disse Netanyahu em um comunicado publicado em inglês no Twitter. Mas acrescentou: "Israel é um país soberano que toma suas decisões pela vontade de seu povo e não com base em pressões do exterior, até mesmo dos melhores amigos".
O comentário foi feito após semanas de uma pressão diplomática silenciosa dos principais aliados de Israel à reforma do Judiciário que tem colocado o país em ebulição. Oponentes de Netanyahu o acusam de colocar em risco o relacionamento de longa data com os EUA, um país fundamental nas políticas de segurança de Israel, incluindo na estratégia de contenção do inimigo Irã.
Mais tarde, porém, Netanyahu adotou um tom mais conciliador, dizendo que, embora "Israel e os EUA tenham suas diferenças ocasionais", a aliança entre eles é "inabalável".
Preocupação
Os comentários de Netanyahu foram feitos depois que Biden disse a repórteres que estava "muito preocupado" com os eventos em Israel. O líder americano deu a declaração após sugestão, na terça-feira, do embaixador dos EUA em Israel de que Netanyahu seria bem-vindo em Washington em breve. Biden deixou claro que um convite não deveria ser feito em breve.
"Eles não podem continuar por esse caminho — eu meio que deixei isso claro. Esperamos que o primeiro-ministro aja de maneira a tentar chegar a um compromisso genuíno, mas isso ainda precisa ser visto", disse Biden.
Os aliados ocidentais de Israel têm demonstrado preocupação desde que Netanyahu foi reeleito em novembro e formou a coalizão mais extremista da história do país, que inclui políticos ultraortodoxos e anti-Palestina. Mas as preocupações aumentaram em meio aos esforços da coalizão para exercer mais controle político sobre a Suprema Corte, desencadeando a pior crise interna em décadas.
Para engrossar as críticas de aliados de Israel, o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, também pediu a Netanyahu que encontre um consenso em sua reforma durante visita do premiê israelense a Londres no fim de semana.
A troca de críticas ocorre após Netanyahu adiar, na segunda-feira, o envio ao Parlamento de sua reforma judicial, com a promessa de permitir um diálogo com os opositores.
Esperava-se que o adiamento do plano aliviasse as tensões com Washington. Mas os comentários de Biden indicaram que os EUA permanecem cautelosos com relação aos planos de Netanyahu e esperarão para ver o resultado das negociações em Israel nas próximas semanas.
Netanyahu teve várias discussões públicas com o ex-presidente Barack Obama sobre as políticas de Israel em relação aos palestinos e à questão nuclear iraniana. Em 2015, ele falou ao Congresso americano sem o conhecimento da Casa Branca e protestou contra o acordo nuclear entre as potências mundiais e o Irã que estava para ser fechado.
Nimrod Goren, membro sênior do Instituto do Oriente Médio, observou que a relação EUA-Israel já teve pontos de crise anteriores, como o caso do programa nuclear com o Irã. Mas agora a Casa Branca parece estar "questionando a competência de Netanyahu como primeiro-ministro e se ele é confiável ou responsável".
As críticas de Biden e a resposta de Netanyahu provocaram um alvoroço político em Israel, em meio às conversações do presidente Isaac Herzog com representantes de alguns dos partidos menores da oposição não diretamente envolvidos nas negociações.
Membros da coalizão de governo de Netanyahu denunciaram os comentários de Biden, enquanto opositores defenderam as relações com os EUA. Itamar Ben-Gvir, líder do partido ultraortodoxo da coalizão e ministro encarregado da polícia, disse à Rádio do Exército que o país "não é outra estrela na bandeira americana". "Espero que o presidente dos EUA entenda esse ponto."
"Prejudicar as relações com os EUA, nosso melhor amigo e nosso aliado mais importante, é um ataque estratégico. O premiê deve orientar suas equipes de negociação em relação à legislação judicial, agir rapidamente para reparar a situação e preservar a democracia israelense que está na base desses valores", disse o ex-premiê e ex-ministro da Defesa Benny Gantz no Twitter.
A reforma
Netanyahu e seus aliados religiosos e ultranacionalistas anunciaram a polêmica reforma judicial em janeiro, poucos dias após formarem seu governo. Entre vários trechos da proposta, a mais polêmica e que ainda está para ser votada é a que dá à coalizão governista mais influência sobre a seleção dos juízes da Suprema Corte e permite escolher o próximo presidente do tribunal. Além disso, a influência de Netanyahu na legislação é vista como conflito de interesses, já que ele é investigado em pelo menos três casos de corrupção.
Os críticos dizem que a legislação concentrará o poder nas mãos da coalizão no Parlamento e perturbará o equilíbrio entre os poderes do governo.
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