No dia 20 de abril, o presidente da Ucrânia assinou um decreto que proíbe jogos de apostas online para soldadosReprodução
Publicado 24/04/2024 09:43
No mês passado, Pavlo Petrychenko, um sargento júnior do Exército ucraniano, alertou o presidente Volodimir Zelensky sobre um grave perigo que ameaçava as suas forças armadas: jogos de cassino e apostas online.

Estes jogos, em ascensão entre os soldados em serviço, levaram muitos deles a perder todo o salário e a endividar-se, alertou. A dependência é tanta que há militares que venderam drones e câmeras térmicas, deixando de lado a própria segurança pela esperança fugaz de enriquecer em poucos cliques.

Exaustos por mais de dois anos de guerra, os soldados, separados das suas famílias e em constante risco, recorrem aos jogos de casino (roleta, pôquer, etc) e às apostas para uma fuga e um aumento de dopamina, segundo militares que defendem o controle estrito dos jogos.

"Para muitos, jogar com dinheiro tornou-se a única forma de administrar o estresse" disse Petrychenko, apelando à sua proibição para os soldados.

A petição desse sargento recebeu 26 mil assinaturas em poucos dias, o suficiente para que o presidente desse uma resposta formal.

No dia 20 de abril, Zelensky assinou um decreto que proíbe jogos de apostas online para soldados, limita a publicidade, prevê uma campanha de conscientização sobre essa dependência e bloqueia sites ilegais.

'Perdeu tudo'
Publicidade
Petrychenko fez o alerta, mas não conseguiu ver os resultados. Ele morreu no front, na região de Donetsk, cinco dias antes da assinatura do decreto presidencial. Sua petição, no entanto, gerou um debate nacional sobre o assunto.
O legislador Oleksiy Goncharenko afirma que de cada 10 soldados que lutam no front, nove são viciados em jogos de azar. "É um problema que destrói o moral das tropas neste momento", acrescenta no Telegram.

Para explicar o fenômeno, Zadontsev fala sobre os salários dos militares, cerca de 120 mil hryvnias (3 mil dólares ou 15.486 reais), seis vezes a média nacional. Isso faz com que algumas pessoas "percam a cabeça", acredita ele.

Para Oksana Syvak, vice-ministra responsável pelos ex-combatentes, trata-se acima de tudo do impacto psicológico de uma longa guerra.

"Durante conflitos deste tipo, as pessoas mergulham no álcool, nas drogas, fumam maconha ou (...) abusam do jogo", afirma.

"É uma consequência da guerra", acrescenta. "O jogo é uma forma de fuga da realidade, uma reação secundária a um trauma grave".
Leia mais