Soldados israelenses andam pelas ruas de GazaAFP
Publicado 29/02/2024 08:57 | Atualizado 01/03/2024 11:53
Mais de 100 pessoas morreram em Gaza nesta quinta-feira (29), de acordo com o movimento islamista Hamas, durante uma operação de distribuição de alimentos que se transformou em um pesadelo com estampidos e disparos das forças israelenses.

Na madrugada desta quinta, uma multidão faminta aguardava a chegada de comboios de ajuda humanitária na rua Al Rashid, localizada perto de uma rotatória no oeste da Cidade de Gaza.

De acordo com os serviços de saúde do território palestino e diversas testemunhas, soldados israelenses posicionados perto do comboio atiraram nas pessoas que corriam em direção aos caminhões.

"Quando o comboio [que saiu do sul de Gaza] chegou ao norte, milhares de pessoas correram em direção aos caminhões, o que provocou uma debandada na qual dezenas de moradores de Gaza ficaram feridos e mortos, alguns deles atropelados por caminhões", descreveu um funcionário de alto escalão do Exército de Israel.

A força armada afirma que cerca de 30 caminhões faziam parte do comboio e que vários deles continuaram seu caminho antes de que "dezenas" de civis os atacassem.

O alto funcionário garantiu que estas pessoas abordaram as forças israelenses, que dispararam "tiros de advertência" antes de "abrirem fogo". "Foram disparos limitados (...), não foi um acontecimento maciço do nosso ponto de vista", acrescentou a fonte.

O Exército informou "dezenas de mortos e feridos", empurrados ou pisoteados pela multidão que "cercou e saqueou" o carregamento. No entanto, não reportou vítimas de disparos. O Ministério da Saúde de Gaza reportou 110 mortos e 750 feridos nesta tragédia, a qual classificou como "massacre".

No início da manhã, este serviço palestino anunciou que mais de 30.000 pessoas morreram nas operações militares israelenses em Gaza desde o início da guerra em 7 de outubro.

'Pagamos esta ajuda com nosso sangue'
A conflito começou após um ataque sem precedentes dos milicianos do Hamas, que invadiram o sul de Israel e assassinaram pelo menos 1.160 pessoas, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em dados divulgados pelas autoridades israelenses.

Além de sua operação aérea e terrestre, Israel impõe um "cerco total" ao território devastado desde 9 de outubro, impedindo a entrada de alimentos, água, medicamentos e combustível.

A ONU alertou que dos 2,2 milhões de moradores de Gaza, a grande maioria corre risco de morrer de fome, sobretudo no norte, onde a destruição, os confrontos e os saques tornam quase impossível a entrega de ajuda humanitária.

"Estávamos na rua Al Rashid e, de repente, tanques nos atacaram. Havia sacos cheios de ajuda. Diante da falta de alimentos e farinha, as pessoas correram para agarrá-los. Era um caos, havia muita gente, mas as forças de ocupação não deixaram de atirar contra nós, houve muitos mártires e vítimas", contou à AFP uma testemunha sob anonimato.

"Sou um dos feridos, estava na rua Al Rashid. Estávamos de pé para receber os alimentos para nossos filhos (...). Mas pagamos esta ajuda com nosso sangue", relatou outra testemunha.

De acordo com a Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA), pouco mais de 2.300 caminhões carregados de ajuda entraram em Gaza em fevereiro, uma diminuição de cerca de 50% em relação ao mês anterior.

Segundo a ONU, cerca de 500 caminhões de ajuda humanitária entravam diariamente em Gaza antes da guerra.
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