Centro Feminino de Adaptação Social abrigava cerca de 900 detentasFredy Rodríguez/REUTERS
Publicado 21/06/2023 12:20
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Um confronto entre membros de gangues que derivou em um incêndio deixou pelo menos 46 mulheres mortas na terça-feira, 20, em um presídio feminino perto da capital de Honduras, Tegucigalpa, informou a polícia à AFP. Pelo menos outras cinco mulheres feridas foram levadas para o Hospital Escola.
O motim aconteceu em uma penitenciária feminina situada 25 km ao norte de Tegucigalpa, indicou Edgardo Barahona, porta-voz policial. O Centro Feminino de Adaptação Social abrigava cerca de 900 detentas. Centenas de familiares chegaram desesperados às cercanias do presídio para buscar informações sobre a situação de seus parentes
Delma Ordóñez, presidente de uma associação de familiares de presos, relatou à imprensa local que as integrantes de um grupo invadiram o setor de uma gangue rival e o incendiaram. Segundo ela, as vítimas eram integrantes da Mara Salvatrucha, por isso se suspeita que o ataque foi cometido por membros de uma gangue rival, a Barrio 18. "O módulo está completamente destruído, foi queimado em sua totalidade", assinalou.
A presidente hondurenha, Xiomara Castro, escreveu no Twitter que está "chocada" com o "monstruoso assassinato de mulheres [...] planejado por criminosos de gangues aos olhos e com a complacência das autoridades de Segurança".
A mandatária anunciou "medidas drásticas" após o incidente e demitiu o ministro da Segurança, Ramón Sabillón, que será transferido para o serviço no exterior. Em comunicado, o governo afirmou que colocou o general Gustavo Sánchez, comandante da Polícia Nacional, no comando do Ministério. 
O porta-voz do Ministério Público, Yuri Mora, disse à AFP que a maioria das vítimas morreu queimada e que outras foram baleadas. A vice-ministra de Segurança e também presidente da comissão interventora dos presídios, Julissa Villanueva, declarou situação de "emergência" no centro penitenciário.
"Não vamos tolerar atos de vandalismo nem tampouco irregularidades nessa prisão. Está autorizada a intervenção imediata com acompanhamento de bombeiros, policiais e militares, declara-se emergência", tuitou Villanueva.
Villanueva foi nomeada para o cargo depois que vários enfrentamentos em quatro penitenciárias, registrados em abril, deixaram um morto e sete feridos. À época, a vice-ministra anunciou um plano para retomar o controle das 26 prisões do país, nas quais há aproximadamente 20.000 detentos.
O plano inclui um "desarmamento real através de revistas manuais e eletrônicas permanentes em 100% das instalações" e "o bloqueio total de sinal de celular" para que os presos não possam comandar ações criminosas de dentro da cadeia.
A corrupção reina em Honduras e o crime organizado está infiltrado nos mais altos níveis de governo. O ex-presidente Juan Orlando Hernández foi extraditado aos Estados Unidos por tráfico de drogas em abril de 2022, um ano depois de seu irmão, Tony, ser condenado à prisão perpétua pelo mesmo crime em Nova York.
Os promotores americanos afirmam que Hernández transformou Honduras em um "narco-Estado" que envolve militares, policiais e civis. A presidente Castro (esquerda) prometeu reverter a situação e combater as gangues violentas.
Desde dezembro passado, ela suspendeu as garantias constitucionais para permitir que a polícia faça detenções sem ordens judiciais, diante das queixas da população pelas extorsões, consideradas "as principais razões da migração e do fechamento de pequenas e médias empresas", segundo a presidente.
O chanceler hondurenho, Enrique Reina, escreveu no Twitter que o incidente "demonstra a grande escalada conspiratória contra Xiomara Castro das forças obscuras que transformaram Honduras em um narco-Estado".
Junto com seus vizinhos El Salvador e Guatemala, Honduras faz parte do denominado "triângulo da morte", onde proliferam gangues, conhecidas localmente como "maras", que controlam o tráfico de drogas e o crime organizado.
A disparada da taxa de homicídios em Honduras no ano passado, que chegou a 40 por cada 100.000 habitantes, quatro vezes mais que a média mundial, é atribuída ao tráfico de drogas e à violência das gangues.
Sem esperança de um futuro melhor, milhares de jovens hondurenhos sonham em emigrar para os Estados Unidos.O incêndio desta terça-feira traz à memória o de 25 de fevereiro de 2012, quando 362 presos morreram no presídio de Comayagua, 50 km ao norte da capital, na pior tragédia registrada em centros de detenção do país centro-americano.
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