Milei durante o próprio show de rock em Buenos Aires na quarta-feira (22)Luis Robayo / AFP
Publicado 23/05/2024 08:54 | Atualizado 23/05/2024 09:04
Com a voz rouca e jaqueta de couro preta, o presidente argentino Javier Milei se vestiu como um astro do rock na noite de quarta-feira e cantou no lançamento do próprio no ginásio Luna Park em Buenos Aires.
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"Caros, quis fazer isto esto porque queria cantar", disse antes de apresentar sua versão de "Panic show" do trio de rock argentino La Renga. Em seguida, o presidente economista deu uma longa aula de Economia com base em seu 13º livro "Capitalismo, socialismo y la trampa neoclásica" (Capitalismo, socialismo e a armadilha neoclássica).
Em seu discurso, criticou o socialismo, defendeu os monopólios, negou a existência de falhas de mercado e disse que o aborto corresponde a um "mecanismo para massacrar de populações". No decorrer do evento, boa parte dos quase 10 mil espectadores foram saindo, até que metade do espaço ficou vazio.
"Estou aqui para apoiar Javier em tudo o que ele faz. Gosto das ideias dele, gosto do que ele faz, ele é sincero, é transparente, diz o que pensa", disse Santiago Roldán, de 20 anos, funcionário de um supermercado.

Ritual libertário
O evento teve uma identidade semelhante aos que Milei realiza desde seu início na política em 2021: ele os chama de "shows" e costuma abrir cantando, evocando sua juventude, quando liderava uma banda cover de The Rolling Stones.

O analista político Carlos Fara disse à AFP que Milei costuma "fazer show" e ressaltou que "sempre alimentará a polarização".

"Há uma lógica de campanha permanente. A comunicação no governo é a mesma comunicação na campanha", estimou.

No dia do lançamento do livro, o dólar paralelo atingiu um novo recorde nominal de 1.280 pesos em um economia colapsada, com metade da população na pobreza e preços 290% mais altos do que no ano passado.

Em um contexto de tensão diplomática com a Espanha, que retirou sua embaixadora em Buenos Aires, participantes gritaram contra o primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez, embora Milei tenha se concentrado apenas em suas lições de teoria macroeconômica.

'Ato privado'
O lançamento do livro, originalmente marcado para 12 de maio na Feira do Livro de Buenos Aires, foi adiado após divergências entre o governo e a organização do tradicional evento.

No início da fala, Milei agradeceu "à feira do livro que, com sua tentativa de boicote, nos deu essa festa". Seu porta-voz, Manuel Adorni, afirmou horas antes que seria "um ato privado financiado por fundos e patrimônio pessoais do presidente".

No encerramento do show, após uma conversa entre o presidente, seu porta-voz e o deputado José Luis Espert, Milei se despediu chamando a uma "batalha cultural" porque "senão os esquerdistas vão conquistar espaço".

Milei se despedia ao som de "Se viene el estallido" (A explosão está chegando), símbolo do rock de protesto dos anos 1990 que Milei usou na campanha e diz: "Se viene el estallido, de mi guitarra, de tu gobierno también" (A explosão vem, da minha guitarra, do seu governo também).

Para Fara, manter a lógica da campanha na presidência pode ser um "erro conceitual". "Quando está tudo bem, essas coisas parecem engraçadas para as pessoas. O problema é que quando os resultados não são verificados na realidade, chega um hora em que todas as balas acertam de uma só vez".
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