Publicado 22/08/2023 16:21
A usina nuclear de Fukushima Daiichi, no Japão, começará a liberar águas residuais radioativas tratadas e diluídas no oceano Pacífico na quinta-feira, 24 — um passo polêmico que o governo japonês diz que é essencial para as décadas de trabalho necessárias para limpar a instalação onde houve colapso de reatores 12 anos atrás.
O primeiro ministro Fumio Kishida deu o aval final nesta terça-feira, 22, em uma reunião com ministros envolvidos no plano e instruiu a operadora, a Tokyo Electric Power Company Holdings (Tepco), a estar preparada para começar a liberação costeira na quinta-feira, se as condições de tempo e do mar permitirem.
Kishida disse na reunião que a liberação das águas da usina é um passo essencial no descomissionamento da usina e na recuperação da prefeitura de Fukushima do terremoto e do tsunami que atingiram a cidade em março de 2011.
Ele afirmou que o governo fez de tudo para garantir a segurança do plano, proteger a reputação da indústria pesqueira do Japão e explicar claramente a base científica da movimento. Ele prometeu que o governo continuará com esses esforços até o fim da liberação e descomissionamento da usina, o que levará décadas. "O governo assumirá a responsabilidade até que o descarte da água tratada com ALPS seja concluído, mesmo que demore várias décadas", disse Kishida.
Legisladores da oposição e ativistas protestaram veementemente pedindo que o Japão imediatamente abandonasse o plano. Hong Kong e Macau anunciaram que irão banir produtos de Fukushima, além de nove outras províncias, em resposta ao anúncio de Tóquio, enquanto a China intensificou os testes de radiação em produtos pesqueiros japoneses, atrasando a liberação de mercadorias pela alfândega.
Um grande terremoto e um tsunami destruíram os sistemas de resfriamento da usina nuclear de Fukushima Daiichi, fazendo com que três reatores derretessem e contaminassem a água de resfriamento. A água, 1,3 milhões de toneladas, foi coletada, filtrada e estocada em cerca de mil tanques, que ocupam grande parte do terreno da usina e alcançarão sua capacidade máxima no início de 2024.
A liberação da água tratada enfrentou forte oposição de organizações de pesca japonesas, que se preocupam sobre mais danos na reputação dos seus frutos do mar, enquanto ainda tentam se recuperar do desastre nuclear. Grupos na Coreia do Sul e na China também levantaram preocupações, transformando o assunto numa questão política e diplomática. A Tepco disse que está trabalhando para aceitar o pedido de indenização por danos causados pelas restrições da China à exportação de frutos do mar japoneses.
O governo e a Tepco dizem que a água deve ser removida para abrir espaço para o descomissionamento da usina e evitar vazamentos acidentais dos tanques. Junichi Matsumoto, executivo da Tepco encarregado da liberação da água, disse em uma entrevista com a Associated Press no mês passado que a liberação de água assinala "um marco", mas ainda é apenas uma etapa inicial em um processo de desativação assustador.
As autoridades japonesas e a empresa disseram que a água será tratada e então diluída em água do mar em níveis mais seguros do que os patamares internacionais. A Tepco planeja liberar 7,8 mil toneladas de água tratada na primeira rodada de 17 dias de liberação, disse Matsumoto, acrescentando que a ideia é não apressar a liberação e minimizar o impacto ambiental.
A companhia pretende lançar 31,2 mil toneladas de água até o fim de março de 2024, o que esvaziaria apenas 10 tanques do local. O ritmo aumentará com o passar do tempo. A água do mar e a vida marinha serão testadas e os resultados serão disponibilizados no site do governo e da companhia.
A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), concluiu, em um relatório no final de julho, que se conduzida conforme o planejado, causará um impacto insignificante no meio ambiente e na saúde humana. Depois de levar em consideração a possível bioconcentração de radionuclídeos de baixa dose que permanecem na água, o impacto ambiental e na saúde ainda é insignificante, disseram funcionários da Tepco.
Nesta terça-feira, o diretor geral da AIEA, Rafael Mariano Grossi, disse em um comunicado que o escritório da agência da ONU, inaugurado na usina em julho, continuará monitorando o lançamento de água para que permaneça consistente com os padrões de segurança e publique dados de monitoramento em tempo real e outras informações.
Os cientistas geralmente apoiam a visão da AIEA, mas alguns dizem que o impacto a longo prazo da radioatividade de baixa dose que permanece na água precisa de atenção.
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