Milei durante encerramento da campanha presidencial na quarta-feira, 18Sergio Piemonte/Perfil
Publicado 19/10/2023 16:44
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Os argentinos vão às urnas para eleger um novo presidente neste domingo, dia 22 de outubro, e o libertário Javier Milei é apontado como favorito, impulsionado por um eleitorado jovem e desiludido com os setores mais tradicionais da política.
O assessor de investimentos Maximiliano Catriman, 32, e a estudante universitária Jazmin Venini, 21, tiveram contato com as ideias libertárias há cerca de três anos, durante a pandemia. Enquanto a Argentina estava sob um rígido controle de circulação, eles começaram a prestar atenção "naquele louco que gritava na televisão". Se sentiram tão representados que, aos poucos, se aproximaram do Liberdade Avança, o pequeno partido de Milei, que tem apenas três deputados, contando com ele próprio.
Hoje, os dois dedicam o tempo livre para convencer outros jovens na província de Rio Negro das ideias libertárias e conquistar votos para Javier Milei. Foi assim, inclusive, que se aproximaram e viraram um casal.
"Quando fiz 18 anos, eu comecei a ver que, na vida política, as pessoas reclamam, mas não fazem nada, não se envolvem, não se comprometem, não tem solução", lembra Jazmin ao contar que buscava "encontrar a própria voz", quando se deparou com Javier Milei - e seus discursos estridentes.
"As pessoas não entendiam porque tinha um louco gritando na televisão. E sempre me chamou atenção", conta Maximiliano. "Como pai de duas filhas, me incomodava muito a onda progressista no nosso país. Como os LGBT, um extremo feminismo e uma extrema esquerda invadiu todos os setores", justifica.
Maximiliano e Jazmin são o que o estrategista político, co-diretor da consultoria Droit, Pedro Buttazzoni chama de "voto convicto" em Javier Milei, concentrado especialmente nos mais jovens.
"Ainda é um voto contra a política tradicional, mas com um componente de esperança. São pessoas que estão 100% convencidas de que Milei é o que a Argentina precisa. Defendem nas redes sociais, na mesa de jantar, convencem os pais", aponta.
O casal nem sequer considera a possibilidade de votar em outros candidatos. Eles não veem clareza nas propostas de Patricia Bullrich, do grupo de oposição Juntos pela Mudança. Muito menos confiam no atual ministro da Economia, Sergio Massa, o candidato do peronismo.
Para eles, tanto o governo como a oposição representam uma continuidade das políticas de sempre. Por isso, embarcam no radicalismo de Milei, que promete dolarizar a economia e "dinamitar do Banco Central" como saídas para a crise.
"Na nossa cidade, um terreno custa US$ 200 mil e o salário vale, em média, 500 a 600 dólares por mês. Levando em conta o custo de vida, é impossível comprar um pedaço de terra. Não tem cálculo matemático", reclama Maximiliano quando questionado sobre a inflação, que passou dos 138% ao ano na Argentina.
Além da incapacidade de fazer planos para o futuro, a juventude tem de lidar com a dura realidade da falta de emprego em uma economia desaquecida.
O desemprego na Argentina tem se mantido abaixo dos 7% desde a retomada pós-pandemia, o que contrasta com os números cada vez mais altos de pobreza. No entanto, a taxa aumenta quando analisada entre os jovens, quase triplicando os números nacionais, com cerca de 21% entre quem tem 18 a 24 anos, segundo dados do instituto de estatísticas.
Entre os que conseguem trabalho, quase 70% dos jovens se encontram na informalidade, frente a 37% da média nacional. A falta de acesso ao mercado atinge até mesmo os jovens com estudo superior e é ainda mais acentuada longe da região de Buenos Aires. Fora da capital, esse sentimento de frustração é ainda maior e encontra capilaridade nas promessas libertárias de Milei
"Existe uma insatisfação porque no passado seus pais e avós tinham empregos, podiam ter uma casa, e hoje os jovens mal têm emprego", relata Alfonso Recasens, estrategista e consultor político de San Luis, na região central da Argentina. "Vejo isso inclusive nos meus amigos que têm entre 26 e 30 anos aqui em San Luis. Mesmo que tenham estudado, eles não têm acesso a um emprego formal no setor privado. Muitos deles trabalham de forma independente".
Essa frustração dos mais jovens não é exclusiva da Argentina. O problema é que lá esses ideais se tornaram praticamente inalcançáveis no País onde 40% da população vive na pobreza.
"Graças a um estado de bem estar social na Argentina, essa aspiração da classe média dizia que se você trabalhasse e se esforçasse chegaria em uma posição melhor que os pais", afirma Paola Zuban, diretora da Zuban Córdoba, que realiza pesquisas de opinião na Argentina. "Isso ocorre em todo o mundo mas na Argentina tem muita relevância para este segmento da população de 16 a 30 anos, que correspondente a maior parte dos eleitores de Milei".
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