Bandeira dos Estados UnidosAFP
Publicado 29/08/2023 17:09
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O Brics - grupo de países emergentes originalmente formado por Brasil, China, Índia, Rússia e África do Sul - concordou, durante uma cúpula de seus líderes, na semana passada, em receber seis novos membros, incluindo Argentina, Arábia Saudita e Irã, em um movimento que o presidente chinês, Xi Jinping, considerou histórico.

Enquanto o Brics se reunia em Johanesburgo, o governo do presidente americano, Joe Biden, renovava promessas de fortalecer os mecanismos financeiros para as economias desenvolvidas por meio do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI).

O assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, indicou que os Estados Unidos levarão essa proposta para a próxima cúpula do G20, que acontecerá dentro de dez dias em Nova Délhi.

Publicamente, os Estados Unidos minimizaram a ampliação do Brics, afirmando que cada país pode escolher seus parceiros. Sullivan destacou as divergências de visões políticas entre os integrantes do bloco e disse a jornalistas que seu país não o vê "evoluindo para se tornar algum tipo de rival geopolítico".

Alternativas, não substitutos
No entanto, alguns especialistas entendem que a expansão do Brics mostra uma demanda por novos caminhos para atingir objetivos não alcançados, tanto no plano econômico quanto, possivelmente, em termos de segurança.

Os países emergentes estão "buscando alternativas, não substitutos" para a ordem liderada pelos Estados Unidos, opinou Sarang Shidore, diretor do programa Global South no Quincy Institute, que defende uma política externa americana menos focada em aspectos militares.

Uma declaração do Brics ressaltou, por exemplo, a paralisação do mecanismo de resolução de controvérsias da Organização Mundial do Comércio (OMC), onde Washington, desde a era de Donald Trump na Presidência, bloqueia nomeações argumentando um tratamento injusto.

Biden tem promovido fortemente ações contra a mudança climática nos Estados Unidos, mas, em meio a confrontos acirrados com o Partido Republicano sobre a questão, o país está longe da promessa do presidente de destinar 11 bilhões de dólares (53,5 bilhões de reais, na cotação atual) por ano a partir de 2024 para ajudar as nações em desenvolvimento mais afetadas pelo problema.

"Acredito que os Estados Unidos estão começando a levar a sério" as preocupações dos países emergentes sobre o clima, afirmou Shidore. "Essas são declarações. Mas há dinheiro associado a elas?", questionou.

O caso iraniano
Para os Estados Unidos, a parte mais preocupante da ampliação planejada pelo Brics é a entrada do Irã no grupo. A república islâmica busca essa adesão como uma forma de sair do isolamento causado pelas sanções ocidentais lideradas por Washington, por seu controverso programa nuclear e repressão a protestos.

Entre os novos membros, há três países com históricas relações difíceis com o Irã: Arábia Saudita, Egito e Emirados Árabes Unidos.

As tensões também dividem os Brics "originais". A China tem uma relação complicada com a Índia, que recentemente se aproximou dos Estados Unidos.

Embora a declaração do bloco apoie uma reforma do Conselho de Segurança da ONU, uma prioridade absoluta para Brasil e Índia, que não são membros permanentes, poucos esperam que China e Rússia, que têm direito a veto no órgão, queiram diluir seu poder em benefício de outras nações.

Henry Tugendhat, economista do Instituto Americano da Paz, afirmou que a China, ao promover essa expansão, inadvertidamente tornou o Brics um grupo com ainda menos coesão, mais semelhante ao G20 do que ao mais diligente G7, o clube das maiores economias democráticas do planeta, que compartilha princípios fundamentais.

Os integrantes do G20, por outro lado, não "se alinham em muitas questões", enfatizou.

Chama a atenção o fato de que entre os futuros membros do Brics não há países do sul da Ásia, em um momento em que a China multiplica disputas marítimas nessa região.

Colleen Cottle, ex-analista da CIA que agora trabalha no Atlantic Council, disse que, para a China, a expansão do Brics tem "mais a ver com a retórica" de mostrar que os países em desenvolvimento se aproximam de seu campo, do que com planos concretos de colaboração.

Ainda assim, segundo a analista, a decisão reflete uma demanda por mudanças.

Os Estados Unidos precisam de uma estratégia mais eficaz do que sua abordagem de trabalhar com países afins e não podem se limitar a tentar replicar a abordagem chinesa de contribuir com infraestrutura nas nações emergentes.

"É necessário o 'pacote' completo: a visão articulada a longo prazo e os fundos concretos para apoiá-la", concluiu.
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