Publicado 06/05/2023 07:39 | Atualizado 07/05/2023 13:54
Depois de subir ao trono oito meses após a morte de sua mãe, Elizabeth II, Charles III foi coroado neste sábado (6), ao lado de sua esposa, Camilla, em uma cerimônia solene e suntuosa, única na Europa, um evento que não acontecia no Reino Unido há 70 anos.
O arcebispo de Canterbury, Justin Welby, líder espiritual da Igreja da Inglaterra, colocou na cabeça do monarca de 74 anos a coroa de Santo Eduardo, que não era utilizada desde a coroação, em 1953, de sua mãe, que faleceu em setembro do ano passado. A rainha Camilla foi coroada imediatamente depois, em um ritual similar, porém mais simples.
Sentados na primeira fileira da imponente Abadia de Westminster, os herdeiros da coroa, William e Kate, acompanharam a cerimônia religiosa, pontuada por cânticos e leituras do Evangelho, concebida de acordo com um ritual de grande pompa que praticamente não mudou nós últimos mil anos.
Quase 2.300 convidados estavam no templo, incluindo a primeira-dama dos Estados Unidos, Jill Biden, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, assim como centenas de representantes da sociedade civil britânica.
O príncipe Harry, filho mais novo de Charles, que mantém uma relação tensa com a família real, sentou ao lado dos primos na terceira fileira, sem a esposa Meghan Markle, que ficou na Califórnia com os dois filhos do casal.
"Deus salve o rei Charles!", afirmaram os presentes para marcar o início da cerimônia, depois que Charles III, de 74 anos, e Camilla, de 75, entraram com as capas cerimoniais na abadia, após uma breve procissão de carruagem que começou no Palácio de Buckingham.
Com a mão na Bíblia, o rei prestou juramento. Em seguida, na parte que é considerada a mais sagrada da cerimônia, o arcebispo Welby ungiu as mãos, o peito e a cabeça do monarca, que estava escondido da vista de todos por uma tela.
Em substituição à tradicional homenagem dos aristocratas, o religioso convidou todas as pessoas, onde quer que estivessem assistindo ou ouvindo a coroação, a jurar lealdade ao novo rei, uma novidade histórica que pretendia democratizar a cerimônia, mas que provocou fortes críticas do movimento contrário à monarquia.
Apesar da chuva persistente, milhares de fãs da monarquia se aglomeraram nas ruas de Londres, ao longo do percurso da carruagem real, para saudar os monarcas. "Estamos muito entusiasmados, muito orgulhosos de sermos britânicos", disse à AFP Phyllis Taylor, de 60 anos, que viajou da Escócia para Londres com o marido para "esta ocasião muito especial".
No trajeto, no entanto, o casal real passou por cartazes do grupo antimonarquista "Republic", com a frase "Not my king" (Não é meu rei). Ativistas foram detidos quando se preparavam para protestar, o que perturbou a cidade algumas horas antes da cerimônia. "Prenderam seis dos nossos organizadores e confiscaram centenas de cartazes.
"Não disseram o motivo da detenção, nem para onde foram levados", declarou à AFP um manifestante. Quase 20 membros do grupo ecologista "Just Stop Oil" também foram detidos e algemados na mesma área, segundo um fotógrafo da AFP.
"Isto é algo que esperaríamos ver em Moscou, não em Londres", disse Yasmine Ahmed, diretora da ONG Human Rights Watch.
"Os protestos pacíficos permitem exigir que os que estão no poder sejam responsabilizados, algo a que o governo do Reino Unido parece cada vez mais relutante", acrescentou, em referência a uma nova lei aprovada esta semana que dá mais poderes à polícia contra as manifestações.
Embora o rei desejasse uma cerimônia mais moderna e simples que a de sua mãe, em um momento de grave crise pelo aumento do custo de vida, três coroas cravejadas de diamantes foram utilizadas no evento: uma para Camilla e duas para Charles III, porque a coroa de Santo Eduardo é usada apenas no momento preciso da coroação.
Também foram utilizadas diversas vestimentas antigas bordadas a ouro: o rei apareceu com as peças de maneira progressiva durante a cerimônia, o que incluiu três cetros, uma espada cravejada de pedras preciosas e um par de esporas de ouro.
Em um aceno às convicções ecológicas do monarca, o óleo da unção era vegano, mas consagrado - como a tradição exige - na Igreja do Santo Sepulcro de Jerusalém, onde os cristãos acreditam que Jesus foi enterrado.
Após a cerimônia, os monarcas, acompanhados por milhares de militares e integrantes da realeza, retornam em uma nova procissão ao Palácio de Buckingham, onde, ao lado da família, acenam para a multidão.
O príncipe Harry não deve aparecer ao lado do pai, a menos que a família adote um gesto de reconciliação com o filho mais novo de Charles III, que fez duras críticas à monarquia, em particular contra a rainha Camilla e seu irmão mais velho, William.