Publicado 20/09/2023 14:41
O governo alemão e os políticos europeus estão pressionando as maiores empresas da Alemanha para reduzir sua exposição à China. Ao invés disso, as companhias estão ampliando a aposta.
À medida que a pressão governamental se intensifica, as empresas alemãs com operações chinesas relevantes têm se esforçado nos últimos meses para isolar seus negócios de possíveis sanções ocidentais.
As empresas aumentaram a produção local para depender menos das importações da Alemanha, fechando acordos com fornecedores chineses para tornar as suas cadeias de abastecimento mais próximas, além de alinhavarem parcerias com empresas chinesas.
Os esforços visam proteger as fatias de mercado destas empresas, proteger os lucros e enfrentar o agravamento da tensão política entre a China e o Ocidente - especialmente dos Estados Unidos.
No mais recente sinal de tensão, a Comissão Europeia, órgão executivo da União Europeia, anunciou na semana passada uma investigação sobre supostos subsídios injustos à indústria automotiva chinesa. A China tornou-se um dos maiores exportadores de automóveis do mundo e um concorrente de peso para as montadoras alemãs, especialmente no segmento de veículos elétricos. Ainda assim, os fabricantes de automóveis alemães criticaram a investigação da UE por temerem que isso possa gerar represália por parte de Pequim.
No início deste ano, o governo alemão disse às empresas locais que deveriam reduzir a exposição à China para diminuir a dependência da economia da Alemanha das exportações para o país. A Alemanha depende fortemente do comércio internacional, que desacelerou à medida que a tensão global aumentou, paralisando este ano o crescimento da maior economia da Europa.
Na terça-feira, o Bundesbank, o banco central da Alemanha, fez um alerta sobre os riscos econômicos significativos da exposição da indústria alemã à China, dizendo que mais de 40% das empresas do país que dependem de materiais cruciais da China nada fizeram para reduzir a dependência. Diante disso, a produção interna das fábricas podem ficar paradas se fornecimento for interrompido.
"Tendo em conta as crescentes tensões geopolíticas e os riscos associados, as empresas e os líderes políticos precisam repensar a estrutura das suas cadeias de abastecimento e a maior expansão das suas atividades de investimento direto na China", afirmou o Bundesbank no relatório.
Em vez de recuar, no entanto, as empresas alemãs que têm mais a perder com os esforços ocidentais para isolar Pequim redobraram o envolvimento, tentando isolar as suas fábricas chinesas para que possam continuar a produzir, independentemente do clima político global.
A BASF, a maior empresa química alemã, está investindo até 10 bilhões de euros (equivalente a cerca de US$ 10,7 bilhões) na China até 2030. Como parte do esforço, inaugurou recentemente uma fábrica em Zhanjiang, na China, para produzir gás sintético e hidrogênio para uso local. A fábrica deverá entrar em operação em 2025.
A BASF disse que a instalação faz parte do seu braço Verbund, em Nanjing, na China, uma unidade de produção química com cadeias de produtos interligadas, desde materiais químicos básicos até bens de consumo.
A unidade foi fundada em 2005, sendo uma das seis fábricas da Verbund que a BASF opera em todo o mundo, incluindo duas nos EUA A expansão garante que a BASF possa produzir na China o que precisa para continuar a crescer no mercado chinês.
O presidente da Siemens, Roland Busch, disse, no início deste ano, que a empresa estava investindo cerca de 140 milhões de euros na China como parte de um esforço de investimento global de 2 bilhões de euros este ano. Ele prometeu defender a participação da empresa no mercado chinês e continuar investindo lá.
O principal esforço de proteção foi feito por montadoras como Volkswagen, BMW e Mercedes-Benz.
Graças à sua estratégia que dá prioridade à produção local em mercados estrangeiros, as montadoras alemãs exportaram 254.607 veículos para a China em 2022, uma fração do volume de veículos que produziram por lá, de acordo com a Associação Alemã da Indústria automobilística. Só a VW produziu 3,2 milhões de veículos na China, a mesma quantidade fabricada na Europa.
Em julho, a VW disse que investiria US$ 700 milhões na fabricante chinesa de veículos elétricos XPeng, assumindo uma participação de quase 5% na empresa, para desenvolver e construir em conjunto veículos elétricos. Ralf Brandstätter, responsável pelos negócios da VW na China, disse que tais parcerias "são um importante alicerce na estratégia 'na China para a China' do Grupo Volkswagen".
O CEO da VW, Oliver Blume, falando a repórteres nos bastidores do salão do automóvel de Munique no início deste mês, disse que a empresa investiria mais na China, especialmente porque a VW precisava de tecnologia chinesa para o mercado chinês, em parte em resposta às crescentes tensões com o Ocidente e diante do surgimento de padrões tecnológicos distintos.
"Os ecossistemas do Ocidente e da China estão se distanciando", disse. "Isso significa que temos que nos adaptar claramente à situação."
A VW disse que, ao longo dos últimos anos, estimulou o fornecimento local de mais de 90% dos componentes e materiais utilizados para fabricar os seus veículos produzidos na China.
A BMW, montadora alemã de automóveis de luxo, celebrou o 20º aniversário de sua joint venture chinesa, BMW Brilliance Automotive, no início deste ano com o anúncio de que seu carro elétrico de próxima geração, o Neue Klasse, ou Nova Classe, seria produzido a partir de 2026 na própria China para clientes chineses e não na Alemanha. A joint venture adquire componentes e materiais para produção interna de cerca de 430 fornecedores locais, disse a BMW. Ela também está investindo no desenvolvimento e produção de baterias na China para veículos elétricos de nova geração e também expandiu seu centro de pesquisa e desenvolvimento em Shenyang para aumentar o design e o desenvolvimento local.
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