Ajay Banga, atual presidente do Banco MundialReuters
Publicado 18/07/2023 10:28
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O presidente do Banco Mundial, Ajay Banga, alertou nesta terça-feira, 18, que as divisões entre países ricos e em desenvolvimento ameaçam agravar a pobreza, em uma reunião dos ministros das Finanças do G20, na Índia.
Muitas economias ainda se recuperam do duplo impacto da pandemia e da invasão russa da Ucrânia, que inicialmente elevou os preços dos combustíveis e das matérias-primas. Ao mesmo tempo, os efeitos das mudanças climáticas agravam a situação dos países mais vulneráveis.
As negociações dos ministros das Finanças e dos presidentes dos bancos centrais do G20 em Gandhinagar, na Índia, também acontecem um dia depois que a Rússia encerrou o acordo de exportação de grãos ucranianos pelo Mar Negro.
O acordo, fundamental para o abastecimento de alimentos dos países em desenvolvimento, permitiu a exportação de mais de 32 milhões de toneladas de grãos ucranianos no ano passado.
"Vivemos tempos difíceis; é preciso lembrar que a Rússia se retirou ontem da iniciativa entre o Mar Negro e a Ucrânia. Estamos aqui conversando sobre como ajudar os países vulneráveis", disse à AFP o presidente do banco central alemão, Joachim Nagel.
"Muitos países censuraram a Rússia por ter atuado assim", acrescentou Nagel.
O ministro das Finanças da África do Sul, Enoch Godongwana, alertou que a decisão russa "poderá ter um impacto nos preços dos alimentos, o que pesará ainda mais nos países pobres". Já o presidente do Banco Mundial advertiu contra a perigosa divisão instaurada na economia mundial, na ausência de progressos no combate à pobreza.
"O que me mantém acordado à noite é a desconfiança que separa silenciosamente o Norte do Sul, justamente quando precisamos estar unidos", disse Banga na reunião, durante as negociações dos ministros sobre as estruturas financeiras internacionais.
"A frustração do Sul Global é compreensível. De muitas maneiras, eles estão pagando o preço por nossa prosperidade. E, embora devessem contar com mais, estão preocupados que os recursos prometidos sejam desviados para a reconstrução da Ucrânia", argumentou.
Por isso tudo, estes países "temem que a pobreza arraste mais uma geração", enfatizou.
O Banco Mundial afirmou que busca aumentar sua capacidade de empréstimo para incentivar o crescimento e o emprego. Mas, ao mesmo tempo, alertou que a economia futura não pode depender da expansão às custas do meio ambiente.
"A verdade é que não podemos suportar outro período de crescimento baseado em muitas emissões" de gases de efeito estufa, disse Ajay Banga, norte-americano de origem indiana, que assumiu o cargo no mês passado.
Os Estados Unidos indicaram que os esforços para reformar as instituições multilaterais, como o Banco Mundial e outras entidades regionais, poderiam liberar 200 bilhões de dólares na próxima década (965 bilhões de reais, na cotação atual).
Por outro lado, houve pouco progresso na questão da reestruturação da dívida em favor dos países de baixa renda, que, no entanto, era uma prioridade para o grupo das vinte maiores economias, indicaram várias autoridades.
A China, segunda maior potência econômica do mundo e principal financiadora de muitos países de baixa renda na Ásia e na África, até agora se opôs a um acordo multilateral comum.
Para a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, o processo de reestruturação da dívida "precisa ser mais rápido e mais eficaz", já que os custos da demora para encontrar um acordo afetam principalmente todos os países devedores e sua população.
Mais da metade dos países pobres estão superendividados ou perto disso, o dobro de 2015, alertou a secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen.
As negociações do G20 também abordaram a regulamentação das criptomoedas e a facilitação do acesso ao financiamento para mitigar o impacto das mudanças climáticas e se adaptar a elas. Também está na agenda o primeiro passo, estabelecido na semana passada por 138 países, para distribuir de forma mais igualitária a receita tributária de empresas multinacionais.
Atualmente, as multinacionais, especialmente as empresas de tecnologia, podem transferir facilmente seus lucros para países com impostos baixos, mesmo quando realizem apenas uma pequena parte de suas atividades nestas nações.
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