Soldados ucranianos posicionados em diferentes partes do front para recuperar regiões dominadas por tropas russasAFP
Publicado 11/04/2023 12:13
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Kiev - As forças ucranianas enfrentam há meses a ofensiva russa em cidades e trincheiras no leste do país. Agora que as tropas em Moscou parecem estar perdendo força, Kiev acredita que a hora da contraofensiva chegou, sem uma data precisa por enquanto.

"Se nosso Estado-Maior disser que temos soldados suficientes, projéteis suficientes e tudo suficiente para atacar, estamos prontos", disse à AFP um soldado ucraniano conhecido como Mark, na região de Donetsk.

A Rússia sofreu grandes reveses no ano passado, tendo que se retirar das áreas de Kiev, Kharkiv (leste) e da cidade de Kherson (sul). Os especialistas militares acreditam que, desta vez, as tropas ucranianas possuem uma margem de manobra curta para se impor.

A Ucrânia afirma ter formado brigadas de ataque e estocado munição, enquanto trabalhava para fornecer espaço para seus soldados descansarem e exaurir o inimigo nas linhas de frente. Também recebeu tanques e artilharia de longo alcance de seus parceiros ocidentais.

Tudo isso para esta tão esperada contraofensiva, que cada vez mais se apresenta como uma última tentativa de repelir as forças de Moscou dos territórios ocupados.

"Quem sabe quando a Ucrânia terá essa oportunidade novamente? É agora ou nunca", resume o pesquisador do Instituto Nacional de Estudos Estratégicos de Kiev, Mikola Bielieskov.

MOMENTO ESTRATÉGICO
No momento, a grande questão é saber quando a contraofensiva ucraniana irá começar. O Ministério da Defesa publicou recentemente sátiras que mostravam um soldado dançando em uma trincheira cheia de lama, com a legenda: "quando o chão endurecer, será possível atacar".

Bielieskov acredita que o fundamental, mais do que as condições meteorológicas, é "o domínio que as tropas ucranianas têm das armas prometidas pelo Ocidente e a sincronização da inteligência e da logística". De acordo com ele, os preparativos da ofensiva ucraniana podem culminar em junho ou em julho.

"Todos em Kiev sabem que uma ofensiva prematura tem menos chance de sucesso", acrescenta Bielieskov.

As regiões ao sul de Zaporizhzhia e Kherson, parcialmente ocupadas pelas forças russas, são alvos prováveis. Com a tomada, Kiev romperia o corredor terrestre que liga a Rússia à península anexada da Crimeia.

Os obuses ucranianos irão desempenhar um papel importante nesta batalha, contra posições que a Rússia teve tempo de fortalecer.

Soldados ucranianos posicionados em diferentes partes do front disseram à AFP, no entanto, que estão sendo esmagados pelo poder de fogo da artilharia russa, que aparentemente tem uma reserva muito maior de obuses.

Nesse sentido, a UE adotou em março um plano de 2 bilhões de euros, cerca de R$ 11 bilhões, destinados ao abastecimento de munições da Ucrânia.

"Ao contrário dos russos, não estamos preocupados com o número de disparos, mas sim com a sua precisão. É assim que a Ucrânia pretende colmatar acabar com esse déficit", diz Mikola Bielieskov. "O problema é que pagamos por isso com homens", aponta.

Os anúncios de recrutamento divulgados em Kiev atestam grandes esforços para construir uma nova força capaz de enfrentar a contraofensiva, especialmente depois das perdas sofridas em mais de um ano de combates.

Kiev não divulgou números, embora o chefe do grupo paramilitar russo Wagner, Yevgeny Prigozhin, atualmente na linha de frente do front oriental, tenha alertado que Moscou deve estar pronta para repelir uma força ucraniana de 200 mil a 400 mil homens.

Os vazamentos de documentos secretos dos Estados Unidos, muitos dos quais parecem autênticos, mencionam escassez de equipamentos de precisão e munição do lado ucraniano, assim como sistemas de defesa aérea que atingiram seus limites.

"Sem superioridade aérea, realizar ofensivas sob fogo de aeronaves inimigas é no mínimo difícil, para não dizer o pior", pontuou recentemente o porta-voz da aviação ucraniana, Yuri Ignat.

As autoridades ucranianas foram rápidas em minimizar o impacto desses vazamentos de documentos e garantiram que os planos de contraofensiva "ainda estão sendo preparados".
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