Publicado 26/04/2024 17:43
"Fuck you!", grita um jovem sudanês, desesperado para ir para o Reino Unido, a um policial que acaba de cravar uma faca em seu bote inflável motorizado em uma praia do norte da França, onde as autoridades tentam evitar que migrantes cruzem o Canal da Mancha.
Uma equipe da AFP acompanhou uma operação policial na praia de Gravelines. As condições são perfeitas para atravessar o canal que une a França ao Reino Unido: o mar e o vento estão tranquilos, uma oportunidade que muitos migrantes não querem deixar passar.
Antes das 7h, um grupo de 30 migrantes sai de surpresa de um pequeno bosque à beira da praia e se lança em uma corrida desenfreada até a água.
A nova lei britânica que autoriza o governo a deportar para Ruanda os solicitantes de asilo que entram ilegalmente no país, aprovada esta semana, parece não estar entre as suas preocupações. Assim como os cinco migrantes que morreram na terça-feira tentando chegar ao Reino Unido partindo de outra praia francesa.
Em cima de quadriciclos, os policiais os perseguem e disparam gás lacrimogêneo, mas os migrantes não param.
Um "taxiboat" os aguarda a cerca de dez metros da costa. Essas pequenas embarcações esperam a certa distância das praias para recolher os migrantes, que precisam nadar até elas. Dessa forma, os contrabandistas evitam a polícia, que é proibida de intervir no mar.
Operação de resgate
PublicidadeUma equipe da AFP acompanhou uma operação policial na praia de Gravelines. As condições são perfeitas para atravessar o canal que une a França ao Reino Unido: o mar e o vento estão tranquilos, uma oportunidade que muitos migrantes não querem deixar passar.
Antes das 7h, um grupo de 30 migrantes sai de surpresa de um pequeno bosque à beira da praia e se lança em uma corrida desenfreada até a água.
A nova lei britânica que autoriza o governo a deportar para Ruanda os solicitantes de asilo que entram ilegalmente no país, aprovada esta semana, parece não estar entre as suas preocupações. Assim como os cinco migrantes que morreram na terça-feira tentando chegar ao Reino Unido partindo de outra praia francesa.
Em cima de quadriciclos, os policiais os perseguem e disparam gás lacrimogêneo, mas os migrantes não param.
Um "taxiboat" os aguarda a cerca de dez metros da costa. Essas pequenas embarcações esperam a certa distância das praias para recolher os migrantes, que precisam nadar até elas. Dessa forma, os contrabandistas evitam a polícia, que é proibida de intervir no mar.
Operação de resgate
Enquanto correm, alguns são atingidos por gás de pimenta da polícia. Uma mulher de cerca de 40 anos esconde o rosto com um lenço, sem parar de correr.
Do mesmo modo que seus companheiros, salta na água e nada até o bote. Suas roupas grossas, imprescindíveis para as longas horas de travessia, dificultam a tarefa.
A mulher acaba se rendendo. A embarcação sobrecarregada, empurrada pelas ondas até a costa, ficou presa perto dos policiais.
A bordo, alguns gritam, outros imploram à polícia que não intervenha. Um agente se aproxima. À sua frente, um sudanês de cerca de 20 anos se levanta, arranca o colete salva-vidas com raiva e desaba desesperado.
O policial, com água até os joelhos, crava sua faca no bote e dá um passo atrás enquanto o jovem, à beira das lágrimas, xinga incansavelmente em inglês: "Fuck you, fuck you!"
"É uma operação de resgate", alega o agente na frente da embarcação, cujo motor não funciona corretamente, e que, segundo ele, nunca teria chegado a seu destino.
Os migrantes dão meia volta e retornam ao bosque, exceto pelo jovem sudanês que fica próximo ao bote desinflado.
Segunda chance
Alguns minutos mais tarde, aparece outro grupo de várias dezenas de migrantes. Quando seu "taxiboat" chega perto da costa, tentam fugir dos policiais.
O sudanês decide correr até o novo bote, disposto a aproveitar essa segunda oportunidade. Consegue subir, diferente de outros que foram empurrados para a água para aliviar a embarcação.
Mais nada está no caminho de sua saída. Com mais umas 40 pessoas a bordo, o bote motorizado lentamente se afasta da costa francesa.
Mais de 6 mil migrantes realizaram a travessia clandestina em embarcações improvisadas desde o início do ano, o que representa um aumento de mais de 20% em um ano.
Duas mulheres, com água até a metade das coxas, assistem impotentes enquanto seu sonho vai embora.
De volta à praia, uma delas desmaia. "Mexa-se se me ouve", diz a ela em francês um policial. Eles a colocam inconsciente em um quadriciclo e a levam ao posto de primeiros socorros mais próximo.
Meia hora mais tarde, um grupo de curiosos observa o primeiro bote desinflado. O segundo já é um ponto laranja no horizonte, a cor dos coletes de seus ocupantes.
Leia mais
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.