O presidente russo, Vladimir Putin, não se pronunciou sobre o ataque em Belgorod durante uma cerimônia no KremlinAFP
Publicado 23/05/2023 11:48
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Moscou - O governo da Rússia afirmou nesta terça-feira (23) que "esmagou" com sua força aérea e artilharia o grupo que atacou a região fronteiriça de Belgorod a partir da Ucrânia no dia anterior, a incursão mais grave em seu território desde o início do conflito.

Na segunda-feira (22), combatentes da Ucrânia atacaram várias cidades na região de Belgorod, onde também foram registrados ações com artilharia e drones que obrigaram os moradores a fugir.

O Kremlin expressou "profunda preocupação" e pediu o aumento dos "esforços" para evitar as incursões, que se somam a uma série de ataques em território russo, no momento em que a Ucrânia afirma estar a preparar uma grande ofensiva.

O Ministério da Defesa da Rússia afirmou na terça-feira que impediu a incursão após uma operação de escala sem precedentes que envolveu a Força Aérea e a artilharia.

"Na operação antiterrorista, as formações nacionalistas [ucranianas] foram bloqueadas e esmagadas por bombardeio aéreo e fogo de artilharia", disse o ministério em comunicado.

"Os nacionalistas restantes foram repelidos para o território da Ucrânia, onde os bombardeios [...] continuaram até sua eliminação total", acrescentou o ministério, que afirmou que "mais de 70 terroristas ucranianos" foram mortos.

Não foi possível verificar as informações com fontes independentes.

"Mais esforços"
A Rússia acusou a Ucrânia de planejar o ataque, mas Kiev nega.

"Não estamos travando nenhuma guerra em territórios estrangeiros", disse a vice-ministra da Defesa ucraniana, Ganna Maliar, nesta terça-feira, referindo-se a uma "crise interna russa".

Vários russos entrevistados pela AFP em Moscou manifestaram medo de novos ataques.

"Toda a nação russa está nervosa com a ideia de que (os ataques) possam chegar mais longe, em Moscou inclusive", declarou Alexander, um engenheiro de 42 anos que preferiu não fornecer o sobrenome.

Os ucranianos entrevistados em Kiev estavam mais interessados nos combates em seu território.

"Nossos militares devem recuperar o que os russos tomaram, as cidades da Ucrânia. Não precisamos da Rússia", disse Olga, de 26 anos, que trabalha em uma creche.

A operação foi reivindicada em um canal do Telegram pela "Legião Liberdade para a Rússia", um grupo de russos que luta do lado ucraniano e que em outras ocasiões já afirmou ter realizado incursões na mesma região. Outro grupo semelhante teria participado da operação, o "Corpo de Voluntários Russos".

"O que aconteceu ontem [segunda-feira] desperta profunda preocupação e mostra, mais uma vez, que os combatentes ucranianos continuam suas atividades contra nosso país", disse o porta-voz da Presidência russa, Dmitri Peskov, à imprensa.

"Isso requer mais esforços de nossa parte, esforços que continuam e a operação militar especial [na Ucrânia] continua para que isso não volte a acontecer", acrescentou.

O governador de Belgorod, Viacheslav Gladkov, declarou que várias cidades, incluindo a cidade de Grayvoron, capital do distrito de mesmo nome, sofreram "inúmeros" bombardeios baseados em artilharia, lança-foguetes múltiplos e drones.

Nove cidades foram evacuadas, explicou Gladkov, que relatou pelo menos 12 civis feridos.

Em resposta à incursão, a Rússia decretou na segunda-feira um regime "antiterrorista" em toda a região de Belgorod, um protocolo que concede às autoridades mais poderes para realizar operações armadas, realizar controles sobre a população e realizar evacuações. Foi usado na Chechênia de 1999 a 2009.

Putin mantém silêncio
Até agora, o presidente russo, Vladimir Putin, não se pronunciou sobre o ataque. Durante uma cerimônia de entrega de condecorações nesta terça-feira no Kremlin, limitou-se a falar de forma geral sobre o conflito na Ucrânia.

"Sim, a Rússia enfrenta tempos difíceis, mas este é um momento particular para a nossa consolidação" nacional, afirmou, reiterando que Moscou defende a população russa do Donbass ucraniano.

Na segunda-feira, o Kremlin acusou Kiev de orquestrar a ação com o objetivo de "desviar a atenção" da tomada da cidade de Bakhmut, no leste da Ucrânia, reivindicada por Moscou.

No último fim de semana, as forças russas reivindicaram a captura da cidade do leste ucraniano, que foi devastada na batalha por sua conquista, a mais longa e letal do conflito e que teria provocado enormes perdas para os dois lados.

Kiev negou a perda de Bakhmut e nesta terça-feira afirmou que "as batalhas pela cidade [...] continuam".

Além disso, o presidente Volodimir Zelensky visitou nesta terça-feira a linha de frente na região de Donetsk (leste), palco de intensos combates. 
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