Javier Milei, presidente eleito na ArgentinaLuis Robayo/AFP
Publicado 21/11/2023 08:11
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"Destruir" a inflação e privatizar: o ultraliberal Javier Milei, eleito presidente da Argentina com uma vitória contundente, começou nesta segunda-feira (20) a definir suas primeiras medidas de governo para enfrentar a crise econômica.

A inflação elevada, de mais de 140% ao ano, será uma longa luta que exigirá "entre 18 e 24 meses para destruí-la e levá-la aos níveis internacionais mais baixos", disse ele em declarações a rádios. Seu primeiro passo será empreender uma forte reforma do Estado que incluirá privatizações, afirmou.

"Tudo o que puder estar nas mãos do setor privado vai ficar nas mãos do setor privado", declarou, e apontou entre as empresas a serem privatizadas a petrolífera YPF e os veículos de comunicação estatais.

"Vamos começar primeiro pela reforma do Estado, colocar em caixa as contas públicas muito rapidamente", acrescentou.

Transição
Milei será empossado na Presidência em 10 de dezembro para um mandato de quatro anos, uma cerimônia para a qual já convidou o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro.

O atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, a quem Milei chamou de "corrupto" e "comunista", não irá à posse, segundo uma fonte do governo brasileiro.

Frequentemente comparado com Bolsonaro e o ex-presidente americano Donald Trump por suas posições de extrema direita, Milei é contrário ao aborto, legalizado na Argentina em 2020, e nega que as mudanças climáticas sejam provocadas pelas atividades humanas.

Trump foi um dos primeiros líderes mundiais a cumprimentá-lo, na noite de domingo. "Estou muito orgulhoso de você. Você vai mudar por completo o teu país e vai fazer a Argentina voltar a ser grande", escreveu em uma postagem.

Do outro lado do espectro político, outros dirigentes o criticaram duramente, como fez o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, nesta segunda.

"A extrema direita neonazista venceu na Argentina (...) Dizemos aos argentinos e às argentinas: vocês elegeram, mas nós não vamos nos calar porque é uma tremenda ameaça a chegada de um extremista de direita com um projeto colonial", declarou Maduro.

Está pendente uma reunião com o presidente peronista de centro-esquerda, Alberto Fernández, para iniciar a transição governamental.

Desde 2003, a Argentina é governada pelo peronismo da atual vice-presidente e duas vezes presidente Cristina Kirchner, exceto pelo mandato do direitista Mauricio Macri (2015-2019).

"Ficou demonstrado que a maioria dos argentinos quer mudanças", disse à AFP Oscar Sario, um aposentado de 68 anos. O presidente eleito anunciou que viajará em caráter privado aos Estados Unidos e a Israel.
Metas econômicas
A vitória de Milei não teve efeito imediato nos voláteis mercados argentinos, já que esta segunda-feira é feriado no país.

No entanto, as ações argentinas cotadas em Wall Street registraram fortes altas, especialmente as da estatal petrolífera YPF, que subiram 40,17% a 15,04 dólares, frente aos 10,73 dólares da sexta-feira.

Além da YPF, cotada na bolsa nova-iorquina desde 1993, também registraram altas a Telecom Argentina (23,22%), o Grupo Financeiro Galicia (17,20%) e a empresa de comércio eletrônico Mercado Libre (2,10%).

Na economia, os principais desafios de Milei serão reduzir a inflação, equilibrar as contas públicas, eliminar o controle cambial e cortar o gasto público. Ele propõe metas mais duras que as do Fundo Monetário Internacional (FMI), organização com a qual a Argentina tem um acordo de 44 bilhões de dólares desde 2018 (cerca de 214 bilhões de reais na cotação atual). A diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, parabenizou Milei nesta segunda-feira.

"Esperamos trabalhar estreitamente com ele e com a sua administração no próximo período para desenvolver e implementar um plano sólido para preservar a estabilidade macroeconômica e fortalecer o crescimento inclusivo para todos os argentinos", escreveu ela na rede social X.

Milei deseja acabar com os subsídios aos serviços públicos e eliminar os impostos à exportação.

Ele também garantiu que promoverá o fim do controle cambial estabelecido em 2019, mas primeiro quer quitar a dívida emitida pelo Banco Central, por meio de títulos. Sobre o Banco Central, Milei reiterou que será suprimido "porque é uma questão moral: roubar é errado".

Quanto à ideia de dolarizar a economia, nesta segunda-feira foi mais ambíguo. "O eixo central é fechar o Banco Central, então a moeda será aquela que os argentinos escolherem livremente", afirmou.

Milei avisou que iniciará as suas reformas imediatamente porque "não há espaço para o gradualismo, para a tibieza ou para meias-tintas".

Mas requer um forte apoio político. Embora tenha obtido uma votação importante nas eleições parlamentares parciais de outubro, seu partido, A Liberdade Avança, tem apenas sete dos 72 senadores e 38 dos 257 deputados, portanto dependerá de alianças.

No segundo turno, Milei contou com o apoio de Macri e da ex-candidata Patricia Bullrich, da coalizão de centro-direita Juntos pela Mudança, a segunda força parlamentar que ficou, no entanto, rachada por esta decisão.
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