Presidente Joe BidenAFP
Publicado 15/05/2024 19:04
Os Estados Unidos impuseram nesta quarta-feira (15) uma série de sanções à Nicarágua, a qual acusa de fazer negócios com a migração, e emitiram um alerta para que as companhias aéreas evitem ser cúmplices "na exploração de migrantes".

A menos de seis meses das eleições presidenciais, o presidente Joe Biden tenta enfrentar a crise migratória em todas as frentes e a Nicarágua é uma delas.

Os migrantes atravessam cada vez mais a região e utilizam Manágua como ponto de desembarque para continuar a viagem por terra rumo ao norte.

Essa situação levou o governo Biden a emitir um alerta para notificar as companhias aéreas, voos charter, agentes de viagens e prestadores de serviços sobre as formas como as redes de tráfico humano exploram os serviços de transporte para facilitar a migração irregular.

Em um comunicado, o Departamento de Estado americano acusou o presidente nicaraguense, Daniel Ortega, e sua esposa e vice-presidente, Rosario Murillo, de terem concebido "políticas de imigração permissivas" que facilitaram às redes "explorar migrantes para fins econômicos e encorajar perigosas viagens irregulares para o fronteira sudoeste dos Estados Unidos" com o México.

'Muito cínico'
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Washington publicou uma série de medidas que as companhias aéreas devem tomar para evitar serem cúmplices. Recomenda o monitoramento de rotas de alto risco, denunciem agências de viagens suspeitas, atuem com cautela ao lidar com empresas intermediárias e transmitam informações antecipadas aos passageiros.

O governo Ortega é "muito cínico" ao vender vistos "que exigem que as pessoas saiam dentro de 96 horas", explicou um funcionário dos EUA que pediu anonimato.

"É um regime agressivo que beneficia [...] e facilita o tráfico ilícito de migrantes", acrescentou, especificando que a medida não se destina ao setor turístico.

A Nicarágua está sob sanções dos EUA pela repressão aos protestos de 2018 contra Ortega, no poder desde 2007.

Washington considera a sua reeleição em 2021 fraudulenta e o acusa de uma onda de detenções de opositores, muitos dos quais permanecem na prisão ou foram forçados ao exílio.

A Rússia e o ouro
O Gabinete de Controle de Ativos Estrangeiros (Ofac) sancionou a COMINTSA e a Capital Mining, duas empresas do setor do ouro afiliadas ao governo "que geram rendimentos" para o regime, afirmou o Departamento do Tesouro americano em comunicado.

Também impôs sanções ao Centro de Treinamento do Ministério do Interior russo em Manágua (RTC), que oferece cursos especializados para a Polícia Nacional da Nicarágua (PNN) e para as forças policiais de outros países da América Latina, acrescenta.

Este centro "ajuda a manter o ciclo de opressão" porque o PNN "realiza execuções extrajudiciais, usa munições reais contra protestos pacíficos e até participa em esquadrões da morte", acusa o governo dos EUA, que estima que a Nicarágua é um dos principais parceiros da Rússia na América Central.

Como resultado das sanções, todos os bens e interesses em ativos da empresa sancionada que estejam nos Estados Unidos ou que estejam no poder ou controle dos americanos são bloqueados.

Paralelamente, o Departamento de Estado impôs restrições de vistos a mais de 250 membros do governo, incluindo polícias e paramilitares, agentes penitenciários, procuradores, juízes e funcionários do ensino superior público, bem como agentes não governamentais, por apoiarem o regime de Ortega e Murillo.

Desde novembro de 2021, o governo Biden restringiu a entrada de mais de 1.400 funcionários nicaraguenses.

A relação entre os Estados Unidos e a Nicarágua tem sido especialmente tensa desde as eleições de 2021, que foram realizadas com os rivais políticos do presidente presos ou no exílio.

Desde então, Manágua realizou uma ofensiva contra milhares de ONGs e contra o mundo acadêmico, além de intensificar a perseguição à Igreja Católica.
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