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Publicado 24/06/2024 18:48
A América Latina e o Caribe se concentram em combater a exploração sexual em detrimento do trabalho forçado, afirmam os Estados Unidos em seu relatório anual sobre tráfico de pessoas apresentado nesta segunda-feira (24), no qual Cuba, Venezuela e Nicarágua continuam sendo as piores colocadas.

Os migrantes e solicitantes de asilo "são especialmente vulneráveis ao tráfico para fins sexuais e ao trabalho forçado" quando não conseguem pagar aos traficantes as dívidas contraídas, alerta.

Em geral, os países das Américas "têm um bom conhecimento do tráfico para fins sexuais e respondem a ele", especialmente aquele que afeta as mulheres, mas "os fracos esforços direcionados a combater o trabalho forçado" causam preocupação, afirma.

As inspeções trabalhistas "têm autoridade limitada ou nula para inspecionar os locais de trabalho do setor informal", especialmente ao longo de rotas migratórias, aponta.

Isso deixa as vítimas desprotegidas em setores como a agricultura, a mineração, a exploração madeireira, o transporte marítimo e os serviços, detalha.

O relatório abrange 188 países e os divide em três níveis com base no grau de cumprimento dos padrões mínimos. Os Estados que integram o "nível 3" da lista podem estar sujeitos a restrições no acesso a programas de ajuda estrangeira dos Estados Unidos.

Washington segue incluindo nele Venezuela, Nicarágua e Cuba, com cujos governos mantém uma relação muito tensa.

O relatório dedica uma seção ao "trabalho forçado" no programa de exportação de mão de obra de Cuba.

'Leis coercitivas'
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Todos os anos, o governo cubano envia dezenas de milhares de trabalhadores, principalmente profissionais da saúde, mas também professores, artistas, atletas, treinadores, engenheiros, técnicos florestais e quase 7 mil marinheiros mercantes para o mundo inteiro, destaca o relatório.

O governo do presidente Joe Biden condena as práticas de recrutamento e afirma que Cuba submete todos esses trabalhadores "às mesmas leis coercitivas".

Havana classifica os trabalhadores que abandonam o programa sem concluí-lo como "desertores" e indesejáveis - o que os impede de retornar a Cuba por oito anos - e considera que aqueles que não retornam em 24 meses "emigraram", perdendo assim seus direitos.

Washington alerta sobre os perigos para o sistema de saúde do país anfitrião. "Os sobreviventes do programa informaram que o diretor da missão cubana no país os obrigou a falsificar registros médicos e deturpar informações críticas", diz o relatório.

E pede aos governos que utilizam os programas cubanos que "pelo menos" realizem "inspeções trabalhistas frequentes e sem aviso prévio".

Na lista também estão, entre outros, China, Irã, Coreia do Norte, Rússia, Afeganistão e Síria.

Cindy Dyer, à frente do Escritório do Departamento de Vigilância e Combate ao Tráfico de Pessoas, afirmou em uma coletiva de imprensa que as autoridades russas ou suas forças afiliadas "utilizaram a coerção, o engano e, em alguns casos, a força para recrutar cidadãos estrangeiros, em particular migrantes da Ásia Central e do Sul, bem como cidadãos de Cuba e Síria, para lutar na guerra" na Ucrânia.

O relatório de 2024 também examina "o papel cada vez maior da tecnologia digital no tráfico", afirmou o chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Antony Blinken, durante a apresentação.

"As redes de tráfico apontam e recrutam vítimas online através das redes sociais", realizam "transações financeiras em criptomoedas opacas" e "usam criptografia para dificultar a detecção de suas atividades ou determinar os países em que operam", enumerou Blinken.

Dez heróis
Neste ano, o governo dos Estados Unidos homenageia dez "heróis" da luta contra o tráfico de pessoas, entre eles três hispânicos.

Uma delas é Maria Werlau, cofundadora e diretora do Free Society Project, conhecido como Arquivo Cuba, um grupo de reflexão que defende os direitos humanos por meio da informação.

Também premia a advogada boliviana Marcela Martínez por seu trabalho "fundamental" na proteção dos sobreviventes de tráfico e na prevenção das vítimas.

A espanhola Rosa Cendón foi homenageada por estar "à vanguarda" dos esforços contra o tráfico na Catalunha e por seu trabalho no auge da crise migratória europeia.
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