Israel mantém os ataques a campos de refugiados no norte da Faixa de GazaAFP
Publicado 18/11/2023 18:55
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O Ministério da Saúde do Hamas anunciou, neste sábado, 18, a morte de mais de 80 pessoas em dois bombardeios israelenses contra um campo de refugiados administrado pela ONU em Jabaliya, no norte da Faixa de Gaza, devastado pelos combates entre Israel e o movimento islamista palestino.

O primeiro bombardeio, que alvejou uma escola, deixou 50 mortos, e o segundo atingiu uma residência, matando 32 pessoas da mesma família, incluindo 19 crianças, segundo as autoridades do movimento islamista, no poder em Gaza desde 2007.

O ataque atingiu ao amanhecer a escola Al Fakhura, que abriga pessoas deslocadas, informou um funcionário do ministério. Imagens que circulam nas redes sociais, verificadas pela AFP, mostram corpos cobertos de sangue ou poeira nos andares do prédio, onde colchões foram colocados debaixo das carteiras.
A agência da ONU para os refugiados palestinos (UNRWA, na sigla em inglês) expressou indignação pelo que chamou de um ataque "horrendo". "Estes ataques (...) devem parar. Um cessar-fogo humanitário não pode esperar mais", escreveu na rede X (antigo Twitter) o chefe da UNRWA, Philippe Lazzarini.

O coordenador de Assuntos Humanitários e Ajuda de Emergência das Nações Unidas (OCHA), Martin Griffiths, fez alusão a "informações trágicas" e lembrou que os refúgios eram "locais de segurança" e as escolas, "locais de ensino".

No segundo bombardeio, que atingiu uma casa no mesmo campo de refugiados, morreram 32 membros da mesma família, incluindo 19 crianças, informou o Ministério da Saúde do Hamas, que divulgou uma lista de nomes.

O Exército israelense não confirmou os bombardeios, mas informou em um comunicado que suas tropas estavam ampliando as operações na Faixa de Gaza, incluindo em algumas partes de Jabaliya, para "se dirigir contra terroristas e bombardear infraestrutura do Hamas".
À noite, outro bombardeio israelense atingiu Khan Yunis, matando ao menos 26 pessoas, segundo o diretor do hospital Nasser nesta cidade do sul da Faixa de Gaza.

Em 7 de outubro, comandos do Hamas mataram 1.200 pessoas em solo israelense, a maioria civis, e sequestraram, juntamente com outros grupos armados, cerca de 240 pessoas, segundo as autoridades israelenses.

Desde então, os bombardeios de Israel em represália na Faixa de Gaza têm sido incessantes e mataram, segundo um balanço do Ministério da Saúde do Hamas, 12.300 civis palestinos, incluindo 5.000 crianças.

Hospital evacuado
Neste sábado, centenas de pessoas evacuaram o hospital Al Shifa, onde havia mais de 2 mil pacientes, médicos e pessoas deslocadas pela guerra, depois de serem instadas por Israel a deixar o local "em uma hora".

Israel realiza incursões há quatro dias neste hospital, o maior do território, por considerar que abriga um centro de comando do Hamas. Seis médicos vão permanecer no hospital para atender 120 pacientes, incluindo bebês prematuros, que não podem ser transferidos, informou um deles, o doutor Ahmed El Mokhallalati, na rede X.

Os doentes, acompanhados de pessoal médico, deixaram o hospital a pé e se dirigiram para a rodovia Sal.

Pelo caminho, um jornalista da AFP viu pelo menos 15 corpos, alguns em avançado estado de decomposição, em meio a uma paisagem de estradas destroçadas, lojas destruídas e carros virados ou esmagados.

Paralelamente aos bombardeios, Israel, que prometeu "aniquilar" o Hamas, realiza desde 27 de outubro operações terrestres na Faixa de Gaza, um território de 362 km2 e cerca de 2,4 milhões de habitantes.

As operações terrestres se concentram no norte do território, na Cidade de Gaza, transformada em um campo de ruínas, e ao redor de hospitais, onde o Exército acusa o Hamas de ter instalado bases e usar os doentes como "escudos humanos".
Em 9 de outubro, Israel cortou o fornecimento de alimentos, água, eletricidade e remédios que costumam transitar por Rafah, na fronteira com o Egito, no sul da Faixa.

Segundo o Hamas, 24 dos 35 hospitais de Gaza pararam de funcionar. De acordo com a ONU, mais de dois terços dos 2,4 milhões de habitantes da Faixa de Gaza foram deslocados pela guerra. A maioria fugiu para o sul com o mínimo e sobrevive ao frio que se avizinha.

Na quinta-feira, 16,  o Programa Mundial de Alimentos (PMA) das Nações Unidas advertiu que os civis de Gaza "enfrentam a possibilidade imediata de morrer de fome". A pedido dos Estados Unidos, Israel autorizou na sexta-feira, 17, a entrada diária por Rafah de dois caminhões-tanque com combustível. Segundo a autoridade da parte palestina da passagem fronteiriça, os primeiros 17 mil litros vão permitir reativar os geradores elétricos de hospitais e redes de telecomunicações.
Em 9 de outubro, Israel cortou o fornecimento de alimentos, água, eletricidade e remédios que costumam transitar por Rafah, na fronteira com o Egito, no sul da Faixa. 
Israel se negava até agora a deixar passar o combustível, alegando que poderia ser usado em atividades militares do Hamas, um movimento considerado organização terrorista por Estados Unidos, União Europeia e Israel.

As tensões também são elevadas na Cisjordânia, território ocupado desde 1967 por Israel, onde cerca de 200 palestinos morreram nas mãos de colonos e soldados israelenses desde 7 de outubro, segundo o Ministério da Saúde palestino.

Netanyahu sob pressão interna e externa
O gabinete de guerra israelense, chefiado pelo primeiro-ministro conservador Benjamin Netanyahu, enfrenta forte pressão externa para atenuar o sofrimento dos civis em Gaza. O Conselho de Segurança da ONU aprovou na quarta-feira, 15, uma resolução para pedir "pausas humanitárias" na guerra.
O chefe de governo alemão, Olaf Scholz, destacou, neste sábado, em conversa por telefone com Netanyahu, a "necessidade urgente" de aliviar a crise humanitária em Gaza.

O premiê israelense também enfrenta a pressão dos familiares dos sequestrados pelo Hamas, que pedem um acordo que permita libertá-los.

Uma marcha de milhares de pessoas, que partiu na terça-feira de Tel Aviv, chegou este sábado a Jerusalém com o lema "Tragam-nos para casa agora", e se dirigia para o gabinete de Netanyahu.
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