Homem caminha por destroços de bombardeio em Donetsk, UcrâniaAFP
Publicado 26/04/2024 18:40
A Rússia intensifica os bombardeios à rede ferroviária ucraniana para "paralisar" o envio de remessas ocidentais antes de lançar uma nova ofensiva, disse à AFP um funcionário do alto escalão dos serviços de segurança da ex-república soviética nesta sexta-feira (26).
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Na quinta-feira, Moscou bombardeou infraestruturas ferroviárias nos oblasts (províncias) de Donetsk, no leste, Kharkiv, no nordeste, e Cherkasy, no centro do país.

"São manobras típicas antes de uma ofensiva", afirmou a fonte, que falou sob a condição de anonimato. O objetivo é "interromper as entregas, o transporte de carga militar", acrescentou.

Na sexta-feira, o Exército russo reivindicou o bombardeio contra um trem que transportava armas ocidentais na localidade de Udachne, no oblast de Donetsk, bem como "tropas e equipamentos" militares em Balakliya, em Kharkiv.

A Forças Armadas russas não informaram sobre a data dos ataques, mas parecem corresponder aos incidentes de quinta-feira mencionados pelas autoridades ucranianas.

A Rússia multiplicou desde março seus bombardeios contra a infraestrutura ucraniana, que inclui usinas energéticas e a rede ferroviária do país - fundamental para o transporte militar, uma vez que o tráfego aéreo civil ficou paralisado com o início da invasão russa em fevereiro de 2022.

Esses ataques ocorrem no momento em que é anunciada a ajuda militar americana à Ucrânia, após meses de bloqueio no Congresso dos Estados Unidos por rivalidades políticas internas.
'Ataques indiscriminados'
As armas ocidentais fornecidas a Kiev, especialmente as munições de artilharia e defesa antiaérea, são entregues de forma sigilosa através de países vizinhos como a Polônia.

Há "um aumento dos ataques contra a infraestrutura ferroviária", alertou na quinta-feira Olesksandr Pertsovsky, diretor-executivo da Ukrzaliznytsia, a companhia ferroviária ucraniana.

"Estamos vendo que os ataques são dirigidos à logística ferroviária e afetam principalmente locais civis", declarou, acrescentando que "estão sendo realizados ataques indiscriminados contra estações ferroviárias, o que é uma forma muito primitiva de fazer as coisas".

As ferrovias ucranianas já haviam sido alvo de bombardeios nos últimos anos, como em Kramatorsk, no leste, onde um ataque russo deixou dezenas de mortos em abril de 2022.

No dia 19 do mesmo mês, um ataque com bombas matou uma funcionária da Ukrzaliznytsia e deixou outros sete feridos no oblast de Dnipro. Uma semana antes, a estação de Sumy, no norte do país, foi atacada.

As forças ucranianas, enfraquecidas por uma contraofensiva mal-sucedida no verão boreal de 2023 e a paralisação da ajuda militar americana, enfrentam uma escassez de efetivos e munições, o que aumentou a pressão em grande parte do front.

"Enquanto esperávamos por uma decisão sobre o apoio americano, o Exército russo conseguiu tomar a iniciativa no campo de batalha", reconheceu o presidente ucraniano Volodimir Zelensky em reunião por videoconferência com dezenas de aliados internacionais.

"Agora ainda podemos não só estabilizar a frente, mas também avançar, alcançando nossos objetivos na guerra", acrescentou, após o presidente americano Joe Biden ter sancionado a lei na quarta-feira, que foi aprovada após seis meses de debates e prevê 61 bilhões de dólares (R$ 321 bilhões na cotação atual) de ajuda militar e econômica a Kiev.

O secretário de Defesa americano, Lloyd Austin, anunciou hoje que já foram liberados 6 bilhões de dólares (R$ 30,7 bilhões) da ajuda total, como forma de recuperar o tempo perdido nas entregas a Kiev.

A Espanha anunciou nesta sexta-feira que enviará à Ucrânia mísseis para sistemas antiaéreos Patriot.

Prenúncio de dias difíceis
O diretor do Serviço Ucraniano de Inteligência (GUR), Kyrylo Budanov, alertou na segunda-feira que a situação no front pioraria em meados de março e junho. Será um "período difícil" para a Ucrânia, insistiu.

Uma análise compartilhada por funcionários de alto escalão ocidentais avalia que os próximos três meses serão "muito difíceis" para Kiev.

No mesmo dia, disparos de artilharia russa mataram duas mulheres no oblast de Sumy, informou o Ministério do Interior da Ucrânia.

Outras três pessoas morreram em bombardeios ucranianos nos oblasts russos de Kursk, Bryansk e na província ucraniana de Luhansk, quase inteiramente ocupada por Moscou, segundo autoridades russas.

Nesta sexta, a Prefeitura de Kiev anunciou a evacuação de dois hospitais da capital ucraniana, incluindo um pediátrico, pelo temor de bombardeios russos, após a divulgação de um vídeo que anunciava "um ataque inimigo contra estas instalações".
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