Publicado 25/09/2023 19:48 | Atualizado 25/09/2023 19:48
O presidente da Ucrânia, Volodmir Zelensky, confirmou que os primeiros tanques Abrams de fabricação americana chegaram ao país depois de meses de espera. A remessa corresponde à primeira parte dos 31 carros de combate prometidos pelos Estados Unidos em janeiro deste ano, depois de muita relutância da Casa Branca, que temia uma escalada da tensão com a Rússia.
A chegada das esperadas e potentes armas foi confirmada por Zelensky em canal no Telegram. "Os [tanques] Abrams já estão na Ucrânia e estão sendo preparados para reforçar as nossas brigadas", disse o líder ucraniano acrescentando que está "grato aos aliados pelas promessas cumpridas".
Zelensky não detalhou quantos carros de combate foram entregues, mas autoridades americanas confirmaram ao The New York Times que enviaram dois pelotões — geralmente algo em torno de oito a dez tanques. Mais entregas são esperadas para os próximos meses, como parte do esforço americano para reforçar a contraofensiva ucraniana que completou três meses sem avanços significativos.
Mesmo depois de tanta espera, ainda não está claro quando os tanques americanos entrarão, de fato, no combate, e o exército deve ser cauteloso ao escolher em que batalhas esse poder de fogo será empregado. O chefe da inteligência ucraniana Kirilo Budanov alertou que os Abrams devem ser usados em circunstâncias específicas em operações "bem elaboradas" para evitar que sejam destruídos pelas forças russas.
"Os tanques não terão uma duração muito longa no campo de batalha. Devem ser usados em operações de avanço, mas muito bem preparadas", declarou em entrevista a um site de notícias militares dos Estados Unidos, na semana passada, enquanto o presidente Joe Biden e o secretário de Defesa Lloyd Austin anunciavam a entrega dos carros de combate para esta semana, meses antes do previsto inicialmente.
Os tanques devem ser equipados com munições de urânio empobrecido que tem o poder de perfurar blindados, mas despertam controvérsia pelos riscos de intoxicação de militares e civis.
Em janeiro, a decisão americana de fornecer os tanques, depois de muita insistência de Kiev, abriu caminho para que outros aliados ocidentais da Ucrânia fizessem o mesmo. Foi o caso da Alemanha, que exigiu um compromisso de envio de tanques dos Estados Unidos para abrir mão da política pacifista adotada desde a 2ª Guerra e fornecer à Ucrânia os seus carros de combate, os Leopard. Além de permitir que outros países aliados enviassem os tanques alemães.
O Reino Unido, um dos principais aliados de Kiev na Europa, também fornece às tropas ucranianas os veículos de combate de fabricação nacional, chamados Challenger. A ajuda ocidental, no entanto, ainda é considerada aquém do pedido pela Ucrânia, forçada pela Rússia a entrar em uma guerra essencialmente terrestre, que exige muito poder de fogo.
Kiev diz precisar de pelo menos 300 tanques ocidentais para impulsionar a sua lenta contraofensiva, que corre contra o tempo para recuperar territórios ocupados por Moscou antes das chuvas de outono que se aproximam. Entretanto, o número de carros de combate enviados até agora é cerca de metade do que foi pedido, afirma o Coronel Markus Reisner, que atua no principal centro de treinamento militar austríaco e acompanha os desdobramentos da guerra. A Rússia, em contrapartida, produz algo em torno de 200 tanques por ano, apontam as estimativas.
A principal diferença aqui é que, enquanto o Ocidente focou a sua produção em armas mais sofisticadas — que são, por consequência mais caras e exigem mais tempo para que sejam fabricadas —, a Rússia investiu em artilharia mais simples, menos precisa, feita em larga escala.
Rússia mantém ataques à infraestrutura portuária da Ucrânia
Enquanto a Kiev se prepara para colocar os tanques americanos em ação, a Rússia mantém os ataques à infraestrutura portuária do país vizinho. Neste domingo, mísseis e drones atingiram o Porto de Odessa, no Mar Negro, que ficou "significativamente danificado", segundo informações da própria Ucrânia. Pelo menos duas pessoas morreram.
Os ataques russos à produção de cereais, um setor crucial da economia ucraniana, se intensificaram desde que Moscou abandonou o acordo de grãos que permitia a exportação segura por um corredor no Mar Negro. Agora, com a ofensiva mais recente, o Kremlin busca explorar as divisões que surgiram entre Kiev e aliados europeus à medida em que a Ucrânia busca rotas alternativas para escoar a produção agrícola.
O esforço ucraniano tem esbarrado na resistência de alguns dos vizinhos mais próximos, incluindo Polônia, Hungria e Eslováquia, que buscam proteger os produtores locais de uma eventual derrubada nos preços provocada pela inundação dos cereais ucranianos no mercado. Em meio à disputa, a Polônia chegou a dizer que não forneceria novas armas a Kiev, mas acabou recuando Para acabar com o impasse, Varsóvia então prometeu ajudar a Ucrânia a transportar os grãos para os países mais pobres enquanto a Eslováquia concordou em fazer negócio com Kiev.
A batalha diplomática foi observada com aparente satisfação em Moscou. "Percebemos que o atrito também aumentará entre Kiev e outras capitais europeias; é inevitável", disse Dmitri Peskov, porta-voz do Kremlin, na semana passada.
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