Um artefato entregue de presente a Maxim Fomin, no Street Bar Cafe, causou a sua morteAFP
Publicado 03/04/2023 10:09 | Atualizado 03/04/2023 10:12
Publicidade
A Rússia acusou nesta segunda-feira, 3, a Ucrânia de ter organizado, com a cumplicidade de partidários do opositor russo detido Alexei Navalny, o atentado que matou no domingo, 2, em São Petersburgo, um famoso blogueiro militar e defensor fervoroso da ofensiva contra Kiev.

Os investigadores anunciaram a detenção de uma mulher, Daria Trepova, de nacionalidade russa e apresentada como militante da Fundação Anticorrupção, de Navalny, considerada ilegal no país desde 2021.

A polícia divulgou um vídeo no qual a mulher, de 26 anos, admite que transportou a estatueta com o explosivo que matou o blogueiro Maxim Fomin, conhecido pelo pseudônimo Vladlen Tatarsky.

Após ser questionada por um policial sobre quem entregou a bomba para ela, a jovem respondeu que explicaria "mais tarde".

Navalny, detido há mais de dois anos, cumpre uma pena de nove anos de prisão por fraude e também é acusado de extremismo.

O atentado "foi planejado pelos serviços especiais ucranianos, que recrutaram agentes entre os que colaboram com a chamada Fundação Anticorrupção de Navalny", anunciou o comitê antiterrorismo russo nesta segunda-feira.

O porta-voz do presidente russo, Vladimir Putin, denunciou um "ato de terrorismo". No domingo, o conselheiro da presidência ucraniana, Mikhailo Podoliak, negou no Twitter qualquer envolvimento de Kiev e afirmou que era um ato de "terrorismo interno" provocado pelas rivalidades contra o regime russo.

Após as acusações contra a organização de Navalny, a porta-voz da fundação, Kira Yarmysh, denunciou um golpe organizado pelo Kremlin.

"Alexei será julgado em breve por extremismo, ele pode ser condenado a 35 anos (de prisão). E o Kremlin considera genial poder acrescentar uma acusação de 'terrorismo'", tuitou.

Wagner 
A Rússia mantém uma repressão sem trégua aos críticos do Kremlin, em particular contra os que questionam a intervenção militar na Ucrânia.

De acordo com a agência estatal de notícias Tass, a mulher detida nesta segunda-feira já passou 10 dias presa em 2022 por protestar contra a ofensiva russa.

O blogueiro Tatarsky morreu no domingo em um atentado com bomba em um café de São Petersburgo, onde discursava em uma conferência de uma organização de apoio à ofensiva russa na Ucrânia, a Cyber Z Front.

Vários meios de comunicação da Rússia afirmaram que Trepova levou para a conferência uma bomba camuflada em uma estatueta que foi entregue ao blogueiro durante o evento. O balanço atualizado afirma que o ataque deixou 32 pessoas feridas, oito delas em estado grave.

O café atacado pertence ao fundador do grupo paramilitar Wagner, Yevgueni Prigozhin, que informou ter disponibilizado o local para a organização.

O ataque recorda o que foi executado em agosto do ano passado contra Daria Duguina, grande defensora da ofensiva na Ucrânia e filha do ideólogo ultranacionalista Alexander Duguin. Moscou acusou Kiev, que negou qualquer participação no assassinato.

Mataremos todos
Prigozhin, em oposição às autoridades russas, pareceu descartar que os assassinatos tenham sido organizados pelos serviços especiais ucranianos.

"Eu não acusaria o regime de Kiev por estes atos. Acredito que um grupo de radicais está agindo", disse no canal Telegram de seu serviço de imprensa.

O blogueiro, de 40 anos, era natural do Donbass, no leste da Ucrânia e epicentro do conflito. Tatarsky, que viajava com frequência à frente de batalha, tinha mais de meio milhão de seguidores no Telegram.

De acordo com a imprensa russa, ele foi preso na Ucrânia por um assalto em 2011. Três anos depois, aproveitando os confrontos no leste ucraniano iniciados por separatistas pró-Rússia, ele fugiu da prisão e se uniu a estes combatentes.

Em 2019, ele deixou as forças separatistas, segundo o jornal Kommersant, para concentrar-se em seu blog. Em setembro, seus comentários em uma celebração do Kremlin sobre a anexação de várias regiões ucranianas provocaram grande impacto.

"Vamos vencer todos, mataremos todos, roubaremos quantas pessoas forem necessárias. Tudo do jeito que nós gostamos", afirmou.
Publicidade
Leia mais