Publicado 22/04/2024 18:14
O máximo tribunal da Venezuela entregou, nesta segunda-feira (22), o controle de um dos principais partidos da oposição a um líder expulso por essa organização política e rotulado por seus líderes como "colaborador" do governo do presidente Nicolás Maduro.
PublicidadeA Sala Constitucional do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) ordenou "a nomeação de uma diretoria ad hoc para conduzir o processo de reestruturação necessário da organização com fins políticos 'Movimiento Primero Justicia' [Movimento Primeiro Justiça], presidida pelo cidadão José Dionisio Brito", segundo uma sentença publicada no site da corte.
O Primeiro Justiça - partido do duas vezes candidato presidencial Henrique Capriles - junta-se a outras organizações pertencentes à aliança opositora Plataforma Unitária cujo controle é dado por via judicial a direções paralelas.
Analistas alertam que essas medidas estão em linha com o chavismo governante de fomentar divisões entre os adversários de Maduro.
A sentença ocorre três dias após a Plataforma Unitária anunciar o diplomata Edmundo González Urrutia, de 74 anos, como candidato para enfrentar Maduro nas eleições presidenciais de 28 de julho; após a inabilitação da vencedora das primárias da oposição, María Corina Machado, e o bloqueio da inscrição de sua substituta, Corina Yoris.
"Enviam títeres vergonhosos para acreditar que podem assumir a liderança de um partido [...] Podem ordenar o que quiserem de maneira fictícia, em papel, para alguns bonecos, mas não vão dobrar a vontade e a convicção de alcançar a liberdade" na Venezuela, reagiu em entrevista coletiva a presidente do Primeiro Justiça, María Beatriz Martínez.
"Estão usando novamente o TSJ como braço executor de ilegalizações", denunciou Capriles na rede social X.
Brito é um deputado que rompeu com a liderança tradicional da oposição em 2020, após ser acusado de corrupção. "Eu não tenho nada a ver com isso", disse o parlamentar à imprensa, negando buscar influenciar a candidatura de González Urrutia.
A decisão do TSJ autoriza a diretoria ad hoc do Primeiro Justiça a "utilizar a cédula eleitoral" e os símbolos do partido, e ordena ao Conselho Nacional Eleitoral (CNE) "abster-se de aceitar qualquer postulação para processos eleitorais que não seja acordada" com a nova diretoria.
Sentenças semelhantes foram emitidas em 2019 e 2020 contra o 'Voluntad Popular' (Vontade Popular), partido dos líderes exilados Leopoldo López e Juan Guaidó, além do AD (Ação Democrática) e COPEI (Comitê de Organização Política Eleitoral Independente), que dominaram a cena política venezuelana desde a queda da ditadura de Marcos Pérez Jiménez (1951-1958) até a ascensão do falecido ex-presidente Hugo Chávez (1999-2013).
Luis Ratti, um empresário que se autodenomina antichavista mas é ferozmente contra a oposição tradicional, recorreu ao TSJ em março "para solicitar a anulação da cédula da MUD", a Mesa da Unidade Democrática, aliança que resultou na atual Plataforma Unitária. O TSJ não respondeu a esse pedido.
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