Corpo é deixado coberto em rua de Porto Príncipe, no HaitiClarens Siffroy / AFP
Publicado 25/03/2024 20:19
A transição política no Haiti sofre atrasos por divergências entre as personalidades que deveriam compor as futuras autoridades do país caribenho, imerso há semanas em uma profunda crise provocada pela violência das gangues que levou à renúncia do primeiro-ministro Ariel Henry.

O líder, altamente questionado pelo auge da falta de segurança e por ter chegado ao poder sem se submeter ao voto popular, concordou em entregar o comando a um "conselho presidencial de transição".

Mas este grupo - composto por sete membros com direito a voto representando as principais forças políticas e o setor privado, além de dois membros sem direito a voto - tem dificuldades em iniciar a sua gestão.

Após longas negociações, cada partido conseguiu designar um candidato. Agora, os membros do grupo estão em desacordo sobre o funcionamento do conselho presidencial, disse um deles à AFP sob condição de anonimato.

Os nove integrantes se reúnem esta tarde por videoconferência com a Comunidade do Caribe (Caricom), bloco regional que supervisiona as negociações haitianas.

E depois irão eleger o chefe das novas autoridades, indicou à AFP um membro de um dos partidos envolvidos nas negociações.

No fim de semana, a embaixadora do Haiti na Unesco, Dominique Dupuy, que havia sido designada para representar a coalizão EDE/RED/Compromisso Histórico, anunciou sua desistência.

A única mulher candidata ao conselho denunciou ameaças de morte contra ela e sua família, além de ataques misóginos.

Smith Augustin, ex-embaixador do Haiti na República Dominicana, a substituiu como candidato para o conselho presidencial.

"Na cultura política haitiana, a confiança e a vontade de compromisso são praticamente inexistentes, e os atores políticos se metem em uma interminável luta pelo poder", lamentou nesta segunda James B. Foley, ex-embaixador americano no Haiti de 2003 a 2005, em um artigo de opinião publicado no Washington Post.

Gangue mata policial
A espera de avanços políticos, Porto Príncipe sofre a lei das gangues que se aliaram no fim de fevereiro para desafiar Henry.

Homens armados mataram nesta segunda um policial nos arredores da capital, em um ataque que deixou também dois agentes feridos, informou o sindicato policial Synapoha na rede social X.

Mais um episódio entre os muitos tiroteios e ataques contra instituições que vêm abalando o dia a dia dos haitianos nas últimas semanas.

O domínio desses grupos armados, que controlam 80% da capital haitiana e paralisam o aeroporto e parte do porto, afunda a população em uma grave crise humanitária.

"A violência e a insegurança em Porto Príncipe seguem perturbando as operações de ajuda", declarou nesta segunda Farhan Haq, porta-voz do secretário-geral da ONU, António Guterres.

"Menos da metade dos centros de saúde da capital funcionam em sua capacidade normal", acrescentou.

A ONU prometeu no ano passado uma força internacional para restabelecer a segurança no Haiti, liderada por 1.000 policiais quenianos.

Mas o início de suas atividades foi atrasado pela falta de financiamento e pela decisão do Quênia de não enviar seus agentes até a instalação do conselho de transição.

"A situação deteriorou-se tanto que Washington pode não ter outra escolha senão montar uma breve operação para derrubar as gangues e facilitar uma transição política", opinou o ex-embaixador Foley em seu artigo no Washington Post.

Os Estados Unidos descartaram por enquanto o envio de tropas ao Haiti, além dos fuzileiros navais enviados para proteger sua embaixada em Porto Príncipe.
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