Pentágono ainda avalia os danos dos causados pelo vazamento de documentos secretosDepartamento do Defesa dos EUA/Divulgação
Publicado 16/04/2023 16:38
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No início de abril surgiram notícias de documentos militares altamente sigilosos sobre a guerra da Ucrânia, levando o Pentágono a iniciar o controle de danos com força total, buscando apaziguar aliados e avaliar a extensão do vazamento.
As informações nos muitos slides trouxeram a público possíveis vulnerabilidades nos recursos de defesa aérea da Ucrânia e expuseram avaliações privadas de aliados sobre uma série de questões de inteligência, despertando perguntas quanto à possibilidade de que o vazamento possa minar a confiança dos aliados em compartilhar informações com os EUA, ou impactar os planos da Ucrânia para intensificar a luta contra a Rússia nesta primavera.
De maneira geral, os documentos vazados representam um "risco muito grave para a segurança nacional", disse um importante porta-voz do Pentágono a repórteres na segunda-feira, 10.
Abaixo uma visão geral acerca dos documentos, o que se sabe sobre o vazamento, e seu potencial impacto:
O que são?
Os documentos sigilosos - que não foram autenticados individualmente por autoridades americanas - variam de slides de instruções mapeando posições militares ucranianas a avaliações de apoio internacional à Ucrânia e outros tópicos delicados, incluindo sob quais circunstâncias o presidente russo Vladimir Putin pode usar armas nucleares.
Não há uma resposta clara sobre quantos documentos vazaram. A Associated Press analisou aproximadamente 50 documentos, mas algumas estimativas colocam o número total na casa das centenas.
De onde eles vieram?
Investigadores federais americanos prenderam na quinta-feira, 13, Jack Teixeira, um oficial da Guarda Nacional de Massachusetts de 21 anos, que eles acreditam estar ligado ao vazamento em massa de documentos secretos de inteligência dos EUA. O vazamento prejudicou as relações com aliados americanos e expuseram fraquezas nas forças armadas ucranianas.
O aviador Teixeira supervisionava um grupo online chamado Thug Shaker Central, no qual cerca de 20 a 30 pessoas, a maioria jovens e adolescentes, se reuniam para compartilhar o amor por armas, memes racistas online e videogames.
Na tarde da quinta-feira, cerca de meia dúzia de agentes fortemente armados do FBI entraram na casa de Teixeira. O FBI disse em um comunicado que havia feito uma prisão e continuava a conduzir "atividades policiais autorizadas" em uma residência em North Dighton.
Discord
O Discord é uma plataforma de mídia social popular entre as pessoas que jogam jogos online. O site Discord hospeda chats de voz, vídeo e texto em tempo real para grupos e se descreve como um lugar "onde você pode fazer parte de um clube escolar, um grupo de jogadores ou uma comunidade artística mundial".
Em um desses fóruns, originalmente criado para tratar de assuntos diversos, os membros debatiam a guerra na Ucrânia. De acordo com um dos integrantes do chat, um usuário não identificado compartilhou documentos que alegou serem sigilosos, primeiro transcrevendo-os, juntamente com opiniões do próprio usuário e, depois, alguns meses atrás, enviando imagens de papéis dobrados.
A pessoa que disse ser integrante do fórum disse à Associated Press que outra pessoa, identificada online apenas como "Lucca", compartilhou os documentos em um outro chat do Discord. A partir daí, eles parecem ter se espalhado até serem captados pela mídia.
O que foi revelado
Os vazamentos revelaram o quanto os EUA monitoram de perto como seus aliados e amigos interagem com a Rússia e a China. Autoridades de diversos países negaram ou rejeitaram as alegações dos documentos vazados.
A AP noticiou que a inteligência dos EUA captou alegações de agentes russos de que eles estariam construindo um relacionamento mais próximo com os Emirados Árabes Unidos, país do Oriente Médio rico em petróleo, que abriga importantes instalações militares americanas. Os Emirados Árabes Unidos rejeitaram as alegações, chamando-as de "categoricamente falsas"
O jornal The Washington Post informou na segunda-feira que o presidente do Egito teria determinado aos subordinados que se preparassem secretamente para enviar até 40.000 foguetes para a Rússia durante a guerra contra a Ucrânia. Um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Egito disse que o país mantém "o não envolvimento nesta crise e se compromete a manter distância igual de ambos os lados".
Outros vazamentos dizem respeito a alegações de que os líderes sul-coreanos estariam hesitantes em enviar projéteis de artilharia para a Ucrânia e que o serviço de espionagem Mossad de Israel se oporia à proposta de reforma do judiciário do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
Com orçamento anual de US$90 bilhões (R$445 bilhões), as agências de inteligência dos EUA têm amplos poderes para interceptar comunicações eletrônicas, espionar e monitorar por satélites. Os resultados desses poderes raramente são expostos publicamente, mesmo de forma limitada.
A RESPOSTA DOS EUA
O Pentágono iniciou uma auditoria interna para avaliar o impacto do vazamento na segurança nacional. A auditoria está sendo coordenada por Milancy D. Harris, vice-subsecretário de defesa para inteligência e segurança, segundo informou uma autoridade de defesa em comunicado à AP. Essa autoridade também afirmou que a equipe inclui representantes dos órgão de assuntos legislativos, assuntos públicos, políticas, assessoria jurídica e a equipe conjunta.
O Pentágono também está tomando medidas rapidamente para reduzir o número de pessoas que têm acesso aos briefings do governo, disse outro funcionário da defesa. Ambos os funcionários falaram sob condição de anonimato para discutir assuntos delicados. Autoridades do Pentágono também estão monitorando de perto onde os slides vazados estão "sendo publicados e amplificados", disse Chris Meagher, assistente do secretário de defesa para relações públicas.
Paralelamente, o Departamento de Justiça abriu uma investigação criminal para descobrir como os slides foram obtidos e vazados.
Na terça-feira, o diretor da CIA, William Burns, chamou o vazamento de "profundamente lamentável".
"É algo que o governo dos EUA leva muito a sério", comentou, em uma fala na Universidade Rice. "O Pentágono e o Departamento de Justiça deram início a uma investigação intensa para chegar até o fundo da questão".
Qual o impacto?
Líderes militares de alto escalão têm entrado em contato com aliados para lidar com as consequências. Isso inclui ligações "de alto nível para tranquilizá-los de nosso compromisso com a proteção da inteligência e a lealdade às nossas parcerias de segurança. Essas conversas tiveram início no fim de semana, e continuam acontecendo", disse Meagher.
É provável que as autoridades americanas enfrentem mais questionamentos quando viajarem para a Alemanha na semana que vem para a próxima reunião do grupo de aliados, onde representantes de mais de 50 países se reúnem para coordenar armas e auxílio para a Ucrânia. Contudo, não se espera que o vazamento dos documentos afete a reunião ou a disposição dos aliados em continuar a fornecer assistência militar à Ucrânia, disse um alto funcionário de defesa dos EUA à Associated Press, falando sob condição de anonimato para discutir assuntos delicados.
"Acho que muitos dos aliados provavelmente ficarão mais curiosos sobre os motivos para isso ter ocorrido", disse Chris Skaluba, diretor da iniciativa de segurança transatlântica da organização Atlantic Council. Considerando, em primeiro lugar, o alto nível de autorização de segurança necessário para acessar as informações, o vazamento enseja perguntas sobre quem "teria tanto interesse nessa divulgação" e a possibilidade de intenção em minar o apoio à Ucrânia, disse Skaluba.
Na terça-feira, Austin entrou em contato com o ministro da Defesa da Coreia do Sul, Lee Jong-sup, para discutir os documentos vazados, vários dos quais eram especialmente sensíveis para Seul porque descreviam a vigilância dos EUA sobre seu aliado e detalhavam as hesitações do país quanto ao fornecimento de munições diretamente à Ucrânia.
As duas autoridades de defesa concordaram que um "número considerável" dos documentos vazados teriam sido forjados, disse aos repórteres o vice-diretor de segurança nacional da Coreia do Sul, Kim Tae-hyo. Segundo ele, a aliança entre os dois países não será afetada pelo vazamento, e a Coreia do Sul buscará fortalecer ainda mais a cooperação com os Estados Unidos.
Tanto Austin quanto o secretário de Estado, Antony Blinken, entraram em contato com seus colegas na Ucrânia. Austin sugeriu, na terça-feira, que os vazamentos não teriam muito impacto sobre os planos da Ucrânia para uma ofensiva na primavera.
A estratégia ucraniana "não será conduzida por um plano específico. Eles têm um grande plano para começar, mas apenas o presidente Zelenskyy e sua liderança realmente conhecem todos os detalhes desse plano", disse Austin.
A respeito de outras questões delicadas destacadas nos slides vazados, como a escassez de munições de defesa aérea da Ucrânia, a escassez em si é conhecida e é uma das razões pelas quais os líderes militares dos EUA têm pressionado aliados para fornecer quaisquer sistemas que puderem, como os sistemas Iris-T prometidos pela Alemanha e os sistemas de defesa aérea Hawk fabricados nos EUA, fornecidos pela Espanha.
"A divulgação de uma aparente escassez de mísseis antiaéreos pode ser um conforto para a Rússia. Mas, se isso incentivar os parceiros da Ucrânia a acelerar a entrega de mísseis e outros recursos de defesa aérea, Kiev ficará agradecida. O maior ‘desconhecido conhecido’ é até que ponto esses vazamentos influenciam o apoio político dos EUA à Ucrânia", disse Ben Barry, pesquisador sênior de guerra terrestre no Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, com sede em Londres.
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