Invasão policial à embaixada em QuitoReprodução/Redes sociais
Publicado 07/04/2024 20:16
O México denunciará o Equador na segunda-feira (8) perante a Corte Internacional de Justiça (CIJ) pela invasão policial à sua embaixada em Quito para deter o ex-vice-presidente equatoriano Jorge Glas.
A chanceler mexicana, Alicia Bárcena, fez o anúncio neste domingo (7) em uma conferência de imprensa no aeroporto da Cidade do México, onde recebeu os diplomatas de seu país que deixaram o Equador após a ruptura de relações com o governo de Daniel Noboa.
"A partir de amanhã, estamos indo à CIJ onde estamos apresentando este triste caso [...] Acreditamos que podemos vencer este caso rapidamente", disse Bárcena. O objetivo do México é que a CIJ "ordene ao Estado do Equador que repare o dano", acrescentou.
A escalada diplomática entre os dois países atingiu o ápice na noite de sexta-feira, quando policiais equatorianos invadiram a embaixada mexicana em Quito para capturar Glas, acusado de corrupção e refugiado lá desde dezembro alegando perseguição política.
Horas antes, o ex-vice-presidente de 54 anos havia recebido asilo político. Após a invasão, o presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, declarou na mesma noite de sexta-feira a imediata ruptura de relações.
A invasão policial à embaixada, sem precedentes na história recente, foi condenada por diversos países das Américas, Espanha e União Europeia, bem como por organismos como a ONU e a OEA.
Nicarágua emulou o México e também rompeu relações com o Equador no sábado, acusando-o de não ter respeitado "a inviolabilidade" das instalações diplomáticas consagrada na Convenção de Viena de 1961.
Neste domingo, o presidente da Bolívia, Luis Arce, anunciou que convocou sua embaixadora no Equador, Segundina Flores.
Diplomatas de volta
"Condenamos veementemente esta violenta invasão", reiterou neste domingo Bárcena no aeroporto, acompanhada pela embaixadora Raquel Serur e pelo chefe de missão, Roberto Canseco, que apareceu com um colar cervical após sofrer uma "agressão física" pelas mãos da polícia.
O diplomata, que tentou impedir a invasão, enfatizou a necessidade de punir o ocorrido. Assim "desencorajamos que no futuro essas ações sejam tomadas", disse.
A embaixadora, que se emocionou em alguns momentos, disse que "o atropelamento é de tal magnitude" que o governo de Noboa não pode "dimensionar" o que fez ao "nobre" povo do Equador.
Bárcena destacou que o México não pedirá que os diplomatas equatorianos deixem o país e garantirá a segurança de sua embaixada, fora da qual se reuniram algumas dezenas de manifestantes.
O grupo de 18 pessoas, entre diplomatas e seus familiares, chegou em um voo comercial ao meio-dia após serem acompanhados ao aeroporto que serve Quito pelos embaixadores da Alemanha, Panamá, Cuba e Honduras, que vigiaram para que sua integridade fosse respeitada.
O México fechou indefinidamente sua embaixada e estabeleceu uma plataforma eletrônica para atender aos cerca de 1.600 mexicanos e 30 empresas presentes no Equador.
Bárcena também disse que eles estabeleceram uma "pausa" nas conversas sobre comércio internacional.
O México e o Equador estavam negociando um tratado de livre comércio como condição para que o país sul-americano possa ingressar na Aliança do Pacífico, bloco formado também por Colômbia, Chile e Peru, e assim ter acesso ao mercado asiático.
No entanto, Quito mantém negociações diretas com a China e outros países deste continente.
Tensões
A crise diplomática começou na quarta-feira, quando López Obrador estabeleceu um paralelo entre a violência que marcou a campanha presidencial equatoriana de 2023, durante a qual o candidato Fernando Villavicencio foi assassinado, e a criminalidade que ocorre no México em relação às eleições de 2 de junho.
Segundo o presidente mexicano, o crime de Villavicencio criou um "ambiente de violência" que fez a candidata de esquerda Luisa González cair nas pesquisas e o candidato Daniel Noboa crescer, resultando em sua vitória.
Quito declarou na quinta-feira a embaixadora mexicana como pessoa "non grata", e López Obrador respondeu na sexta-feira concedendo asilo a Glas.
Noboa classificou essa proteção como um "ato ilícito" e defendeu a operação, alegando um "abuso das imunidades e privilégios" concedidos à missão diplomática.
Glas, que foi vice-presidente durante o governo de Rafael Correa (2013-2018), apareceu neste sábado com o rosto contorcido enquanto é conduzido com as mãos algemadas por guardas.
Ele foi transferido para uma prisão de segurança máxima em Guayaquil (sudoeste) conhecida como "La Roca" (A Rocha), segundo fontes no governo.
Correa, exilado na Bélgica desde 2017 e condenado à revelia a oito anos de prisão por corrupção, descreveu os eventos de sábado como uma "loucura" e afirmou que Glas "está com dificuldades para andar porque foi espancado".
O México, que por um século recebeu perseguidos políticos de diferentes países, só havia rompido relações com a Espanha de Francisco Franco, o Chile de Augusto Pinochet e a Nicarágua de Anastasio Somoza.
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